A queda do governo de Bashar al-Assad na Síria, após 13 anos de uma guerra civil sangrenta e mais de 50 anos de regime da família Assad, marca o início de uma nova era para o país. No entanto, o futuro da nação permanece incerto, com múltiplos grupos rebeldes assumindo o controle de diferentes regiões.
Priscila Caneparo, especialista em Direito Internacional, em entrevista à CNN Brasil, expressou preocupação com o cenário que se desenha. “Infelizmente, não sou tão otimista com o cenário da Síria”, afirmou a especialista.
Discurso pacificador x realidade radical
Caneparo destacou que o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), principal força rebelde neste momento, está adotando um discurso mais pacificador e integrativo. No entanto, ela alerta: “O HTS era um braço da al-Qaeda do Iraque dentro da Síria. Não temos como prospectar um regime que vá respeitar solidamente os direitos humanos”.
A especialista ressalta a complexidade cultural da Síria, com diversas minorias étnicas, e questiona se estas serão de fato incluídas no novo governo ou se o discurso inclusivo do HTS é apenas retórica.
Preocupações com a implementação da Sharia
Caneparo também chamou atenção para o primeiro discurso do líder do HTS, que mencionou a implementação de um governo regido pela Sharia, lei islâmica interpretada de forma radical por grupos extremistas. “A Sharia é uma interpretação muito radical, quase errada, do Alcorão para se ter preceitos religiosos extremados”, explicou.
A especialista traçou um paralelo com a situação do Egito após a Primavera Árabe, onde a ascensão da Irmandade Muçulmana ao poder não melhorou a qualidade de vida da população e resultou em extrema repressão. “Infelizmente, prospecta-se na Síria uma radicalização desse movimento HTS, se vier a ocupar esse vácuo de poder”, concluiu Caneparo.