O chefe da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW) disse nesta quinta-feira (12) que vai pedir aos novos líderes da Síria que investigadores tenham acesso ao país para continuar o trabalho de identificação dos responsáveis por ataques que mataram e feriram milhares durante a guerra civil.
Discursando em uma sessão especial da organização, Fernando Arias afirmou que seu gabinete tinha visto sinais positivos da Síria sobre a necessidade de livrar o país de armas químicas, mas nenhuma solicitação formal havia sido recebida.
O conselho executivo de 41 membros da OPCW se reuniu em Haia para discutir os próximos passos após a queda repentina do regime de Bashar al-Assad.
Falando antes da reunião, a embaixadora dos Estados Unidos na OPCW, Nicole Shampaine, pontuou que seu governo vê a queda de Assad como uma chance extraordinária de livrar a Síria de armas químicas.
“Queremos terminar o trabalho e é realmente uma oportunidade para a nova liderança da Síria trabalhar com a comunidade internacional, trabalhar com a OPCW para fazer o trabalho de uma vez por todas”, destacou Shampaine.
Arias ressltou que o cenário político na Síria oferece uma oportunidade para a organização finalmente obter esclarecimentos sobre a extensão e o escopo completos do programa de armas químicas da Síria após 11 anos de inspeções.
Alertando sobre os riscos de proliferação desse armamento, ele comentou que “as vítimas merecem que os perpetradores que identificamos sejam levados à Justiça” após o uso dos dispositivos durante a guerra civil de 13 anos.
Ele buscará acesso à Equipe de Investigação e Identificação da OPCW. Essa unidade e um mecanismo conjunto ONU-OPCW já disseram que forças armadas da Síria usaram armas químicas nove vezes entre 2015 e 2017.
Os responsáveis de muitos ataques permanecem não identificados.
Órgão quer evitar uso de armas químicas na Síria
A Síria se juntou à Organização para a Proibição de Armas Químicas em 2013 sob um acordo entre EUA e Rússia, sendo que 1.300 toneladas métricas de armas químicas e precursores foram destruídas pela comunidade internacional.
Mas, depois de mais de uma década de inspeções, a Síria ainda possui munições proibidas.
O regime Assad e a aliada Rússia sempre negaram o uso de armas químicas na guerra civil.
Com a Síria ainda em desordem e com grupos armados ao redor do país destruído, a OPCW estará preocupada em agir rapidamente para evitar que quaisquer armas químicas sejam usadas.
Indo ao encontro dessas preocupações, o embaixador da Alemanha na OPCW, Thomas Schieb, disse: “Depósitos e instalações relevantes precisam ser identificados, protegidos e abertos para inspeção pela OPCW”.
“Nós julgaremos as novas autoridades sírias por suas ações. Agora é a oportunidade de finalmente e verificavelmente destruir os restos do programa de armas químicas de Assad…”, concluiu.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Quem é a família de Bashar al-Assad, que governou a Síria por mais de meio século