Polêmica envolvendo uma passageira de avião, que não cedeu seu assento para uma criança birrenta, tomou conta das redes sociais esta semana. A mulher, dada como heroína pela postura firme e calma diante do quiproquó aéreo, virou fenômeno e ganhou, em dois dias, 1,5 milhão de seguidores no Instagram.
Inicialmente, mãe e criança foram muito atacados, principalmente por circular a informação inverídica (e não desmentida) de que a autora do vídeo era a mãe. Não. Não era. Quem gravou o rosto da passageira enquanto proferia ofensas foi alguém aleatório naquele rolê. E a mãe do menino, de recém-concluídos 4 anos, precisou ir às redes mais de uma vez para explicar a situação, pois a família está sendo atacada.
Dito isto, você já deve ter percebido que o título dessa edição extra da coluna não condiz com o conteúdo escrito, certo? Pois bem, foi um exemplo de como quando o assunto é “criança birrenta” o ibope vai às alturas. Explico o porquê: a sociedade é alheia à criança birrenta, logo, o tema causa identificação e abre precedente para que as falas mais absurdas sejam ditas com a naturalidade de um “bom dia”.
Ocorre, meus caros, que não existe criança que não faça “birra”, principalmente na primeira infância. E, se você é responsável por uma e sustenta que a sua não se comporta desse jeito, te desmascaro aqui: mais uma inverdade! Hora ou outra, a criança vai dar show. E assim foi com o menino do avião. A informação falsa (e, repito, não desmentida de forma objetiva) de que o vídeo foi feito e narrado pela mãe abriu espaço para a exposição de como a sociedade se comporta na totalidade em relação às crianças.
Não é só em avião. Os pequenos, e consequentemente suas mães, são excluídos em muitos sentidos. Restaurantes, festas, locais públicos, “aqui não é lugar de criança”. Mais uma vez reforço que a mesma sociedade que pressiona a mulher a ser mãe é a que isola crianças. A conta não fecha.
E, claro, a passageira não tinha a menor obrigação em trocar de poltrona e levou à situação uma calma invejável. O que este texto quer expor é que mães e filhos pequenos são alvo, sempre. O discurso inflama. Os dedos apontam até por quem nunca chegou perto da realidade materna.
Por que não ficam em casa?
Por que a mãe não educa o filho?
Por que não dão limite?
Bradam os adultos mais birrentos do planeta! A intolerância causa identificação.
Caso
Para quem não sabe, a mãe do menino tem um filho mais velho, cadeirante, que foi colocado num assento inapropriado (mas isso não causa tanta comoção assim, não é mesmo). Ela estava tentando resolver com a companhia aérea e o filho menor ficou com a avó, que o acomodou na poltrona da passageira enquanto ela não chegava.
Quando chegou, o menino foi retirado do assento e começou a “birra”. Outra poltrona com janela estava com a família, porém o garotinho entendeu que foi retirado do lugar dele, lembrando que crianças de 4 anos não têm capacidade de controle emocional como um adulto – embora muitos, mesmo adultos, não têm também vide o piti da própria que gravou o vídeo que gerou toda a polêmica e catapultou a passageira para o rol de estrelas cibernéticas.
Enfim, gente. Este texto não é sobre aviões, nem sobre birras de criança. Fica aí a dica!
Bônus – Ninguém está pedindo para que sejamos a Madre Teresa de Calcutá. Eu, como mãe de dois caóticos de 3 e 4 anos, sei bem como uma criança em crise de chororô tira qualquer ser humano dos eixos. A questão é: será mesmo que se fosse o seu filho seria diferente o comportamento? Ou, caso não tenha filhos, será mesmo que é necessário destilar na internet ódio a quem sequer sabe o que é ódio (mas sente)?
Não temo como o mundo ser childfree, caso contrário o mundo, a longo prazo, deixa de existir.