Nesta terça-feira (15), o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) fiscalizou o atrativo de Bonito onde banhistas foram mordidos por peixes no mês passado. Por meio de mergulho e até com o uso de um drone, os pesquisadores mapearam a lagoa da Praia da Figueira para tentar identificar quais espécies podem ter causado os ataques.
O mapeamento das espécies de peixes
Analista ambiental do Ibama, Fabiane Souza, explica que a varredura tentou identificar a eventual presença de espécies exóticas no lago, como o tambaqui ou o tambacu. A gerência do atrativo nega a presença das espécies no local.
“O tambaqui e o tambacu são espécies exóticas para a bacia do rio Paraguai, e elas não podem ser criadas aqui nesse sistema, que é um sistema de atrativo turístico. Todo peixe pode causar esses acidentes, mas o tambaqui e o tambacu são os que têm mais probabilidade, por conta da dentição deles e também do tipo de alimentação que é nativa deles, como coco e alimentos mais duros. É provável que sejam esses animais que estejam provocando esses acidentes.”
Fabiane Souza, analista ambiental do Ibama.

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Atrativo em Bonito volta a funcionar parcialmente após ataques de peixes
Caso seja identificada a presença desses peixes no local, será necessário descobrir como eles chegaram até o atrativo, conforme explica Fabiane.
“A gente precisa saber de onde esses animais vieram, a origem deles, para poder entender como isso aconteceu, como eles foram introduzidos aqui, caso isso se confirme. Essas espécies podem causar uma série de impactos no ecossistema local, na biodiversidade, já que competem com espécies nativas por alimentação.”
Fabiane Souza, analista ambiental do Ibama.

Quatro agentes do Ibama e o professor biólogo especialista em espécies de peixes, José Sabino, participaram dos trabalhos nesta terça-feira (15). Laudo da vistoria deve ser publicado pelo pesquisador em até 20 dias.
Com o uso de um drone, os fiscais captaram imagens com filtro polarizador para estimar a quantidade de peixes que vivem no atrativo. Apesar dos esforços, nenhum animal foi capturado, mas os trabalhos continuam nesta quarta-feira (16), quando os fiscais também visitarão outro atrativo, onde há suspeita da presença do tambaqui e também da piracanjuba.
O que diz o atrativo
A fiscalização foi acompanhada pelo gerente da Praia da Figueira, Alex Kossmann, que negou a presença de espécies exóticas no lago.
“O passeio já existe há 20 anos e, desde essa época, quando ele foi comprado, essas espécies já estavam na lagoa. Elas não são exóticas; não houve introdução de espécies exóticas no lago.”
Alex Kossmann, gerente do atrativo turístico.

Kossmann atribuiu o aumento no número de casos ao movimento do atrativo, que, só este ano, recebeu cerca de 26 mil turistas. Alguns dos acidentes teriam ocorrido após as próprias vítimas descumprirem as regras do atrativo, segundo o gerente.
“Em três meses, foram 26 mil pessoas, diante de 14 casos de mordidas. A maioria deles, o próprio cliente relatou que estava dando alguma comida para o peixe — o que é proibido. Nós temos placas instruindo, entregamos um panfleto na entrada com várias regras, e uma delas é a de não alimentar os peixes. Mas é o que acaba ocorrendo. Os peixes são muito mansos, então ficam em volta; as pessoas acabam dando algum alimento e, em alguns casos, eles confundem com comida e acabam mordendo.”
Alex Kossmann, gerente do atrativo turístico.
Ibama e Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) iniciaram o mapeamento das espécies nos atrativos de Bonito e região, provocados pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), diante do aumento no número de acidentes registrados, principalmente em dezembro de 2024.
Desde o início deste ano, o hospital municipal de Bonito recebeu vítimas de 14 ataques. Entretanto, há possibilidade de subnotificação, conforme o promotor Alexandre Estuqui Junior.
“Esse número leva em conta apenas as pessoas que foram atacadas e procuraram o hospital, mas informalmente recebemos notícias de outros ataques a pessoas que eventualmente não buscaram ajuda — podem ter ido a médicos particulares ou a unidades de saúde de suas cidades de origem.”
Alexandre Estuqui Junior, promotor de Justiça.
Diante dos casos, Estuqui formalizou uma notícia de fato, que é um procedimento preliminar para acompanhar as apurações.
“Buscamos entender o motivo desses acidentes, o risco que representam no atrativo e se eles são decorrentes de alguma irregularidade que fira o licenciamento ambiental, além de verificar se determinados peixes poderiam realmente estar ali.”
Alexandre Estuqui Junior, promotor de Justiça.

Interdição e liberação
A Praia da Figueira chegou a ser interditada no fim de março, depois que turistas relataram ataques de peixes durante o banho. À época, o dono do atrativo, Rafael Braga, admitiu que havia pacus no lago, mas afirmou que a espécie havia sido adquirida de maneira legal.
O Imasul exigiu que fosse instalada uma barreira de contenção na lagoa, para evitar que os peixes adentrassem a área de banho dos turistas — o que foi feito. Uma vistoria foi realizada em seguida, e o atrativo acabou sendo liberado.