Ataques militares israelenses mataram pelo menos 40 palestinos nesta sexta-feira (29) na Faixa de Gaza, disseram médicos, enquanto autoridades do grupo palestino Hamas viajam ao Cairo para uma nova rodada de negociações de cessar-fogo.
Os médicos disseram ter recuperado 19 corpos de palestinos mortos nas áreas do norte de Nuseirat, um dos oito campos de refugiados do enclave.
Um ataque aéreo israelense matou pelo menos 10 palestinos em uma casa em Beit Lahiya, no norte de Gaza, disseram médicos.
Outros foram mortos nas áreas norte e sul da Faixa de Gaza, acrescentaram os médicos. Não houve nenhuma nova declaração dos militares israelenses nesta sexta-feira, mas na quinta-feira (28) disseram que suas forças continuavam a “atacar alvos terroristas como parte da atividade operacional na Faixa de Gaza”.
Tanques israelenses entraram nas áreas norte e oeste de Nuseirat na quinta-feira. Eles se retiraram das áreas do norte nesta sexta-feira, mas permaneceram ativos nas partes ocidentais do campo. O Serviço de Emergência Civil Palestino disse que as equipes não conseguiram responder aos pedidos de socorro dos moradores presos em suas casas.
Dezenas de palestinos retornaram às áreas onde o exército havia recuado para verificar os danos às suas casas.
Médicos e familiares cobriram cadáveres, inclusive de mulheres, que jaziam na estrada e os levaram em macas.
“Perdoe-me, minha esposa, perdoe-me, minha querida”, disse um homem angustiado em meio às lágrimas ao lado do corpo da mulher, deitado em uma maca no chão.
Médicos disseram que um drone israelense matou Ahmed Al-Kahlout, chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Kamal Adwan, em Beit Lahiya, no extremo norte da Faixa de Gaza, onde o exército opera desde o início de outubro.
Os militares israelenses disseram não ter conhecimento de um ataque ocorrido neste local ou período.
O Hospital Kamal Adwan é uma das três instalações médicas no extremo norte da Faixa de Gaza que mal funcionam atualmente devido à escassez de suprimentos médicos, de combustível e de alimentos. A maior parte dos funcionários foi detida ou expulsa pelo exército israelense, dizem autoridades de saúde.
O serviço de emergência civil palestino, o Hamas e a agência de notícias oficial palestina WAFA estimaram em 70 o número de palestinos mortos em dois ataques israelenses em Beit Lahiya nas últimas 24 horas.
Na Cisjordânia, o presidente palestino Mahmoud Abbas pediu um cessar-fogo imediato em Gaza e acusou Israel de “usar a arma da fome contra o povo (no norte de Gaza) para os expulsar das suas terras e casas”.
O exército israelense disse que as forças que operam em Beit Lahiya, Beit Hanoun e Jabalia desde 5 de outubro visam impedir que os combatentes do Hamas se reagrupem e realizem ataques nessas áreas. Os moradores disseram que o exército estava esvaziando as cidades de Beit Lahiya e Beit Hanoun, bem como o campo de refugiados de Jabalia.
Esforços de cessar-fogo serão retomados
Na noite desta sexta-feira, duas autoridades do Hamas disseram à Reuters que uma delegação do grupo chegaria ao Cairo no sábado (29) para negociações com autoridades egípcias. A visita ocorre dias depois de os Estados Unidos terem anunciado que iniciariam novos esforços com o Catar, o Egito e a Turquia para retomar as negociações de cessar-fogo em Gaza.
Meses de negociação geraram pouco progresso, e as conversas estão suspensas.
Um cessar-fogo no conflito paralelo entre Israel e o Hezbollah do Líbano, um aliado do Hamas, entrou em vigor nesta semana, interrompendo as hostilidades que aumentaram nos últimos meses e ofuscaram o conflito em Gaza.
Ao anunciar o acordo com o Líbano, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que iria agora renovar o seu esforço para um acordo de cessar-fogo em Gaza e pediu que Israel e o Hamas aproveitem o momento.
A ofensiva de Israel em Gaza matou quase 44.300 pessoas e deslocou quase toda a população do enclave pelo menos uma vez, dizem autoridades. Vastas áreas do território estão em ruínas.
Os combatentes liderados pelo Hamas que atacaram comunidades do sul de Israel há 13 meses, desencadeando a guerra, mataram cerca de 1.200 pessoas e capturaram mais de 250 reféns, disse Israel.