A crise educacional que afeta 45 crianças indígenas Warao em Cuiabá (MT) evidencia a vulnerabilidade de uma comunidade que migrou da Venezuela para o Brasil em busca de refúgio diante da crise humanitária em seu país. Em condições precárias e sem acesso à escola, essas crianças enfrentam barreiras culturais e institucionais, segundo o Ministério Público Federal (MPF), que as impedem de exercer um direito fundamental: a educação.
Além de dificuldades como falta de ensino bilíngue e inclusão cultural, as famílias Warao, que vivem em abrigos improvisados, lutam contra a ausência de creches e escolas adaptadas às suas necessidades. Para muitos, as portas das instituições públicas estão fechadas devido à burocracia, falta de políticas específicas e invisibilidade social.
Diante desse cenário, o Ministério Público Federal acionou a Justiça para garantir o acesso imediato dessas crianças ao sistema educacional. A ação civil pública movida pelo procurador da República Ricardo Pael pede que o estado de Mato Grosso e o município de Cuiabá apresentem, em até 90 dias, um plano emergencial para incluir essas crianças na rede de ensino, respeitando sua cultura e língua.
A exclusão escolar é apenas um reflexo de um problema maior: a negligência histórica com as populações indígenas refugiadas. Para as crianças Warao, estar fora da escola não significa apenas a perda do aprendizado, mas a negação de uma integração respeitosa em sua nova realidade.
Segundo a ação, é urgente que o estado ofereça ensino bilíngue e programas de alfabetização para jovens e adultos, enquanto o município disponibiliza creches e escolas adaptadas às tradições indígenas. Sem essas medidas, as crianças continuarão presas ao ciclo de exclusão social que afeta sua comunidade.
A crise das crianças Warao é mais do que um problema educacional: é um chamado para que o poder público reconheça a necessidade de políticas públicas inclusivas e eficazes. Para o procurador Ricardo Pael, garantir educação para essas crianças não é apenas uma obrigação legal, mas uma questão de justiça social e respeito à dignidade humana.
“Essas crianças são o retrato de um descaso prolongado, mas também representam uma oportunidade de mudança. Garantir sua educação é o primeiro passo para uma integração que respeite sua identidade e ofereça um futuro digno”, conclui o procurador.