Entenda os impactos da eleição americana na relação diplomática Brasil-EUA


A eleição nos Estados Unidos aponta para dois caminhos opostos em relação à maneira como a Casa Branca deve conduzir a diplomacia americana nos próximos quatro anos.

Por um lado, o democrata Joe Biden promete reforçar o papel dos EUA nos órgãos multilaterais, promovendo uma integração cada vez maior entre seus aliados. Por outro, o candidato republicano Donald Trump se comprometeu a criar barreiras alfandegárias para produtos estrangeiros, além do distanciamento dos aliados europeus e do abandono das iniciativas globais de combate às mudanças climáticas.

Qualquer que seja a escolha dos americanos no dia 5 de novembro, ela será determinante para a maneira como o Brasil se relaciona diplomaticamente com os EUA — os dois países mais populosos e mais ricos do continente.

Confira abaixo quais seriam os impactos da volta dos Republicanos à Casa Branca ou, então, da manutenção da Coalizão Democrata no poder até 2028.

Trump: America First

A Convenção Nacional Republicana acabou na quinta-feira (18) após quatro dias de uma apoteose conservadora que consolidou a chapa Donald Trump-JD Vance na busca pelo retorno do movimento MAGA (Make America Great Again) à Casa Branca.

O evento termina, também, em meio a um cenário de favoritismo de Trump em relação ao candidato à reeleição, Joe Biden, que precisou se afastar dos eventos de campanha na quarta-feira (17) depois de ter um diagnóstico confirmado de Covid-19.

Mas como uma possível volta dos republicanos à Presidência pode alterar as relações diplomáticas dos EUA com o Brasil e com a América Latina?

Primeiro, ainda não há uma posição oficial do Partido Republicano em relação ao Brasil.

O documento que guia as políticas da coalizão conservadora nesta eleição, chamado de Projeto 2025, conta com pouco mais de 30 páginas relacionadas à diplomacia. A relação dos EUA com o Brasil não é citada em nenhuma delas.

Ainda assim, o Projeto 2025 aponta a visão que os conservadores querem para a região da América Latina como um todo, pedindo por possíveis parcerias bilaterais no combate à imigração direcionada aos EUA.

Para Bruna Santos, diretora do Brazil Institute do think tank americano Wilson Center, a melhor forma de avaliar os impactos de uma possível volta de Trump à Casa Branca é olhar para os efeitos do seu primeiro mandato — marcado pela incerteza nas relações diplomáticas e pelo desprezo às alianças já consolidadas entre os países próximos aos EUA.

Na América Latina como um todo, “esse estilo de governança poderia resultar em maior polarização e desconfiança. Uma vitória de Trump-Vance nas eleições de 2024 traria uma abordagem mais unilateral e transacional à política externa, enfraquecendo alianças, promovendo divisões internas na região e potencialmente exacerbando crises humanitárias e políticas”, afirma Santos.

Já para o Brasil, especificamente, o risco é multifacetado, indica Santos.

Trump promete criar uma tarifa universal a produtos importados, o que incluiria a produção brasileira de petróleo, aeronaves, aço, café e celulose. Segundo estimativa publicada pelo Departamento de Estado dos EUA, o envio de produtos do Brasil aos EUA é responsável pela manutenção de 500 mil empregos diretos no território nacional.

O objetivo do aumento dos tributos alfandegários, segundo a coalizão republicana, é retomar o protagonismo dos EUA na produção de bens de consumo.

Ao mesmo tempo, a chapa de Trump promete deixar de lado a agenda de combate às mudanças climáticas, o que diminuiria a pressão internacional para a diminuição do desmatamento nos biomas brasileiros. 

“As relações bilaterais poderiam se tornar mais voláteis, devido ao estilo transacional de Trump. Uma vitória de Trump poderia levar a uma relação mais tensa e imprevisível entre os EUA e o Brasil, com possíveis impactos negativos em áreas críticas como comércio, meio ambiente, democracia e direitos humanos”, destaca Santos.

Lula e Biden: “amigos, sim; aliados, não”

Presidente dos EUA, Biden, se encontra com o presidente do Brasil, Lula, durante a AGNU na cidade de Nova York / REUTERS/Kevin Lamarque

Há quatro meses da eleição americana, entretanto, uma possível virada dos Democratas não pode ser descartada. Se Joe Biden for o candidato vitorioso — ainda não é uma certeza sequer se ele será o candidato democrata –, isso significaria a manutenção das relações diplomáticas como elas estão agora.

Com Joe Biden na Casa Branca e Lula no Palácio do Planalto, há um momento raro na diplomacia do Brasil com os EUA: os dois maiores países do continente seguem uma mesma agenda interna de reindustrialização e de proteção ambiental.

Ainda assim, na comunidade internacional, as divergências entre o Itamaraty e o Departamento de Estado são constantes.

Na guerra da Ucrânia, o Brasil condenou a invasão da Rússia, mas se distanciou da posição de apoio incondicional preconizada pela Casa Branca ao presidente Volodymyr Zelensky. Na guerra de Israel contra o Hamas, Lula condenou a morte de civis palestinos e defendeu investigações contra o gabinete de Benjamin Netanyahu por possíveis crimes de guerra. Já Joe Biden, por outro lado, manteve o envio de bilhões de dólares em ajuda militar ao premiê israelense.

Ao mesmo tempo, o Brasil é um dos principais destinos dos investimentos chineses em infraestrutura, parte da iniciativa da Nova Rota da Seda implementada por Pequim que é vista como um risco à influência dos americanos no continente como um todo.

“Há uma sinergia de agendas programáticas internas, ainda que não haja um alinhamento na política externa. Estados Unidos hoje são excelentes amigos, mas não aliados”, conclui Santos.

Quem é Thomas Matthew Crooks, atirador do atentado contra Trump



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