Dez dias antes de ser assassinado, o advogado Renato Nery denunciou advogados, desembargadores e empresários, conforme a filha dele, Livia Moreira Gomes Nery, afirmou nesta quinta-feira (28), data da Operação Office Crime, da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa, que investiga o crime.
Nery foi morto a tiros em frente ao escritório dele, em Cuiabá, em julho deste ano, deixando a família dele refém do medo. Até o momento nenhum suspeito foi preso.
Livia contou sobre a sensação de medo que vive desde a morte do pai. Segundo ela, a própria polícia orientou que ela “tomasse cuidado” ao sair de casa.
“O que nos espanta é como uma pessoa recebe 7 tiros na cabeça, em plena luz do dia, em uma avenida movimentada e ninguém consegue falar nada. Meu pai não tinha ameaça de morte (…) A própria polícia orientou a ter cuidado, mas cuidado com o que? Quem está atrás de nós?”, disse.
Como parte da investigação sobre o assassinato, a Polícia Civil cumpriu nesta quinta-feira (28), cinco mandados de busca e apreensão em condomínios residenciais de luxo e no escritório de advocacia dos investigados nas cidades de Cuiabá e Primavera do Leste, a 239 km da capital. Os alvos são advogados e empresários.
As investigações da Operação Office Crime apontam que a motivação para do seria uma disputa de terra.
De acordo com a Polícia Civil, as buscas têm como objetivo a obtenção de provas para apurar a participação dos investigados no crime de homicídio qualificado e organização criminosa contra o advogado.
“Tenho um filho de 4 anos e, nos primeiros dias, não queria deixar ele ir para escola. Eu não sabia se ele ia voltar para casa vivo, porque não deixavam a gente andar de carro, não deixavam a gente circular”, disse a filha da vítima.
Segundo ela, apesar de o pai nunca ter recebido ameaças de mortes, ele havia feito representações contra pessoas de alto escalão, bem como contra advogados, juízes e desembargadores. “A gente espera que seja feita a justiça, a gente espera um posicionamento e que a nossa vida, de alguma forma, seja normal”, ressaltou.
No entanto, os delegados à frente do inquérito policial, que está sob sigilo, não se manifestarão à imprensa neste momento, para não atrapalhar o andamento das investigações.
“Coincidentemente os escritórios e os alvos estão na denúncia do Renato. Os alvos de hoje são alvos que o Renato denunciou, mas a investigação não partiu só da denúncia dele. Houve uma investigação mais complexa e resultou nos alvos de hoje. A gente não pode comentar muitos detalhes para não prejudicar a investigação, mas os alvos foram denunciados”, disse o delegado Bruno Abreu Magalhães.
Veja quem são os investigados:
- Antonio João de Carvalho Junior (advogado)
- Agnaldo Bezerra Bonfim (advogado)
- Gaylussac Dantas de Araujo (advogado)
- Cesar Jorge Sechi (empresário)
- Julinere Goulart Bastos (empresária)
A reportagem entrou em contato nos telefones disponibilizados pelos advogados, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. A defesa dos empresários não foram localizadas.
A OAB-MT (Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso) informou que “todas as representações disciplinares apresentadas pelo advogado Renato Nery, assim como aquelas protocoladas contra o mesmo, correm seu curso normal, tramitando no Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB-MT, respeitando o sigilo e o rito tal qual estabelece a legislação vigente”.
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