Polícia e manifestantes entram em confronto na Geórgia pelo segundo dia

CNN Brasil


A polícia usou canhões de água, gás lacrimogêneo e spray de pimenta para confrontar milhares de manifestantes pró-Europa que ergueram barricadas no centro de Tbilisi, na Geórgia, no sábado (30), no horário local,  após o partido governante do país anunciar que iria suspender as negociações de adesão à União Europeia até 2028.

A adesão à União Europeia é amplamente popular na Geórgia, de acordo com pesquisas de opinião, e a decisão de suspender as negociações gerou protestos em massa na quinta-feira (28), quando milhares se reuniram em frente ao edifício do parlamento em Tbilisi, sendo dispersos pela polícia de choque com uso de canhões de água e gás.

Manifestantes, carregando bandeiras da Geórgia e da União Europeia, avançaram em direção ao edifício do parlamento, construído durante a era soviética, e lançaram fogos de artifício contra os policiais. A polícia os forçou a se afastar do parlamento e a se deslocar pela Avenida Rustaveli em direção à casa de ópera.

Ainda em grande número, os manifestantes pegaram qualquer objeto disponível e se posicionaram em barricadas improvisadas, mantendo um confronto com a polícia até bem depois da meia-noite.

“Estaremos aqui todas as noites até que eles se cansem”, disse Nika Gvaramia, líder do maior partido de oposição da Geórgia, a Coalizão por Mudança, enquanto aquecia as mãos ao redor de uma fogueira.

“Este é o nosso país, só temos um, vamos lutar pela Europa.”

Elene Khoshtaria, outra líder da coalizão, estava usando uma tipoia após ter fraturado a mão durante o protesto de quinta-feira.

“Não vamos ceder, não vamos desistir”, disse ela. “Mas acho que a comunidade internacional deveria pensar em como apoiar as pessoas que realmente acreditam nos valores europeus.”

Centenas de funcionários dos ministérios de Relações Exteriores, Defesa, Educação e Justiça do país assinaram na sexta-feira (29) cartas abertas denunciando o congelamento das negociações como inconstitucional.

Uma série de universidades privadas anunciou a suspensão das aulas em meio aos distúrbios, enquanto grupos empresariais pediram ao governo que reavaliasse sua posição.

O partido governante “Sonho Georgiano”, que obteve quase 54% dos votos nas eleições de outubro, que os partidos de oposição alegam ter sido manipuladas, anunciou na quinta-feira que estava congelando as negociações de adesão devido ao que chamou de “chantagem” da União Europeia com a Geórgia.

Relacionamento com a União Europeia se deteriora

A decisão marca o ápice de meses de deterioração nas relações entre a Geórgia e o Ocidente, que acusaram o governo de Tbilisi de inclinações autoritárias e pró-russas.

O Sonho Georgiano aprovou neste ano leis contra os chamados “agentes estrangeiros” e os direitos LGBT, que críticos afirmam ser draconianas em sua natureza e com inspiração russa.

O partido, amplamente visto como controlado por seu fundador, o bilionário e ex-primeiro-ministro Bidzina Ivanishvili, afirma que seu objetivo é, eventualmente, ingressar na União Europeia, e que as leis que aprovou são necessárias para defender os valores tradicionais da Geórgia.

O embaixador da União Europeia na Geórgia descreveu a postura do Sonho Georgiano como “de partir o coração” na sexta-feira e condenou a repressão contra os manifestantes.



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