“Quatro ampolas no lugar de uma“: filha de idoso que morreu após superdosagem de quimioterapia detalha o caso

CNN Brasil


Nilton Carlos Araújo, de 69 anos, morreu na última sexta-feira (23), vítima de um erro médico em um hospital de referência em Belo Horizonte, capital mineira. O idoso fazia tratamento contra câncer na rede MedSênior e recebeu uma superdosagem do quimioterápico.

Em uma das sessões semanais, Nilton recebeu as quatro doses do mês ao mesmo tempo.

Em nota, a MedSênior disse que “lamenta profundamente o ocorrido e informa que está conduzindo uma investigação detalhada sobre o caso do paciente, com o objetivo de compreender todas as circunstâncias envolvidas e apurar fatos e responsabilidades.”

A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para apurar a denúncia de erro médico e está investigando o caso, que está à cargo da 2º Delegacia de Polícia.

Após a morte, o corpo de Nilton foi encaminhado ao Instituto Médico Legal Dr André Roquette (IMLAR) para ser submetido ao exame de necropsia. O laudo ainda não foi concluído.

Entenda o caso

Toda segunda-feira, às 11h, Nilton Carlos Araújo ia até uma unidade da rede MedSênior, no bairro Gutierrez, para tomar uma dose de Bortezomibe e uma de Zometa, medicamentos destinados para o tratamento de câncer ósseo em metástase.

A rotina era acompanhada de perto pela filha, Carolina Araújo, que explicou o caso do pai à CNN. Segundo ela, na última segunda (19) o funcionário do hospital que aplicaria o tratamento estava com quatro ampolas de um dos medicamentos na bandeja, sendo que o normal era apenas uma dose por sessão.

Carolina disse que chegou a questionar a quantidade, mas o funcionário apenas respondeu que naquele dia seriam quatro agulhadas e aplicou na mesma hora.

Por volta das 16h, o idoso começou a passar mal, apresentando enjôo, vômitos e muita dor de cabeça. Carolina contou durante a conversa que esses sintomas são comuns em pacientes quimioterápicos, por isso ninguém imaginou que teria algo errado.

Às 20h decidiram levar Nilton ao mesmo hospital, onde recebeu soro e um medicamento para os sintomas. Depois de passar a noite em casa, na manhã seguinte o enjôo e a dor persistiam e a família repetiu o processo da noite anterior. Novamente ele recebeu o soro e foi liberado.

Apenas na quarta-feira (21), depois de Carolina precisar discutir com a administração do hospital, ele foi internado e transferido para uma unidade mais paramentada, pois aquela não possui UTI.

“Eles me disseram que o plano dele era mais básico e não cobria o Life Center [outro hospital da rede MedSênior]. Aí na hora eu falei “olha, eu não quero saber qual é o plano dele, porque nesse momento era para ele estar lá em casa comigo vendo televisão e não aqui dentro do hospital. Foi um erro de vocês”. Nesse momento a coordenadora já tinha assumido que o erro realmente tinha sido deles.”

Uma vez no Life Center, Nilton recebeu antibiótico e dipirona na veia e de pronto melhorou. Carolina lembra que ficou muito otimista e gravou um vídeo do pai mandando um beijo para a esposa.

Como era caso de internação, ela pediu para o irmão trocar de lugar para ela poder ir para casa e tomar um banho. Ela conta que poucos minutos depois, enquanto se arrumava para voltar ao hospital, recebeu um telefonema do irmão dizendo que foi expulso do quarto, fecharam a porta e começaram uma operação de emergência.

Quando ela e a mãe chegaram, o idoso já estava entubado e em coma induzido. Nilton veio a falecer dois dias depois.

A luta da família agora é para descobrir quem mudou a quantidade de doses que Nilton deveria tomar. Carolina diz que conversou com a médica do pai, que negou ter alterado as recomendações.

Confira a nota completa da MedSênior:

“A MedSênior lamenta profundamente o ocorrido e informa que está conduzindo uma investigação detalhada sobre o caso do paciente Nilton Carlos Araújo, com o objetivo de compreender todas as circunstâncias envolvidas e apurar fatos e responsabilidades.

Assim que apresentou reações adversas durante a quimioterapia, o paciente foi imediatamente transferido para um hospital de referência para receber os cuidados necessários, com acompanhamento permanente de sua condição de saúde e com a máxima urgência que o caso demandava. Apesar dos esforços, o paciente veio a óbito nesta sexta-feira, dia 23.

A MedSênior manifesta seu imenso pesar e sua solidariedade, fornecendo apoio integral aos familiares,  e reitera que tem como premissa seguir rigorosamente todos os protocolos estabelecidos para assegurar a integridade e a segurança de seus pacientes.”

*Sob supervisão



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