Deparar-se com um tatu-canastra já é difícil, mas encontrar dois animais da espécie a luz do dia e, ainda por cima, copulando, é algo raríssimo. Pois é exatamente o que mostra vídeo que circula nas redes sociais. O registro ganha contornos ainda mais inusitados quando levados em conta outros aspectos curiosos do acasalamento da espécie, que corre o risco de desaparecer do Pantanal. Assista.
O vídeo
O vídeo, sem autoria definida, circula nas redes sociais desde meados de maio de 2023. Quem também compartilhou o registro foi o Projeto Tatu-Canastra, que atua na preservação da espécie desde 2010, mas nunca havia conseguido um flagrante desse tipo.
Embora o local exato do vídeo não tenha sido confirmado, o flagrante ajudou os pesquisadores do projeto a comprovarem duas hipóteses que já estavam sendo estudadas sobre a espécie.
- Como mostra o vídeo, o tatu-canastra tem um dos maiores pênis entre os mamíferos terrestres. Um adulto tem, em média, 30 cm, o que é essencial para que o macho consiga “alcançar” a fêmea.
- Machos e fêmeas de tatu-canastra têm medidas corporais muito parecidas. No entanto, os machos possuem pernas traseiras mais longas, justamente para conseguir copular com a fêmea.
O acasalamento
O tatu-canastra tem características reprodutivas muito específicas que tornam a espécie ainda mais fascinante. O animal demora para atingir a maturidade sexual: as fêmeas só copulam a partir dos 7 a 9 anos de idade e conseguem gerar apenas um filhote a cada três anos, após uma gestação de 5 meses.
Vale lembrar que, desde o início do monitoramento da espécie no Pantanal, em 2010, foram encontrados apenas 44 exemplares no bioma. Atualmente, os pesquisadores monitoram 7 animais. A espécie está ameaçada de extinção principalmente devido à perda do seu hábitat natural.
“Essas particularidades tornam a espécie extremamente vulnerável a ameaças como perda de habitat e grandes incêndios florestais. Compreender a biologia e o comportamento reprodutivo do tatu-canastra é essencial para implementar estratégias de conservação eficazes”.
Gabriel Massocato, biólogo e coordenador do projeto Tatu-canastra no Pantanal.
Stacy e o filhote
Em agosto deste ano, os pesquisadores tiveram uma grata surpresa: a tatu-canastra Stacy, encontrada pela primeira vez em novembro de 2021, deu à luz um filhote. Aquele foi o quarto registro de nascimento da espécie em 13 anos de pesquisa.
No entanto, após oito noites sem registros do filhote nas armadilhas fotográficas, a equipe constatou que o filhote havia sido predado. Assista a um dos poucos flagrantes do animal com o filhote, abaixo.
Stacy atualmente vive em uma nova toca, localizada a mais de 2 km do local onde habitava com seu filhote, e segue como símbolo da resiliência da espécie. Estima-se que, na região do Pantanal da Nicolândia e Baía das Pedras, há cerca de 7 a 8 indivíduos de tatu-canastra a cada 100 km².
“Compreender a biologia e o comportamento reprodutivo do tatu-canastra é essencial para implementar estratégias de conservação eficazes. O projeto não só amplia o conhecimento científico sobre a espécie, mas também orienta ações que ajudam a garantir sua sobrevivência a longo prazo, contribuindo diretamente para a preservação da biodiversidade do Pantanal”.
Gabriel Massocato, biólogo e coordenador do projeto Tatu-canastra no Pantanal.
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