R$ 290 mil fariam diferença na sua vida?
Esse é o valor que um dos investigados pela Operação Ultima Ratio considerou irrisório em conversa que, para a polícia, tem indícios de mais uma negociação de compra e venda de sentenças.
Frase foi dita pelo lobista Andreson de Oliveira Gonçalves ao homem apontado como um dos intermediadores do esquema de corrupção em Mato Grosso do Sul: o advogado Felix Jayme Nunes da Cunha.
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Entre os materiais apreendidos com Felix Jayme em 2021, a Polícia Federal encontrou trechos de conversas com Andreson. O contato é apontado pelo próprio advogado como correspondente de Brasília.
Apesar de conversas incompletas, os trechos encontrados mostram Andreson e Felix falavam com frequência sobre processos que tramitavam no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O processo citado por Andreson na mensagem que aparentemente “zomba” do valor de R$ 290 mil não foi identificado pela Polícia Federal, assim como nenhuma outra prova concreta do envolvimento de algum funcionário da segunda maior corte do Brasil.
Apesar disso, outras conversas suspeitas indicam a venda de sentenças no STJ. Em uma delas, Andreson cobra “resposta com urgência” sobre um processo e Felix procura um dos clientes:
Em outro print, os dois falam abertamente sobre um processo. Anderson avisa que vão soltar a “decisão do Ita” e Felix pede para que ele segure mais um dia. A investigação não conseguiu identificar o caso sobre o qual os dois conversam.
Em resposta às suspeitas de corrupção dentro da Corte, o ministro Francisco Falcão determinou busca e apreensão em seis endereços ligados a Andreson, cinco em Mato Grosso e um em Brasília.
A análise dos aparelhos apreendidos com ele no dia 24 de outubro, deve trazer novas provas sobre os crimes dentro do judiciário brasileiro.
Transferência milionária
Mas a relação de Felix e Anderson não foi comprava apenas por trechos de conversas encontrados durante mandado de busca e apreensão.
Em 2017, o advogado sul-mato-grossense recebeu mais de R$ 1 milhão da conta da empresa Florais Transporte, que pertence a Andreson e foi alvo de busca e apreensão durante a operação Ultima Ratio em Mato Grosso.
Segundo a Polícia Federal, R$ 98 mil reais foram sacados em dinheiro.
A transferência, para a polícia, não tem nenhuma justificativa, já que em pesquisas aos Tribunais de Justiça do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul não foram identificadas ações judiciais da empresa em que apareça o nome de Felix Jayme como advogado.
No entanto, para a investigação, o dinheiro enviado para o advogado pode estar ligado a outra pessoa: o desembargador Marcos Brito.
Amigo desembargador
Além de manter contato com Felix Jayme, Andreson também tinha uma relação próxima com o desembargador Marcos Brito.
Os policiais encontraram várias ligações de um para o outro, além de uma troca de mensagem constante. Em alguma delas, Andreson pediu ajuda para ter acesso a dois processos.
Segundo a investigação, em nenhum deles Marcos era relator, mas foi a partir das duas ações que os policiais descobriram que, no passado, o desembargador havia atuado em um caso com as mesmas partes e mesmos advogados.
Para a Polícia Federal, os três investigados estão juntos no esquema de propina.
Nas conversar com o desembargador, Andreson faz questão de mostrar seu poder aquisitivo. Manda fotos de dentro do seu jatinho, que tem as iniciais dele e da esposa bordadas no banco, e reforça que possui empresas dentro e fora do Brasil.
Quem é Andreson?
Lobista e empresário, Andreson é um dos envolvidos na morte do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em Cuiabá no mês de dezembro do ano passado.
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O advogado estava envolvido no mesmo esquema de venda de decisões no Mato Grosso e as investigações sobre sua morte, além de levarem até Andreson, resultou no afastamento de dois desembargadores: Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho.
Eles foram tirados do cargo por determinação da Corregedoria Nacional de Justiça por receberem vantagens financeiras para julgarem recursos de acordo com os interesses de Zampieri.
A equipe de reportagem não conseguiu localizar Andreson para ouvir sua versão sobre os crimes. Já Felix Jayme foi novamente procurado pelo Primeira Página, mas não respondeu aos questionamentos. O desembargador Marcos Brito também não foi encontrado.