Quem deve ganhar a eleição nos EUA? Veja o que dizem especialistas ao WW Especial


A pouco mais de 50 dias da eleição, Kamala Harris e Donald Trump mantém a disputa acirrada para a Casa Branca e extremamente polarizada, segundo pesquisas de opinião.

Para Clifford Young, presidente do instituto de pesquisas Ipsos nos EUA, a candidata democrata tem “energia” e consegue mobilizar a base do partido, enquanto o republicano domina fundamentos como economia e inflação.

Segundo uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada em 27 de agosto, 43% dos eleitores registrados preferem o ex-presidente para a economia, enquanto 40% escolheriam a atual vice-presidente.

O especialista pondera que a campanha de Kamala Harris está sendo muito mais eficaz do que a de Trump neste momento, tendo em vista a questão da comunicação.

“A principal questão agora é sobre a eficiência das campanhas para transmitir sua própria mensagem”, diz Clifford Young ao WW Especial deste domingo (15).

Fernanda Magnotta, analista de Internacional da CNN, avalia que Trump possuía “clima” mais favorável meses atrás, quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ainda estava no páreo. Para Magnotta, Kamala é uma agente competitiva.

Este ponto se exemplifica, ainda segundo a professora de Relações Internacionais, por pesquisas eleitorais e até resultados mapeados em bolsas de aposta.

Outro ponto de destaque é o financiamento alcançado pela campanha da vice-presidente.

De acordo com pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na quarta-feira (12), Kamala tem 47% das intenções de voto entre eleitores registrados, contra 42% de Trump.

“O sentimento que tenho nesse momento é de que, diferente de um mês atrás, a Kamala, de fato, pode ser presidente dos Estados Unidos – Biden talvez não pudesse ser eleito naquele momento”, analisa Magnotta.

Ainda assim, a especialista pondera que Trump ainda é o candidato “favorito” a vencer o pleito de 5 de novembro por três fatores. Ela cita o contexto do país, no qual o eleitor americano médio apresenta forte rejeição ao governo atual – e que Kamala faz parte.

O segundo ponto é a agenda temática: economia e imigração são tópicos dos mais relevantes da eleição e nos quais Trump tem grande protagonismo.

Fernanda Magnotta cita ainda um terceiro fator relevante pró-Trump para a eleição, que é o comparecimento de eleitores às urnas, visto que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos.

“O sentimento que eu tenho é que a Kamala, nesse momento, consegue energizar públicos que são importantes para ela, mas não temos certeza se esse público é leal a ponto de comparecer às urnas, coisa que os republicanos, em geral, são mais do que os democratas, e os trumpistas são mais do que talvez a base da Kamala neste momento”, pondera.

O peso da inflação para os eleitores

Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da Eurásia, lembra que a campanha eleitoral deste ano está focada no custo de vida dos cidadãos dos EUA, relembrando que a inflação aumentou após a pandemia de Covid-19.

“Isso é o grande calcanhar de aquiles dos democratas”, ressalta.

Garman pontua que Kamala Harris tenta se distanciar, ao mesmo tempo, de Biden e de Trump.

Em diversos discursos de campanha, a democrata fala que tem uma visão para o “futuro”, por mais que não critique diretamente a gestão Biden. Trump, por sua vez, tenta reforçar que ela é vice-presidente do atual governo.

Por fim, o diretor-executivo da Eurásia avalia que Trump parece “emocionalmente abalado” com a mudança na candidatura adversária.

Quem vai decidir a eleição nos EUA?

O voto nos Estados Unidos é indireto: a população vota em figuras eleitorais – conhecidos como “delegados – e o candidato que conseguir o maior número de votos desses delegados é o vencedor do pleito.

É necessário ultrapassar a marca de 270 delegados no Colégio Eleitoral para vencer a eleição presidencial dos EUA.

Outro ponto de extrema importância é que cada estado possui um número específico de delegados, tornando a vitória em cada região de extrema importância.

Clifford Young destaca que seis estados serão decisivos para 2024, os chamados estados-pêndulo: Wisconsin, Michigan, Pensilvânia, Nevada, Arizona e Geórgia.

O especialista alerta ainda que um número pequeno de eleitores dentro desses estado pode definir a eleição: “Entre 40 mil a 200 mil votos que são o que importam neste momento, então, [é] um ‘jogo de polegadas”.

Nesses estados, de acordo com Young, a inflação e o custo de vida são os temas que mais importam, principalmente em Wisconsin, Michigan, Pensilvânia.

Campanha será decisiva e candidata democrata com outro padrão

Clifford Young concorda que temas como economia são vantajosos para Trump, mas pondera que o candidato precisa reafirmar e mostrar isso para a população americana.

“Vai ser a campanha que vai definir quem vai ser o residente da Casa Branca”, observa, ou seja, “quem for mais eficiente e conseguir se alinhar melhor ao que a população quer”.

“Baseado na história e nossa experiência com Trump, ele não vem tendo a campanha com tanta eficiência em si”, ressalta.

Fernanda Magnotta, por sua vez, ressalta que o ex-presidente tem trabalhado em cima de uma mesma estratégia desde 2016, na qual diz que “faria tudo diferente e melhor, sem esclarecer esses pontos”.

“Pela primeira vez, ele está diante de uma candidata democrata que não atende aos mesmos padrões de comportamento que ele estava acostumado a enfrentar”, pondera a professora.

Ainda tendo em vista o debate presidencial da ABC, a especialista indica que Kamala “emulou Trump”, sendo sarcástica, debochada, batendo de frente com afirmações do adversário e o colocando em uma posição defensiva.

“Com a transição da campanha democrata e mudança do candidato, Trump perdeu o grande mote, de que Biden não é bom o suficiente, e, além de tudo, é velho”, comenta.

Trump e Kamala durante debate presidencial • Getty Images

Por fim, analisa que a tentativa de substituição do mote da campanha republicana, até o momento, não deu certo – sendo a última tentativa classificar Kamala Harris como radical de esquerda.

Christopher Garman entende que a vice-presidente dos EUA tem mobilizado a base democrata de forma importante e que ela tem mais credibilidade em segmentos do eleitorado que são mais impactados pela inflação: negros, hispânicos e jovens.

O especialista afirma que a candidata deve atacar as vulnerabilidades associadas à inflação e, por um lado, mobilizar a base democrata para que compareça à votação, por outro.

Polarização: fratura social exposta mostra seus sintomas

Clifford Young analisa que a campanha eleitoral amplifica a polarização nos Estados Unidos, pois um dos focos da mensagem divulgada pelos partidos é o quão ruim seria para o país se o “outro lado” vencer.

“Trump representa uma América do passado, nostalgia, e Kamala representa uma América, um país novo, mais diversificado etnicamente”, diz.

O especialista adverte que haverá polarização e problema de governança nos EUA após a eleição independentemente do vencedor.

Fernanda Magnotta pontua que a polarização não se resolverá com uma liderança política isolada. “Estamos falando de uma fratura social que está sendo exposta há muitas décadas e que agora está mostrando seus sintomas”, afirma.

“Na prática, essa polarização e fragmentação impulsiona, ainda mais no mundo das redes, figuras que se apresentem como o salvador da pátria”, afirma a professora, ressaltando que tanto a campanha democrata quanto a republicana colocam seus candidatos como sendo uma mudança, mesmo tendo governado o país.

Christopher Garman comenta que a Eurasia, consultoria global renomada, classifica a eleição americana como a de maior risco geopolítico no mundo, tendo em vista a posição de liderança e impacto global, tamanho da economia e papel geopolítico do país.

Ele citou pesquisas que medem descrença do povo americano em instituições e a disputa atual sobre “o que é ser americano”.

Assim, destaca: “Estamos caminhando para uma disfuncionalidade doméstica, dificuldades de chegar a resoluções, que tem repercussões tanto dentro quanto fora dos EUA”.



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