Quem acompanha a floração dos ipês em Campo Grande já deve ter notado que as flores brancas caem muito mais rápido. O biólogo e superintendente executivo da Fundação Neotropical do Brasil, Kwok Chiu Cheung, explicou ao Primeira Página o motivo desse espetáculo branco ser tão curto.
É comum na capital sul-mato-grossense ver um ipê branco cheio de flores em um dia e no dia seguinte as flores já estarem formando um tapete no chão.
De acordo com o biólogo Kwok Chiu Cheung, todos os ipês, sejam brancos, amarelos, rosas ou roxos, pertencem à mesma família. No entanto, a floração varia entre as espécies.
Isso ocorre porque a floração é o período reprodutivo, ou seja, quando as flores atraem polinizadores para garantir a reprodução. Cada planta utiliza diferentes quantidades de energia para florescer.
“O que acontece é que cada espécie faz um investimento, e esse investimento tem um custo. Ou seja, quanto maior e mais longa a floração, mais energia é consumida”.
Kwok Chiu Cheung, biólogo
Ipê branco
Algumas espécies, como o ipê amarelo, conseguem manter a floração por mais tempo. No entanto, o ipê branco não tem a mesma capacidade, pois precisa retomar a produção de folhas para realizar a fotossíntese, o processo que garante sua nutrição.
“Uma das características dessa família de plantas é que, justamente para economizar energia, elas descartam todas as folhas, promovem uma floração intensa para atrair o máximo possível de polinizadores e, assim que possível, deixam cair as flores”.
Kwok Chiu Cheung, biólogo
O professor ainda acrescenta que, durante a fotossíntese, as plantas utilizam elementos como água e gás carbônico para produzir folhas, frutos, flores ou novos galhos.
Esse processo de metabolização tem um custo energético elevado. No entanto, esse investimento é tão intenso que muitas espécies não conseguem sustentar a floração por muito tempo.
Quanto mais flores uma planta produz, menor o tempo de floração. Outras espécies fazem o oposto, produzindo poucas flores ao longo de meses ou em várias floradas ao ano.
“Algumas plantas, como os ipês, concentram a floração em um curto período para se tornarem visíveis de longe para possíveis polinizadores. É uma estratégia reprodutiva interessante e, claro, encantadora para nós”, conclui o biólogo.