O presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, prometeu “uma resposta vigorosa e coordenada” contra uma aliança rebelde que reivindicou áreas do leste do país, rico em minerais, e forçou centenas de tropas locais a se renderem.
Em um discurso desafiador televisionado na quarta-feira (29), Tshisekedi declarou que seu país não seria “humilhado ou esmagado” enquanto os líderes regionais pressionam por negociações com os rebeldes.
Goma, a maior cidade na província de Kivu do Norte, no leste da RD Congo, caiu sob o controle da coalizão rebelde AFC/M23 na segunda-feira (27), disseram os rebeldes à CNN. Esta foi a mais recente de uma série de aquisições territoriais pelo grupo nas últimas semanas. O governo congolês não confirmou a tomada de poder dos rebeldes em Goma, mas reconheceu que a cidade estava sob cerco.
De acordo com vários relatos locais, os rebeldes também estão avançando em direção ao centro da vizinha Kivu do Sul após tomar cidades na província.
O governo congolês acusou seu vizinho Ruanda de equipar o M23 com armas e tropas. Ruanda não nega as alegações, mas criticou a RD Congo por colaborar com um grupo de milícia hutu contra um grupo rebelde majoritariamente tutsi, o CNDP, do qual o M23 surgiu.
Milícias hutus realizaram o genocídio de tutsis e hutus moderados em Ruanda em 1994.
Tshisekedi não estava presente quando os líderes da África Oriental se encontraram na quarta-feira (29) para encontrar soluções para a crise. Naquela reunião, eles o instaram a “se envolver diretamente com todas as partes interessadas, incluindo o M23 e outros grupos armados que têm queixas”.
O presidente ruandês, Paul Kagame, que participou da reunião, disse que o único caminho para a paz seria que todas as partes se engajassem no diálogo e que os mediadores entendessem o contexto do conflito.
Várias pessoas, incluindo soldados estrangeiros das forças de paz, teriam morrido e centenas ficaram feridas enquanto as forças congolesas lutam para repelir os rebeldes.
Em Goma, onde moradores disseram à CNN que os combates persistem, centenas de tropas do governo foram desarmadas pelo M23, de acordo com o exército uruguaio, cujas tropas fazem parte da missão de paz das Nações Unidas na área.
Mercenários estrangeiros que supostamente estavam ajudando o exército da República Democrática do Congo também se renderam, de acordo com o exército de Ruanda, que disse na quarta-feira (29) que “recebeu e escoltou mais de 280 mercenários romenos que estavam lutando ao lado das Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) na parte oriental da RDC”.
A CNN entrou em contato com o exército congolês para comentar sobre o suposto uso de mercenários.
Como o conflito poderia se desenrolar?
À medida que as tensões aumentam no leste da República Democrática do Congo, as autoridades se deparam com “dois cenários possíveis que podem se desenrolar”, de acordo com uma análise de Ladd Serwat, analista africano sênior da ACLED, um grupo sediado no Reino Unido que coleta dados sobre conflitos violentos.
“O controle de Goma pelo M23 e pela Forças Ruandesas de Defesa pode levar o governo congolês e aliados regionais a negociar”, disse Serwat. Caso contrário, ele acrescentou, “Kinshasa pode pressionar por uma solução militar e ampliar o conflito por meio de batalhas maiores para retomar Goma e ataques transfronteiriços em Ruanda”.
Tshisekedi já havia ameaçado entrar em guerra com Ruanda. Kagame respondeu na mesma moeda.
“Estamos prontos para lutar”, disse Kagame à rede francesa France 24 em junho do ano passado, acrescentando: “Não temos medo de nada”.
