A guerra na Faixa de Gaza entre as tropas de Israel e o Hamas completa um ano nesta segunda-feira (7). O conflito, que começou localizado no território palestino, se espalhou para o Líbano e ameaça se expandir ainda mais para uma guerra regional ampla no Oriente Médio.
Em 7 de outubro de 2023, combatentes do Hamas lançaram centenas de foguetes e realizaram uma invasão ao território israelense. Segundo o governo de Israel, mais de 1.200 pessoas foram mortas e centenas foram feitas reféns.
Em seguida, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu resgatar as pessoas detidas em Gaza e destruir as capacidades militares do Hamas, assim como matar seus líderes.
Especialistas alertaram à época que os objetivos israelenses seriam de difícil execução, visto que o grupo palestino construiu quilômetros de túneis embaixo da Faixa de Gaza.
Desde então, Israel tem feito incursões terrestres e fortes ataques aéreos, que destruíram ou danificaram mais de dois terços dos edifícios na região, segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente.
Além disso, mais de 40 mil palestinos foram mortos na guerra, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. A ONU adota essa mesma contagem.
E o fim da guerra?
Especialistas ouvidos pela CNN concordam que não há perspectiva de que o fim da guerra na Faixa de Gaza esteja no horizonte próximo, seja pela escalada de mais conflitos no Oriente Médio, os objetivos demarcados por Israel para o fim do conflito ou então questões históricas mais profundas.
Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, entende que ainda haverá “uma escalada e piora” antes que a situação no Oriente Médio seja tranquilizada. Além disso, ressalta que este é um assunto de difícil resolução.
“Acabar com a guerra envolve uma série de questões religiosas, étnicas que, de fato, não são triviais. Envolvem, por exemplo, o fato de que algumas potências árabes não aceitam a existência do Estado de Israel, assim como do fato de Israel acreditar que alguns grupos ali são grupos terroristas”, comentou.
“Portanto, a renúncia a própria identidade é algo difícil de se imaginar que haverá”, adicionou.
Augusto Teixeira, líder do grupo de pesquisa em Estudos Estratégicos e Segurança Internacional da Universidade Federal da Paraíba, avalia, por sua vez, que o auge da guerra na Faixa de Gaza já passou, pois grande parte da capacidade operacional do Hamas foi degradada ou destruída.
Por mais que Israel busque a destruição do Hamas e retorno de reféns, o especialista pontua que os parâmetros de uma vitória israelense nunca ficaram claros, pois não há um plano delimitado para o futuro de Gaza.
Esse é um cenário incerto, pois não há concordância sobre quem comandará a Faixa de Gaza — a Autoridade Palestina, a ONU, ou uma coalizão internacional, por exemplo — ou como será essa transição.
“Sem um ‘estado final’ desejado ou parâmetros de sucesso de vitória, fica muito difícil dizer quando é que a guerra efetivamente acaba”, pondera Teixeira.
Benjamin Netanyahu afirmou anteriormente que não pretende ocupar o território palestino, mas seu gabinete e outras autoridades israelenses negaram uma proposta defendida por parte da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos: a Solução de Dois Estados.
Neste caso, haveria a coexistência entre um Estado Palestino e um Estado israelense.
Objetivos de Israel e destruição do Hamas
Nos últimos meses, milhares de pessoas saíram às ruas em Israel para protestar contra o governo de Netanyahu, pressionando por um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns.
Sobre a destruição do Hamas, Leandro Consentino entende que o grupo pode ser “desmobilizado de um lado e ressurgir do outro”, pois também é uma ideologia, podendo reaparecer no futuro.
Augusto Teixeira destaca que a destruição do grupo armado na “perspectiva física”, de capacidade operacional, logística e de infraestrutura, é um objetivo mais próximo de ser completado.
Entretanto, ele concorda que o fim do Hamas “enquanto ideia política ideológica é algo que talvez esteja fora do alcance de Israel”.
Nos protestos, parte da população de Israel acusa o governo do país de não estar realmente disposto a fechar novos acordos para libertação de reféns.
Os especialistas ouvidos pela CNN também refletem sobre a intenção de Israel.
Consentino avalia que a continuação do conflito é do interesse de Benjamin Netanyahu, pois é uma forma de legitimar seu governo. O professor relembra que, antes do início do conflito, a popularidade do premiê estava em baixa.
“Acho que Israel está distante desses objetivos de guerra, e talvez nem seja a vontade de Netanyahu que esses objetivos sejam facilmente alcançáveis e materializáveis”, diz.
Teixeira analisa ainda que “a volta dos reféns não é a grande prioridade do governo Netanyahu, pois a destruição física do Hamas não coaduna diretamente com o retorno dos reféns, já que eles constituem uma peça de barganha entre o Hamas e Israel”.