será que era mesmo a hora?

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Toda vez que leio alguma notícia sobre uma nova produção envolvendo vampiros, mostro os dentes – não tão pontiagudos. De todos os monstros do universo do terror, os dráculas e seus derivados são os meus prediletos.

Jerry Dandrige (Chris Sarandon) em cena de luta com Charlie Brewster e o caçado de vampiros Peter Vicent em A Hora do Espanto (1985) (Foto Reprodução)

Herança da adolescência.

Da vez em que vi, com 12 anos, A Hora do Espanto, no cinema.

A emoção começou logo na bilheteria quando, com o coração saindo pela boca, menti a idade para poder entrar. É, em 1985, havia censura. E neste filme especificamente, era necessário ter 14 anos.

Fright Night, seu título em inglês, tornou-se meu filme predileto de terror.

Charlie Brewster é um adolescente que descobre morar ao lado de um vampiro.

A história é ótima, a trilha sonora incrível e os efeitos especiais não devem nada a ninguém, mesmo comparado a dias atuais. Dez anos antes de A Hora do Espanto, um jovem escritor chamado Stephen King publicava seu segundo livro.

Salem´s Lot é inspirado em Drácula, de Bram Stoker, mas a intenção do vampiro, Barlow, não é perseguir um amor perdido no tempo.

E, sim, exercer seu poder de dominação numa comunidade. Com ou sem mordidas, ele manipula os moradores até transformar a pequena cidade fictícia de Jerusalem´s Lot, de apenas 1282 habitantes, em um pandemônio.

A obra virou, como quase todas de King, um best seller.

E acaba de ganhar mais uma versão em carne, osso e sangue.

Duas anteriores foram em formato de minissérie.

Em 1979, a melhor delas, dirigida por Tobe Hooper (de Poltergeist) com o nome de Os Vampiros de Salem.

E em 2004, intitulada A Mansão Marsten.

Em 1987, Os Vampiros de Salem -o Retorno foi para os cinemas num fracasso total. (As três obras estão disponíveis na Darkflix+). Agora, desde a última quinta-feira, A Hora do Vampiro está no menu de novidades do serviço de streaming Max.

A abertura nos enche de expectativa.

Não só pela ótima ideia de preencher o mapa mundi com sangue para mostrar o caminho do vampiro da Europa até a fictícia cidade no Maine (estado em que quase todas as obras de King são ambientadas).

Mas por dois nomes que aparecem nos créditos: o próprio Stephen King, como produtor executivo, e James Wan, como produtor.

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Quem não conhece Wan, basta dizer que é o cara que trouxe às telonas o universo de Invocação do Mal.

Uau! King e Wan juntos! Então, é hora de parar de ler esta coluna e já ligar a televisão…

Calma!

A Hora do Vampiro teve alguns problemas. Era para ter sido lançado em 2022 nos cinemas. Depois, no ano passado. Ficou no limbo e acabou diretamente nas telinhas.

Era a hora certa?

Vamos pensar juntos…

Outubro é o mês das bruxas, o mês do Halloween, e cada vez mais o mercado de entretenimento se considera obrigado a trazer novidades do terror neste período.

  1. A Substância: melhor filme de terror do ano

Ok, bom marketing.

Mas tem um apelo ainda maior.

Em dezembro, aí sim, com certeza, nos cinemas, vai estrear o filme mais esperado pelos amantes do horror em 2024.

E é sobre o que?

Ganha uma réstia de alho quem acertar…

Sim. Nosferatu é um vampirão respeitado.

A refilmagem do clássico do expressionismo alemão de 1922 ficou a cargo de Robert Eggers, também cultuado na área do sobrenatural graças A Bruxa.

Nosferatu, filme mais aguardado…

…refilmagem de filme de vampiro….

… bingo, Warner Bros!

Abram o caixão onde A Hora do Vampiro se enterrava. O público tá sedento por sangue enquanto o novo Nosferatu não atraca por aqui.

Então, podemos concluir que, sim, o timming foi correto para ressuscitar a versão até então esquecida de Salem´s Lot. Agora, vale a pena esticar o pescoço para dar uma olhada em A Hora do Vampiro?

Bom, quem leu o livro vai sentir falta da profundidade que King coloca em seus personagens. Tudo bem, dá pra entender. O livro tem 464 páginas e o filme, 1 hora e 54 minutos. Até por isso, as versões anteriores foram minisséries.

Mas achei que ficou muito difícil estabelecer uma conexão com os personagens principais e com a Mansão Marsten, casa mal-assombrada onde o vampiro se instala e que, no livro, é o coração da cidade. Eles estão no filme, mas a superficialidade frustra.

Ben Mears é um escritor que retorna à cidade natal onde viveu até os 9 anos. No livro, ele quer justamente escrever sobre a Mansão Marsten, onde teve uma experiência terrível na infância.

Ele não é o único que se mudou para Salem´s Lot.

Um comerciante abre uma loja de móveis de luxo, a Barlow & Straker, na cidade.

E logo de cara encomenda o transporte de um grande caixão que estaria trazendo uma cômoda de valor inestimável.

Balela. Dentro tem Barlow, um vampiro feio para caramba, uma mistura de Nosferatu com o cantor Marilyn Manson. (cruz credo!) As vítimas vão se acumulando e, aos poucos, formando um exército de vampiros subordinados ao mestre dentuço.

Para combatê-los, o escritor se une a namorada, um professor, uma médica e um menino fã de terror. Algumas situações impactantes do livro não aparecem na adaptação televisiva.

E o vampiro, mesmo, tão inteligente na obra de King, aqui mais parece uma besta irracional cujo único pensamento é saber se morderá o lado direito ou esquerdo das vítimas. O próprio Mears é quase um coadjuvante do menino.

E o final também teve uma mudança.

Uma pena que o filme não tenha se preocupado em trazer, do livro, as questões humanas mais interessantes, como a reação dos moradores frente à ameaça de dominação. Afinal, foram elas que transformaram a obra em algo que ainda é lembrado quase 50 anos após seu lançamento.

King usa o vampiro como ferramenta para espalhar o pior entre os moradores: do medo à ganância. Da submissão à ignorância.

Se tiver a oportunidade, leia o livro. É facilmente encontrado.

Mas vale assistir ao filme de 2024?

Se for ver como entretenimento, passar duas horinhas ali preocupado apenas em quem vai morrer ou de que forma o vampiro será eliminado, sim.

O filme não é ruim.

Mas, se permite uma dica, eu olharia para o vizinho. Ali no menu da Max, pertinho de A Hora do Vampiro, está disponível A Hora do Espanto.

Mas cuidado. Procure a versão de 1985.

Em 2011 teve uma refilmagem com Collin Farrell como o vampiro Jerry Dandridge.

Terrível.

Foi como enfiar uma estaca no coração dos fãs do filme original. Com esses novos vampiros, já estou com a cruz na mão.

Desejando que o remake de Nosferatu chegue à luz sem se queimar.





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