A morte de um empresário que havia acabado de tomar anestesia geral para fazer uma tatuagem reacende o alerta sobre os cuidados necessários nesse tipo de procedimento.
O empresário e influenciador Ricardo Godoi, de 46 anos, teve uma parada cardíaca durante a sedação e intubação, antes do início do desenho, informou o estúdio contratado pelo rapaz ao G1.
A fatalidade ocorreu nesta segunda-feira (20), em um hospital particular de Itapema, no Litoral Norte de Santa Catarina. O influenciador, que trabalhava no ramo de carros e tinha mais de 200 mil seguidores nas redes sociais, iria fechar as costas com uma tatuagem. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Mas, afinal, qual o risco de ser anestesiado antes de fazer uma tatuagem?
Na prática, o risco de ser anestesiado para uma tatuagem é o mesmo de qualquer outro procedimento cirúrgico. Ou seja, qualquer pessoa que é anestesiada pode sofrer complicações devido à sedação, e não necessariamente devido à tatuagem.
O que pode resultar complicações é o estado de saúde da pessoa ou a presença de doenças que possam comprometer ou até impedir a realização do procedimento. Daí a necessidade de exames prévios para analisar o estado do paciente, conforme explica Esthael Cristina Querido Avelar, médica anestesiologista pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
“Alguns tipos de medicações fazem com que ocorra a inibição da respiração espontânea do paciente. Quando fazemos anestesia geral, obrigatoriamente provocamos isso, e se o médico, por alguma questão anatômica, não conseguir ter acesso à via aérea do paciente, há risco de causar hipoxemia ou falta de oxigênio nos tecidos”.
Esthael Cristina Querido Avelar ao G1.
Já o médico anestesiologista George Miguel Goes, especialista no tratamento da dor do Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta que, para receber anestesia, o paciente precisa de preparação, como o jejum de oito horas.
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“Há o risco de broncoaspiração, o alimento que está no estômago ir parar nos pulmões, se o paciente não estiver em jejum. Essa é uma complicação frequente. Também podem ocorrer problemas com alergias, arritmias, crises de asma. Tudo isso precisa ser ponderado antes de administrar a anestesia”.
George Miguel Goes ao G1.
Além disso, o especialista também ressalta que deve ser levado em conta o tempo do procedimento. Quanto maior o tempo para a conclusão do desenho, maior será o uso de medicação e, consequentemente, o risco.
“Algumas medicações também podem provocar uma queda muito abrupta, dependendo da dose, da pressão do paciente e da frequência cardíaca. Por isso, o procedimento deve ser feito em um ambiente seguro e por um anestesista”.
George Miguel Goes ao G1.
Diferença entre sedação e anestesia geral
Anestesia geral: o paciente para de respirar espontaneamente, sendo necessário um ventilador mecânico. É aplicada em ambiente hospitalar e exige equipamentos específicos para monitoramento.
Sedação: pode ser leve, moderada ou profunda. O paciente é induzido ao sono e pode despertar durante o procedimento, mas a dor é minimizada. Clínicas liberadas pela Anvisa realizam procedimentos com sedação.
O que diz a Sociedade Brasileira de Anestesiologia
É importante esclarecer que esse tipo de abordagem não é recomendada pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia. A entidade também ressalta que a sedação só deve ser ministrada por um profissional especializado.
“A Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) não recomenda o uso de qualquer tipo de anestesia para tatuagens. Reiteramos que a segurança da anestesia está relacionada a ser administrada por um profissional médico com especialização em anestesiologia”.
Sociedade Brasileira de Anestesiologia.
Contudo, apesar de não ser recomendado, também não há nada que proíba esse tipo de procedimento, desde que sejam seguidas todas as normas dos conselhos Federal e Regional de Medicina.
O que diz o CRM (Conselho Regional de Medicina)
“É necessária a obtenção de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assinado pelo paciente ou responsável legal, contendo os principais riscos da anestesia, bem como a identificação do médico responsável pela sua realização. Como sugestão, um TCLE direcionado para o procedimento, informando que o paciente não será capaz de opinar/interagir com o profissional durante a sedação/anestesia”
CRM de Santa Catarina.
No caso do empresário, esses cuidados foram seguidos. Ao G1, o estúdio de tatuagem informou que todos os protocolos necessários foram seguidos. Ricardo “assinou o termo de consentimento de risco do procedimento” e um “médico com especialização em anestesiologia e experiência em intubação, cuja documentação foi aprovada pelo hospital”, esclareceu.