Damos seguimento à infância de ontem e de hoje, reiteramos a importância do seu mundo mágico e lúdico, mas que nem por isso deixamos de oferecer aprendizado e reconhecimento do que pode e do que não pode ser feito a partir desta fase da vida.
A importância do “sim” e do “não” é algo que não pode e não deve ser subestimada, uma vez que o desenvolvimento emocional e moral do adulto estão intimamente ligados a essas duas palavras aprendidas na infância. Elas representam limites, caminhos permitidos e proibidos ao longo da vida de todo ser humano.
Os pais e professores são figuras importantes no desenvolvimento desse aprendizado. Ter limites é seguir regras e estas inicialmente são estabelecidas por essas duas figuras – pais e professores. Seguir regras, por sua vez, é transitar com segurança, mantendo um comportamento adequado.
É claro que o sim é o sinal da permissão, que abre portas para novas experiências, novas explorações, novas atividades, e desenvolve, com isso, a autoconfiança.
O não, porém, não é necessariamente o oposto. Quando se trata de obtenção de valores, ele ensina a criança a compreender aonde pode ir com suas novas explorações e a lidar com as frustrações que advêm dessa possibilidade.
A frustração, quando surge – e sempre surge, desenvolve a resiliência emocional e favorece o amadurecimento sadio da personalidade, que se forma em quase toda sua totalidade ainda no período infantil.
A inteligência emocional é o caminho da resiliência, já que segue um desenvolvimento mais saudável em que o significado de posse é melhor compreendido, no momento em que se percebe que nem sempre é possível ter tudo aquilo que se deseja, que é possível frustrar-se com a não posse dentro de um entendimento resiliente.
A partir desse ponto, as decisões da criança são tomadas de acordo com o que lhe foi passado por importantes figuras de sua vida e por tudo que ela tem percebido de acordo com suas experiências anteriores.
O sim e o não bem empregados ajudam na construção de relacionamentos sociais saudáveis e da autonomia da criança para que ela tenha suas escolhas e os possíveis ganhos ou consequências negativas dessas escolhas.
Aprender a ouvir não é um passo maior para aprender a dizer não nos momentos difíceis e perigosos da vida presente e futura. Para maior equilíbrio emocional da criança, é importante que o sim e o não também estejam equilibrados nas mãos de pais e professores.
- Mas, e quando a criança é teimosa, temperamental, comumente chamada de birrenta, como se deve agir com ela?
Pais e professores sabem perfeitamente que a birra é algo normal, presente no comportamento infantil, mas o exagero de birra mexe com os nervos de quem presencia algo dessa natureza.
Devemos ter em mente que em qualquer relação basta uma pessoa irritada, se a criança é esta pessoa, o adulto deve manter a calma. Isso por si só tanto facilita o pensar e agir do adulto, como deve diminuir o aborrecimento do infante.
A abordagem do adulto deve ser tranquila, porém firme, concedendo à criança apenas o que for exequível e necessário, evitando ceder algo incorreto e desnecessário, apenas para satisfazer a necessidade da criança.
Precisamos também atentar para fatores que desencadeiam uma reação de raiva na criança, não apenas as frustrações, como também o cansaço, a fome, o frio, o calor, a sobrecarga de exigências sobre ela, fatores estes que podem ser diminuídos, sempre que possível.
É possível algumas vezes desviar a atenção da criança para algo diferente de seu objeto de desejo ou simplesmente mostrar que ela está sendo compreendida, mas que também precisa entender que nem todos os seus desejos podem ou devem ser satisfeitos. Deve-se também oferecer alternativas aos seus pedidos, o que passa a ser meio não ou meio sim e possibilita a criança a observar novas opções.
De qualquer forma, apesar de haver necessidade de escutar a criança com gentileza, é importante estabelecer limites, propiciando, assim, o entendimento do que é aceitável ou não, desde esta fase e por toda a vida.
É bem sabido que muitas vezes a birra continua mesmo depois de toda paciência demonstrada pelo adulto, com permissões e proibições envolvidas em gentilezas. Quando isso acontece, há necessidade de maior firmeza nas ponderações do adulto, sempre explicando à criança que todos arcamos com as consequências de nossos atos e com ela não vai ser diferente. Aplica-se então um reforço negativo, retirando algo que seja do agrado do infante ou deixando de dar algo que lhe seria bem-quisto.
A criança precisa entender o que pode e o que não pode fazer. O adulto, por sua vez, precisa manejar a situação com tranquilidade, usando equilibradamente o sim e o não, tentando compreender melhor a criança e assim ensiná-la a desenvolver habilidades emocionais importantes para o resto de sua vida.
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Infância – Como anda a saúde mental das nossas crianças?