Nando, o maior serial killer de Mato Grosso do Sul


Nesse mesmo mês do ano 2020, chegava ao fim a série de 15 julgamentos de Luiz Alves Martins Filho, ou Nando, o homem conhecido por assassinar suas vítimas e enterrá-las em um cemitério clandestino na região do Jardim Veraneio, em Campo Grande.

Máquina trabalha no jardim Veraneio (Foto: Domingos Lacerda/TV Morena)

Se você morava em Mato Grosso do Sul nessa época, de alguma maneira, ouviu algo sobre o maior serial killer do nosso estado. As sentenças contra ele somaram mais de 175 anos, mas ainda hoje, a Justiça lida com processos cujo nome de Nando é citado, por crimes muito menores, é claro.

Recentemente, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) confirmou uma condenação de Nando, a um ano de detenção e 50 dias-multa, por dano a uma viatura policial durante um surto no mesmo ano em que foi sentenciado pela última vez no Tribunal do Júri (logo vamos falar disso de novo).

Essa “atualização” me trouxe de volta à memória o caso Nando, um dos personagens mais emblemáticos do mundo criminal de Campo Grande, e por isso, a Coluna de hoje te convida a conhecer melhor a história dele pelo ângulo dos bastidores.

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Ossada encontrada pela Polícia Civil (Foto: Polícia Civil/ Divulgação)
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Era novembro de 2016 quando as redações da capital receberam a informação de que a Polícia Civil fazia escavações em uma área de mata no Jardim Veraneio. A ação era parte das buscas por moradores desaparecidos do bairro Danúbio Azul, vítimas que por muito tempo ficaram esquecidas.

O motivo era apenas um: todas viviam a vulnerabilidade social do vício ou da pobreza. Eram pessoas, muitas vezes, acusadas de pequenos crimes na região.

A primeira ossada foi encontrada em 17 de novembro de 2016. A última foi mais de um mês depois. Enquanto a polícia tentava desenterrar vítimas de Nando, Mato Grosso do Sul conhecia os detalhes sobre a vida do maior assassino em série que o estado já viu.

Ouvi toda ela da boca de Nando, muitas vezes, isso porque já na fase judicial, ele repetia as violências que havia sofrido ao longo dos anos sempre que tinha chance de falar. Na Justiça, ele também se dizia inocente e culpava um outro personagem, conhecido como Vasco; a quem a polícia nunca conseguiu de fato responsabilizar.

Mas em 2016, quando corpos e mais corpos eram desenterrados do cemitério clandestino, Nando era uma pessoa diferente: era solícito à polícia, conversava sem problemas, passava a tarde apontando aos investigadores o exato local onde havia enterrado as vítimas e falava com a imprensa, de um jeito bem fácil, aliás, ainda lembro de acompanhar as buscas e ver ele gritar, simpático, para os colegas da TV filmarem ele.

Era uma rotina exaustiva, mas Nando parecia gostar do destaque que recebia.

Outros foram presos também. Se descobriu que Nando não matava sozinho. Dos 15 assassinatos que confessou, todos foram cometidos com ajuda de, pelo menos, duas pessoas. Esse é um ponto interessante. Quem olhava o serial killer na época (e acho que ainda hoje) não o descreveria como uma pessoa influente.

Mas ele tinha ajuda e muitas vezes ensina a matar. Como fazia isso era outra característica. A maioria das vítimas foi morta asfixiada – com uma correia de máquina de lavar, ou com um mata-leão – e depois, enterradas de cabeça para baixo em covas estreitas e fundas, assim era mais fácil de virar os corpos ali, assim contaram na época.

Ao fim de mais de um mês de busca, dez corpos foram encontrados, mas 15 casos atribuídos ao “grupo de extermínio” de Nando.

Toda a clareza, no entanto, sumiu quando os casos foram para a justiça. Os crimes foram julgados separadamente e, por isso, as muitas audiências e os muitos julgamentos: quase todos ficaram sob a responsabilidade da 2ª Vara do Tribunal do Júri.

Foi durante todo esse processo judicial que, talvez, a instabilidade de Nando ficou mais evidente.

Quando ele era questionado sobre os crimes, não respondia, lamentava a própria história de vida. Contava que no passado havia sido preso injustamente e na cadeia, agredido e violentado ao ponto de precisar de sonda para urinar o resto da vida.

Esse jeito de trazer o foco para ele foi um dos pontos que contribuiu para o diagnóstico de psicopatia grave de Nando. O laudo psicológico foi emitido em 2018 e determinou que ele sofria de perturbação mental, que não carregava traumas da infância, não sofria alucinações ou delírios, mas tinha dificuldade em manter o controle, por isso, deveria ser afastado da sociedade.

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Nando durante julgamento (Foto: TJMS/Reprodução)

Talvez, esse laudo tenha contribuído para tantas condenações, mas o próprio Nando ajudou nesse diagnóstico. Os júris com ele se tornaram “grandes espetáculos de horror”. O serial killer chorava alto, gritava sua inocência, batia nas celas. Berrava, mesmo quando estava em uma sala separada, enquanto testemunhas falavam.

Eram julgamentos tensos, em que sempre se esperava algo. Um deles precisou ser interrompido depois que o promotor do caso, Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, desmaiou no plenário.

Antes de cair, falou: não vou aguentar. Precisou ser socorrido de ambulância. Na época, soubemos que o mal-estar foi consequência da tensão do caso, era sempre assim.

Não era fácil estar na presença de Nando.

O caso que levou à última condenação – aquele do começo do texto, de um ano de detenção no regime semiaberto – foi fruto de um surto. Ele foi levado do IPCG (Instituto Penal de Campo Grande) para o Hospital Universitário para trocar a sonda, mas antes de ser atendido, teve uma crise de fúria, arremessou cadeiras da recepção contra a parede. Foi contido e, ao ser colocado dentro da viatura, chutou as grades de contenção e arrancou o forro de revestimento da viatura, um prejuízo de R$ 2 mil.

A longa ficha criminal e o comportamento explosivo ajudaram a somar à pena já bem alta, mais um ano de detenção.

No caso de Nando, no entanto, não há muito para onde ir. Contra ele pesa o estigma de precisar ser “mantido afastado da sociedade” e, assim como outro serial killer bem conhecido de Mato Grosso do Sul, o Maníaco da Cruz, está sentenciado a passar o resto da vida atrás das grades, para que o mundo não volte a ver sua violência.



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