Haters, muito obrigada!

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Falar sobre pauta feminina na internet te exige uma única coisa: estômago.
Você tem que ter estômago para lidar com haters (odiadores, em tradução livre) que vão destilar sua educação machista com mensagens de ódio, ameaças, xingamentos pessoais e outras bobagens. Nos últimos 5 anos, o chiado do hater encontrou um eco gigantesco em certas figuras bem escondidas atrás de um teclado.

Casca grossa que sou, forjada por uma vida tendo que sobreviver na base do pé fincado, o hater não me apavora. Pelo contrário: ele trabalha para mim. De graça.

No tiktok tenho mais de 1,5 milhão de seguidores, um público majoritariamente feminino. Mulheres sofridas, abandonadas, mães-solo, e gravo em vídeo que sei que elas gostariam de dizer. Leio os comentários delas há 3 anos, acolho, e digo o que elas querem compartilhar. São mais de 23 milhões de curtidas, só com conteúdo feminino.

Minha conta é um prato cheio para machistas – homens e mulheres, infelizmente. O que essas pessoas não sabem é que sou especialista em algoritmo e entendo muito bem como ele funciona, por isso gravei um vídeo sobre pais ausentes faltando 2 dias para o Dia dos Pais. Foi o que bastou para uma meia dúzia de malucos replicarem o vídeo se doendo profundamente pela crítica, porém jurando que são ótimos pais. Se são tão bons, por que se doeram por um vídeo que não lhes representa? A carapuça rodando solta, mas essa parte a gente abafa.

E daí que o público desses desaplaudidos veio em massa me xingar. Foram centenas, se duvidar milhares de comentários de ódio. Costumo bloquear esses caras porque realmente a opinião deles em cima dos meus vídeos não me interessa em nada. O que me interessa é ver esses haters trabalhando pra mim: a audiência do meu vídeo triplicou. Tinha potencial para 500 mil views e está perto de 1 milhão, graças a quem veio me xingar.

Me aproveito da ignorância das pessoas que destilam ódio sem pensar no que isso provoca na entrega de um conteúdo na rede social. Quanto mais eles vêm comentar, mais aumenta meu engajamento, e assim meus vídeos chegam a mais mulheres, que é meu real objetivo. Não pretendo mudar a cabeça de um “coach” que ganha dinheiro ensinando homens que precisam de terapia a serem machões infantilizados, quero chegar nas seguidoras dele. E é exatamente o que a publicidade dele me proporciona.

Mulheres usam homens idiotizados para alcançar mais poder desde que o mundo é mundo. Cleópatra, Elizabeth, Catarina. Mesmo as que perderam a vida nas mãos de homens, ficaram eternizadas na história como heroínas: Ana Bolena, Joana D’arc. Mulheres fizeram fortunas usando pseudônimos masculinos ou simplesmente, sendo a cabeça pensante por trás de homens apagados. É mais comum do que você imagina.

Quando você é tão ciente da sua capacidade a ponto de não se deixar abater pela opinião dos outros, a segurança abre um guarda-chuva na sua vida. Isso é inteligência emocional. Segurar a marimba e continuar firme no propósito, mesmo quando se sentir sozinha na luta. Eu sei que estou ajudando milhares de mulheres e estou segura disso. Essa consciência me basta.

Os haters se sentiram protegidos o suficiente para sair dos esgotos da internet e criar movimentos totalmente absurdos, com o único objetivo de odiar mesmo, como os chamados “redpills”. Cada post desses caras é um bizarro show de misoginia, homens incitando o ódio contra mulheres, mesmo tendo sido gerados e paridos por uma.

Eu fiz apenas um vídeo falando sobre o pai que abandona, que some, que não se responsabiliza, que não quer cuidar do filho, que essa galera não merece estar na mídia no Dia dos Pais. Os haters entenderam que xinguei todos os pais do planeta, que meu pai é horrível (meu pai é ótimo!) e que meu ex pai dos meus filhos me abandonou (não tenho filhos e meu ex é um cara incrível) e que eu odeio todos homens (infelizmente sou hétero e gosto mais de homens do que gostaria).

O objetivo dos haters é silenciar, fazer com que a gente se cale. Não sei se esses caras sabem o quanto uma mulher que sobreviveu à pobreza, assédio, escassez, a inúmeros tipos de dor, é capaz de enfrentar. Vocês vão precisar de muito mais que um perfil fake e meia dúzia de xingamentos de 5° série para nos parar.

Algumas mulheres são assim, gigantescas. Nós ocupamos os lugares enquanto as outras se fortalecem o suficiente para voltar à luta. Lidem com isso.

  1. Do que os homens gostam?

  2. Machismo recreativo e a raiz do redpill: o que a ‘piada de tiozão’ esconde

  3. O pai ausente é um fantasma do próprio futuro





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