Queda de avião da Voepass: “Bastante gelo“, relatou copiloto pouco antes da queda, revela Cenipa


Relatório parcial divulgado nesta sexta-feira (6) pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) revelou que o copiloto do avião da Voepass (2283), Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos, relatou “bastante gelo” minuto antes da queda da aeronave em Vinhedo, no interior de São Paulo.

Ainda segundo o Cenipa, indicadores de gelo foram acionados no painel da aeronave. Esse, no entanto, ainda não é o relatório final.

A formação de gelo nas asas da aeronave foi uma das hipóteses levantadas por especialistas que poderiam explicar a queda da aeronave na época.

A queda da aeronave matou 62 pessoas, sendo 58 passageiros, no dia 9 de agosto.

O que aconteceu no acidente, segundo o Cenipa

As informações foram apresentadas pelo Coronel Freud, que disse que a investigação verificou que a aeronave estava navegável, de acordo com os padrões pré-estabelecidos pela FAB. A última manutenção da aeronave foi realizada no dia do acidente. A aeronave era habilitada em voar em condições de gelo. A comissão de investigação concluiu que os pilotos também tinham treinamento para voar sob condições de gelo.

O órgão concluiu que as condições meteorológicas do voo estavam disponíveis para os pilotos, e previam a presença de gelo durante o trajeto entre Cascavel (PR) e Guarulhos (SP).

Linha do tempo do voo com os eventos do percurso

Com base nas informações coletadas durante a ação inicial, bem como nas gravações do Flight Data Recorder (FDR – gravador de dados de voo) e do Cockpit Voice Recorder (CVR – gravador de voz da cabine), a Comissão de Investigação identificou a sequência de eventos que antecederam a colisão da aeronave contra o solo.

  • Saiu de Cascavel, às 11h58
  • 11h58min05s – a aeronave iniciou a decolagem da pista 15 de SBCA, com 58 passageiros e 4 tripulantes a bordo;
  • 12h12min40s – os PROPELLER ANTI-ICING 1 e 2 foram ligados;
  • 12h14min56s – o Electronic Ice Detector (detector eletrônico de gelo) conectado ao Centralized Crew Alert System (CCAS – sistema centralizado de alerta de tripulação) exibiu um sinal de alerta ao cruzar o FL130;
  • 12h15min03s – o AIRFRAME DE-ICING foi ligado;
  • 12h15min42s – um tom de alarme único (single chime) foi ouvido na cabine. Na sequência, os tripulantes comentaram sobre ter ocorrido uma mensagem de Fault no AIRFRAME DE-ICING;
  • 12h15min49s – o AIRFRAME DE-ICING foi desligado;
  • 12h16min25s – o Electronic Ice Detector deixou de exibir o sinal de alerta;
  • 12h17min08s – o Electronic Ice Detector exibiu um sinal de alerta;
  • 12h19min13s – o Electronic Ice Detector deixou de exibir o sinal de alerta;
  • 12h23min43s – o Electronic Ice Detector exibiu um sinal de alerta;
  • 12h30min05s – o Electronic Ice Detector deixou de exibir o sinal de alerta;
  • 13h11min02s – o Electronic Ice Detector exibiu um sinal de alerta;
  • 13h12min41s – o Electronic Ice Detector deixou de exibir o sinal de alerta;
  • 13h12min55s – o Electronic Ice Detector exibiu um sinal de alerta;
  • 13h15min16s – o Second in Command (SIC – piloto segundo em comando) efetuou contato rádio com o despachante operacional da companhia aérea no aeródromo de Guarulhos, a fim de realizar as coordenações necessárias para a sua chegada;
  • 13h16min25s – concomitantemente à coordenação com o despachante operacional, ocorreu a chamada de uma comissária pelo interfone. O SIC solicitou que ela aguardasse um momento e prosseguiu a comunicação com o despachante;
  • 13h17min20s – o Electronic Ice Detector deixou de exibir o sinal de alerta. Nesse momento, o SIC estava solicitando informações à comissária a fim de transmiti-las ao despachante operacional;
  • 13h17min32s – o Electronic Ice Detector exibiu um sinal de alerta. Nesse momento, o Pilot in Command (PIC – piloto em comando) estava informando os passageiros sobre as condições e o horário previsto para o pouso em SBGR;
  • 13h17min41s – o AIRFRAME DE-ICING foi ligado;
  • 13h18min41s – com 191 kt de velocidade, o alerta CRUISE SPEED LOW foi exibido. Simultâneamente, o SIC estava terminando de repassar algumas informações ao despacho operacional;
  • 13h18min47s – o PIC iniciou o briefing de aproximação para o pouso em SBGR. Concomitantemente, o Approach Control de São Paulo (APP-SP – controle de aproximação de São Paulo) realizou uma chamada e o instruiu a mudar para a frequência 123,25 MHz;
  • 13h18min55s – um tom de alarme único (single chime) foi ouvido na cabine. Simultaneamente, estava ocorrendo a comunicação com o APP-SP;
  • 13h19min07s – o AIRFRAME DE-ICING foi desligado;
  • 13h19min16s – a tripulação efetuou uma chamada na frequência 123,25 MHz para o APP-SP;
  • 13h19min19s – o APP-SP solicitou que o PS-VPB mantivesse o FL170 devido a um tráfego;
  • 13h19min23s – a tripulação respondeu ao APP-SP que iria manter o nível de voo e que estava no ponto ideal de descida, aguardando autorização;
  • 13h19min28s – com 184 kt de velocidade, o alerta DEGRADED PERFORMANCE foi exibido, juntamente com um tom de alarme único (single chime). O alarme foi acionado concomitantemente com as trocas de mensagem entre o APP-SP e a tripulação;
  • 13h19min30s – o APP-SP disse que estava ciente e pediu para que aguardasse a autorização;
  • 13h19min31s – o Passaredo 2283 disse que estava ciente e agradeceu;
  • 13h19min33s – o PIC continuou a realizar o briefing de aproximação;
  • 13h20min00s – o SIC comentou: “bastante gelo”;
  • 13h20min05s – o AIRFRAME DE-ICING foi ligado pela terceira vez;
  • 13h20min33s – o APP-SP autorizou a aeronave a voar direto para a posição SANPA, mantendo o FL170. Informou que a descida seria autorizada em dois minutos;
  • 13h20min39s – a tripulação cotejou a mensagem anterior (última comunicação realizada pelos tripulantes);
  • 13h20min50s – a aeronave iniciou uma curva à direita para a proa da posição SANPA;
  • 13h20min57s – durante a curva, com 169 kt de velocidade, o alerta INCREASE SPEED foi exibido, juntamente com um tom de alarme único (single chime). Ato contínuo, iniciaram-se ruídos de vibração na aeronave, juntamente com o acionamento do alarme de stall;
  • 13h21min09s – o controle da aeronave foi perdido e ela ingressou em uma atitude de voo anormal até colidir contra o solo. Nesse ponto, a aeronave inclinou-se 52º para a esquerda e, posteriormente, 94º à direita, realizando uma variação de proa de 180º no sentido horário. Na sequência, a variação de proa foi revertida para o sentido anti-horário, completando 5 voltas em “parafuso chato” até a colisão contra o solo.

Relembre o caso

Um avião da Voepass, antiga Passaredo, caiu no início da tarde do dia 09/08 em Vinhedo, no interior de São Paulo. O voo 2283 saiu de Cascavel (PR) e iria para Guarulhos. O avião acidentado, prefixo PS-VPB, é um ATR 72-500, cuja capacidade total é de 74 pessoas, sendo 62 passageiros. Este foi o sexto acidente aéreo mais letal da história do Brasil. 

As investigações são conduzidas pela Força Aérea Brasileira (FAB), através do Cenipa. O processo passa por diversas etapas de perícia, elaboração e apresentação de relatório, além de avaliação de causas e responsabilidades.



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