O CRM-MT (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso) intensificou as ações contra o vereador de Várzea Grande, Kleberton Feitoza Eustáquio (PSB), após o parlamentar invadir um consultório médico e criticar uma médica durante o trabalho.
Além de ingressar com uma representação pedindo a cassação do mandato do vereador por quebra de decoro, o CRM-MT também anunciou que moverá um processo judicial contra o parlamentar.
O incidente ocorreu no dia 6 de março, quando o vereador invadiu, sem autorização, a sala de descanso e o consultório de uma unidade de saúde, filmou a médica e divulgou seu nome em suas redes sociais, acusando-a de negligência no trabalho.
A médica, que estava em plantão desde as 7h, relatou que se trancou no banheiro para evitar ser filmada, mas mesmo assim foi perseguida pelo vereador, que invadiu o consultório enquanto ela atendia pacientes.
“Extremamente grosseiro, extremamente arrogante, extremamente petulante, em nenhum momento nunca perguntou nada. A todo momento afirmando que eu não estava na instituição. Tiveram alguns pacientes que ainda falaram assim: vereador, essa foi a única médica que atendeu a tarde inteira”, contou a médica ao Primeira Página.
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O comportamento do parlamentar causou transtornos psicológicos à profissional, que, após o episódio, pediu demissão do emprego.
Diogo Sampaio, presidente do CRM-MT, classificou a situação como “absurda” e afirmou que o conselho não tolerará esse tipo de intimidação. Ele destacou que, embora os vereadores tenham a função de fiscalizar, há limites para essa atuação.

“É inadmissível que qualquer pessoa invada uma área restrita, como são a sala de descanso e o consultório, e use de uma câmera para intimidar uma profissional que estava cumprindo suas obrigações”, disse Sampaio.
Além da ação por quebra de decoro, o CRM-MT buscará na Justiça uma medida para proibir o vereador de ingressar de forma violenta em áreas privativas da Medicina. Em caso de descumprimento, o parlamentar poderá ser multado diariamente. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) já obteve uma decisão semelhante em casos análogos.
Sampaio também ressaltou que o caso não é isolado. Um levantamento recente do Conselho Federal de Medicina (CFM) apontou que, em 2022, foram registrados 38 mil boletins de ocorrência envolvendo médicos vítimas de ameaças, injúrias, desacatos, lesões corporais e difamação dentro de unidades de saúde.
“Este comportamento truculento por parte do vereador não ficará impune. Ele pode ter certeza de que iremos até as últimas consequências”, afirmou o presidente do CRM-MT.
A médica, que preferiu não ter seu nome divulgado, relatou que o episódio a afetou profundamente, prejudicando seu sono e sua capacidade de exercer suas atividades cotidianas. “Conseguir o meu CRM custou muito caro para ser tratada dessa forma no momento de exercer a minha profissão”, desabafou.
O caso já foi registrado em boletim de ocorrência, e o CRM-MT aguarda que a Câmara Municipal de Várzea Grande e o Poder Judiciário tomem as providências necessárias para coibir esse tipo de conduta.
O Conselho espera que a cassação do mandato do vereador e as medidas judiciais sirvam de exemplo para evitar que situações semelhantes se repitam.
O vereador ainda não se manifestou sobre o ocorrido.
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