O primeiro debate presidencial americano de 2024 transformou a disputa à Casa Branca, colocou fim às aspirações de reeleição do presidente Joe Biden e, talvez, alterou para sempre o rumo do país.
Com tantos pontos em risco no debate do próximo mês – que será a primeira vez que o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris se encontrarão frente a frente – o planejamento para o confronto já começou.
Kamala realizou sua primeira sessão formal de treinamento de debate no início desta semana na Howard University, faculdade historicamente negra em Washington, DC, que ela frequentou há quase quatro décadas, e está trabalhando em estreita colaboração com um substituto experiente de Trump. Trump, por sua vez, recrutou uma ex-rival da vice-presidente para ajudar nos preparativos: Tulsi Gabbard, a antiga representante do Havaí que concorreu à presidência como democrata em 2020, em um cenário concorrido que também incluía Kamala Harris.
Depois de muitas idas e vindas, Trump e Kamala concordaram na semana passada com o debate de 10 de setembro previamente organizado pelas campanhas de Trump e Biden. A ABC News, a rede anfitriã, anunciou na sexta-feira (16) que será realizado no National Constitution Center, na Filadélfia.
O cenário político nos Estados Unidos e a realidade dos dois principais partidos do país mudaram drasticamente nas semanas após o primeiro debate presidencial entre Trump e Biden, em 27 de junho. O fraco desempenho do atual presidente naquela noite abalou a confiança do seu partido e dos seus doadores, que por sua vez exerceram imensa pressão sobre Biden para que ele abandonasse a disputa. Ele oficializou a desistência em 21 de julho e apoiou Kamala Harris, em um ato visto como completamente necessário ao Partido Democrata.
As pesquisas estaduais e nacionais mostram uma disputa que se acirrou rapidamente em meio ao crescente entusiasmo por Kamala dentro de seu próprio partido e à nova consideração dos eleitores antes desanimados por uma revanche entre Biden e Trump.
Trump tem lutado para lidar com uma realidade que ele mesmo acredita ter concretizado ao derrotar Biden no debate de junho.
“Eu deveria ter sido um pouco mais fácil”, disse Trump em entrevista coletiva na quinta-feira (15). “Alguém disse: ‘Seu desempenho no debate foi horrível’. Eu perguntei: ‘Por quê?’. ‘Porque você o forçou a sair do governo””.
A corrida para preparar Kamala Harris, que não sobe em um palco de debate desde que enfrentou o ex-companheiro de chapa de Trump, Mike Pence, em 2020, está em andamento e se intensificará após a Convenção Nacional Democrata nesta semana, em Chicago.
Uma equipe de conselheiros democratas juntou-se a Kamala em Howard no início desta semana, incluindo Philippe Reines, um assessor de longa data de Hillary Clinton, que está fazendo o papel de Trump a pedido da campanha democrata, segundo o que pessoas familiarizadas com o planejamento disseram à CNN.
Karen Dunn, outra conselheira de longa data de Clinton que ajudou Kamala a se preparar para o debate vice-presidencial de 2020, também está participando da preparação, também de acordo com pessoas familiarizadas com o planejamento. Os ex-assessores de Harris Rohini Kosoglu e Sean Clegg também estão envolvidos, de acordo com uma pessoa familiarizada com a preparação.
Trump reviveu a abordagem implementada antes do seu debate de junho com Biden, participando em sessões políticas menos formais com assessores próximos, conselheiros e aliados entre aparições de campanha e partidas de golfe.
O envolvimento de Gabbard, relatado pela primeira vez na sexta-feira (16) pelo New York Times, foi confirmado à CNN pela porta-voz da campanha de Trump, Karoline Leavitt. Gabbard, que deixou o Partido Democrata em 2022, encontrou um lar na órbita de Trump e foi considerada, mesmo que por um breve período, uma potencial companheira de chapa.
O interesse de Trump em Gabbard enquanto ele se prepara para enfrentar Kamala no próximo mês decorre em parte das notáveis trocas que a ex-congressista teve com a vice-presidente durante a disputa de 2020. Kamala, em um debate, criticou Gabbard pelas suas opiniões sobre política externa, enquanto Gabbard, em um outro debate, questionou o histórico de Kamala na Justiça Criminal.
Vista praticamente como irrelevante durante sua participação nas primárias democratas de 2019, o ataque de Gabbard ao histórico de Kamala como promotora pode ter sido seu maior impacto direto na corrida. Dada a atenção ao seu histórico de procuradora-geral na época, Kamala havia se preparado para o ataque. Eles admitiram depois que ficaram chocados com o quanto Gabbard foi capaz de abalar Kamala, e mais tarde disseram que isso ajudou a prender Kamala em uma crise da qual sua campanha nunca se recuperou.
Enquanto se preparava para enfrentar Biden, Trump convidou vários dos republicanos que considerava seus companheiros de chapa para discutir questões e possíveis pontos de discussão. Gabbard agora se junta a esse time.
O ex-presidente “não precisa da preparação tradicional para o debate, mas continuará a reunir-se com conselheiros políticos respeitados e comunicadores eficazes como Tulsi Gabbard, que dominou com sucesso Kamala Harris no palco do debate”, disse Leavitt.
Trump pediu por debates adicionais e concordou com outros dois com a Fox News e a NBC. Seu companheiro de chapa, o senador de Ohio JD Vance, e o escolhido para vice-presidente de Kamala Harris, o governador de Minnesota, Tim Walz, concordaram com um debate em 1º de outubro organizado pela CBS News. Tal como Trump, Vance apelou a Walz para que concordasse com mais, defendendo “o máximo de debates possível”.
Um conselheiro sênior de campanha disse que Kamala está aberta a um segundo debate, mas os detalhes não serão discutidos até que o primeiro debate ocorra.
Publicamente, porém, a campanha disse o contrário. Em comunicado divulgado na quinta-feira (15), o porta-voz da campanha de Kamala Harris, Michael Tyler, disse: “O debate sobre os debates acabou”.
Kit Maher, da CNN, contribuiu com esta matéria.
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