11 anos depois, prisões por tragédia na Boate Kiss são decretadas

Boate Kiss com fotos das vítimas do incêndio (Fernando Frazao/Agência Brasil)


No dia 27 de janeiro de 2013, o Brasil foi marcado pelo incêndio na Boate Kiss, que deixou 242 pessoas mortas em Santa Maria (RS). Nesta segunda-feira (2), 11 anos após a tragédia, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, determinou a prisão de quatro pessoas pelo incêndio.

Boate Kiss com fotos das vítimas do incêndio (Fernando Frazao/Agência Brasil)

Em dezembro de 2021, os ex-sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, além do vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor musical Luciano Bonilha Leão, foram condenados em júri popular.


As condenações variaram entre 18 e 22 anos e seis meses de prisão, dependendo do envolvimento de cada um no ocorrido.

  1. Esse tornado de fogo foi gravado no meio do Pantanal

Nas instâncias inferiores, as defesas dos acusados conseguiram anular as sentenças ao alegarem que as condenações pelo Tribunal do Júri foram repletas de nulidades.

Assim, o júri da Boate Kiss foi anulado pelo TJ-RS em agosto de 2022, e os condenados foram soltos.

Entre as ilegalidades apontadas pelos advogados, estão a realização de uma reunião reservada entre o juiz e o conselho de sentença, sem a presença do Ministério Público e das defesas, e o sorteio de jurados fora do prazo legal.

Ao analisar a questão, Toffoli afirmou que as ilegalidades deveriam ter sido contestadas durante o julgamento.

A ordem do ministro do STF foi decretada após a apresentação de um recurso pelo Ministério Público para anular decisões da Justiça do Rio Grande do Sul e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que suspenderam as condenações.

Com a decisão desta segunda-feira (2), as penas aplicadas aos responsáveis em 2021 voltam a valer.

Um segundo júri chegou a ser marcado para o final de fevereiro de 2024, mas foi suspenso por Dias Toffoli em fevereiro deste ano, a pedido do Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Caso Boate Kiss

O incêndio da Boate Kiss ocorreu na madrugada de 27 de janeiro de 2013. O local estava lotado, com mais de mil pessoas presentes para o show da banda Gurizada Fandangueira.

Além das 242 mortes, o ocorrido deixou mais de 600 pessoas feridas.

A maioria das vítimas sofreu asfixia devido a gases tóxicos liberados pela queima do revestimento de espuma instalado irregularmente no local, que foi atingido pelas chamas de um artefato pirotécnico aceso durante o show da banda Gurizada Fandangueira.

Na época do incêndio, médicos e policiais que realizaram a perícia constataram que, com a queima da espuma irregular, foi liberado o gás cianeto, altamente tóxico e o mesmo utilizado nas câmaras de gás dos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

A fumaça tóxica fazia as pessoas desmaiarem em segundos. Além do gás, a tragédia se agravou devido a diversas irregularidades na segurança do local.

A acusação contra os dois sócios listava que a casa noturna estava superlotada, sem condições adequadas de evacuação e segurança contra incidentes dessa natureza.

Além disso, a equipe de funcionários não possuía o treinamento obrigatório e, inicialmente, ordenou aos seguranças que impedissem a saída das pessoas do recinto sem o pagamento das despesas de consumo.

Quando as chamas começaram e a fumaça se espalhou, os extintores não funcionaram e não havia sinalização adequada de saída de emergência.

Dezenas de vítimas morreram aglomeradas nos banheiros, cujas janelas eram vedadas, ou amontoadas nos gradis que dificultavam a saída da boate.

Com base no entendimento de que teriam assumido o risco de matar, foram acusados de homicídio simples com dolo eventual Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, sócios da boate.

O vocalista e o auxiliar de palco da banda, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, foram responsabilizados por adquirirem e acionarem os fogos de artifício, que eram destinados a uso em ambientes externos, e por terem saído do local sem alertar o público sobre o fogo e a necessidade de evacuação.

Em julho deste ano, o prédio onde funcionava a boate foi demolido. No terreno, será construído um memorial em homenagem às vítimas.





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