Em depoimento à Polícia Civil, Diego dos Anjos, marido de Deise Moura dos Anjos, principal suspeita de envenenar um bolo que resultou em três mortes em Torres, no Rio Grande do Sul, revelou detalhes sobre seu relacionamento com a acusada.
Apesar de cogitar a separação após a morte do pai, Paulo Luiz dos Anjos, Diego mencionou que a presença do filho o fez permanecer no casamento.
A ausência da mãe, presa desde o início de janeiro, tem feito Diego manter o símbolo matrimonial, a aliança, como forma de conforto ao filho. Ele afirmou que “ainda que usa aliança pelo fato de seu filho relacionar o anel à genitora”. As informações estão no depoimento de Diego e Zeli dos Anjos.
Casamento abalado desde a morte do pai
Diego relatou que o relacionamento com Deise se deteriorou após a morte de seu pai, que também foi vítima de envenenamento por arsênio, conforme apontam as investigações.
A polícia acredita que Deise envenenou o leite em pó que Paulo consumiu, causando sua morte três meses antes do incidente do bolo. Inicialmente, Diego acreditava que a morte do pai havia sido causada por uma “banana da enchente”.
Diego disse que após a morte de seu pai, “o relacionamento piorou e o casal passou a cogitar a separação”. Ele relatou que “nunca chegou a falar claramente à Deise que gostaria de separar, apenas pensava na dinâmica de como seriam as questões que envolvessem a separação. De certa forma, ‘o filho segurou o casamento’”.
O depoimento de Diego também trouxe à tona a instabilidade emocional de Deise. Ele a descreveu como “briguenta”, com mudanças de humor repentinas. Além disso, Diego mencionou um desentendimento com Deise sobre onde sua mãe, Zeli dos Anjos, passaria o Natal, indicando a tensão familiar existente. Deise queria que a sogra passasse o Natal com eles, enquanto Zeli preferia passar a data com suas irmãs.
Apesar das dificuldades no casamento, Diego afirmou que o filho foi um fator crucial para mantê-lo na relação, mesmo considerando a separação.
Fotos – veja quem é quem no caso
-
1 de 8
Deise Moura dos Anjos é a principal suspeita dos envenenamentos. Nora de Zeli, ela é acusada de ter envenenado o bolo que matou três pessoas e deixou outras duas internadas • Redes Sociais
-
2 de 8
Zeli dos Anjos é a sogra de Deise e a responsável por preparar o bolo envenenado. Ela ficou internada em estado estável na UTI do Hospital Senhora dos Navegantes e recebeu alta em 10 de janeiro. Zeli também foi vítima de uma tentativa de envenenamento por Deise, assim como duas de suas irmãs. A polícia acredita que ela era o principal alvo • Redes Sociais
-
3 de 8
Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, era irmã de Zeli. Ela foi uma das vítimas fatais da tragédia familiar. Para os investigadores, ela também tinha desentendimentos com Deise, em decorrência da antipatia da suspeita com a sua filha, Tatiana Denize • Redes Sociais
-
-
4 de 8
Tatiana Denize aparece como um dos exemplos que mais simbolizam a banalidade das motivações da suspeita. Denize decidiu se casar em uma igreja, cujo desejo de realizar a cerimônia matrimonial era de Deise. O fato da prima escolher o mesmo local, e realiza-lo antes dela, nunca teria sido aceito • Redes Sociais
-
5 de 8
Matheus, de 10 anos, foi uma das vítimas da intoxicação do bolo com arsênio. Filho de uma das vítimas, a criança sobreviveu e foi a primeira pessoa liberada do Hospital de Navegantes. A polícia acredita que ele não era um dos alvos de Deise, mas acabou envenenado por consumir o bolo • Redes Sociais
-
6 de 8
Maida Berenice Flores da Silva, 59 anos, era irmã de Zeli e consumiu o bolo no café da tarde que intoxicou a família. Por enquanto, não há informações sobre quais seriam os desentendimentos dela com Deise • Redes Sociais
-
-
7 de 8
Paulo Luiz dos Anjos era sogro de Deise, e morreu em setembro de 2024 por uma suposta infecção intestinal. A polícia exumou seu corpo e encontrou arsênio, confirmando que ele também foi envenenado, possivelmente por meio de leite em pó entregue por Deise • Redes Sociais
-
8 de 8
Diego Silva dos Anjos é filho de Zeli dos Anjos e Paulo Luiz, que morreu em setembro de 2024. Ele é casado com Deise há mais de 20 anos. A Polícia Civil, em coletiva, descartou, por ora, a possibilidade do envolvimento deles nos envenenamentos.
O marido ainda relatou um desentendimento com Deise ocorrido no dia 21 de novembro de 2024. “Deise queria que Zeli passasse o Natal com eles (ela, marido e filho), sendo que a sogra queria passar a data com as irmãs dela”, consta no depoimento.
Ainda segundo o relato, Diego saiu de casa e foi para a residência da mãe, em Canoas, retornando apenas no dia 25 de novembro para Nova Santa Rita. “Neste desentendimento, de fato, segurou Deise pelos braços, pois estava jogando as roupas no depoente”, consta.
Diego, porém, disse no depoimento que não acredita que a esposa tenha envenenado a farinha.
Diego, Deise e o filho moram em Nova Santa Rita. A sogra tem residências em Canoas e Arroio do Sal. O Natal onde ocorreu a tragédia foi no apartamento de Maida (irmã de Zeli), em Torres.
Além de Maida, outra irmã de Zeli, Neuza, morreu na madrugada do dia 24 de dezembro depois de ingerir o bolo com arsênio. Tatiana, sobrinha, morreu após ser hospitalizada, no dia 25.
O sobrinho-neto, Matheus, e a sogra, Zeli, foram hospitalizados e receberam alta posteriormente.
Preparo do bolo
Também em depoimento, Zeli revelou o passo a passo do preparo do alimento.
Dos ingredientes que tinha em casa, Zeli afirmou no depoimento que “utilizou a farinha que estava embaixo da pia, passa pretas e frutas cristalizadas”. A sogra afirmou ainda que “esqueceu de colocar fermento no bolo”.
O glacê do bolo “foi feito com o açúcar que tinha em casa”. Durante o preparo, ela afirmou que “não experimentou a massa do bolo, nem sentiu odor diferente.
No entanto, Zeli disse que “achou a farinha estranha”. A sogra conta que “peneirou”, mas pensou que a farinha era de baixa qualidade por ser de doação e de uma marca desconhecida – a doação se refere à ajuda para vítimas de enchentes no RS.