Bolo envenenado: entenda o trabalho da perícia na exumação e análise química

CNN Brasil


Em entrevista exclusiva à CNN a Marguet Mittmann, diretora Geral do Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul, detalhou os procedimentos e as complexidades da perícia que desvendou a presença de arsênio no corpo de Paulo Luiz dos Anjos, sogro da suspeita de envenenamento em série, Deise Moura dos Anjos.

Paulo Luiz faleceu em setembro de 2024, supostamente por intoxicação alimentar.

Somente após a exumação do corpo, realizada em 8 de janeiro de 2025, a equipe do IGP pôde confirmar a real causa da morte: envenenamento por arsênio.

A especialista esclareceu que a degradação do arsênio é lenta em razão da queratina, podendo permanecer por muitos anos no organismo humano. Essa característica permitiu a identificação da substância mesmo meses após o óbito.

” O arsênio permanece por muito tempo em pelos, cabelos, unhas, rins e estômago. Então podemos fazer uma exumação de anos atrás e encontrar arsênio”.

A perita explica ainda que mesmo após a decomposição é possível encontrar substâncias nos ossos do cadáver.

Assista o trecho da entrevista:

 

 

No caso do bolo envenenado, a perícia envolveu a coleta de amostras de diversos órgãos, já que o arsênio tem a capacidade de se “esconder” em diferentes materiais biológicos.

A análise revelou que a concentração de arsênio encontrada no estômago de Paulo Luiz foi a segunda maior entre as quatro vítimas fatais, sendo 264 miligramas. Tal quantidade descarta a possibilidade de intoxicação alimentar.

Mittmann também destacou a expertise da equipe do IGP e a utilização de equipamentos de ponta que permitem a detecção de substâncias tóxicas mesmo em concentrações mínimas.

A análise pericial confirmou que a via de ingestão do arsênio foi oral, e as investigações apontam para leite em pó como o alimento utilizado para o envenenamento, diferente do bolo que contaminou as outras vítimas.

A descoberta do arsênio no corpo de Paulo Luiz foi crucial para a investigação, reforçando as suspeitas de que Deise Moura dos Anjos seria uma envenenadora em série e levando a polícia a investigar outras possíveis vítimas em seu círculo familiar.

Processo de exumação

A diretora do IGP explicou que exumações são comuns e que existe um setor específico para isso. O processo de retirada de um corpo do talude, conforme detalhado em entrevista à CNN, é um procedimento complexo e realizado por uma equipe multidisciplinar, que pode envolver de 20 a 30 pessoas.

A exumação só é realizada após a solicitação da Polícia Civil e autorização judicial.

“Por respeito aos familiares, o caixão não é aberto no local da exumação. Ele é retirado da gaveta e levado ao Departamento Médico Legal (DML), onde é aberto para a realização da necropsia”

Marguet Mittmann, diretora Geral do Instituto Geral de Perícias

O corpo permanece refrigerado no DML até a conclusão de todas as análises.

Assista trecho da entrevista:

O processo de exumação envolve dois setores: o de Antropologia Forense, que faz a retirada do cadáver e a necrópsia; e o de toxicologia e química, que será responsável pela análise. “São coletadas pequenas amostras de diversas substâncias biológicas.

Neste caso do arsênio, nós coletamos baço, rim, conteúdo estomacal, e até mesmo o osso e a calota craniana. Essas amostras foram enviadas ao laboratório de toxicologia para análise”, disse.

De acordo com apuração da reportagem da CNN, o corpo do pai de Deise também será exumado. A investigação suspeita de que ela possa ter matado o próprio pai, com doses graduais de arsênio. Ele morreu em 2020, em tese, por cirrose.

Mittmann ressaltou que a exumação pode ser realizada mesmo nestes casos, anos após a morte, já que substâncias como o arsênio possuem baixa degradação e podem permanecer por muito tempo no corpo, ligando-se a grupos sulfidrilas em proteínas, enzimas e queratina presente em cabelos e unhas.

Isso possibilita encontrar a causa da morte mesmo em casos em que o corpo já se encontra em estado avançado de decomposição, restando apenas os ossos.



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