O pastor que cobrou para curar e agora é alvo do Ministério Público em MS


Em momentos de dor, é na fé que muita gente encontra paz. É na esperança de uma força divina, que faz o impossível, que, às vezes, se volta a encontrar a vontade de viver.

Mas nem sempre a busca por conforto está nas orações. Por vezes, o desespero é tanto que se busca algo mais. E foi assim que o destino de uma moradora de Dourados, cidade que fica a 226 quilômetros da capital Campo Grande, cruzou com o do “pastor” David Tonelli Mainarte, de 46 anos.

David Tonelli durante pregação (Vídeo: Retirado da Internet)

O ano era 2016.

David usava o Facebook e o YouTube para divulgar seu ministério. Os vídeos eram carregados de promessas. Quem procurasse David via dentes crescerem na hora, seios serem reconstruídos sem nenhuma cirurgia, paralíticos voltarem a andar, cegos enxergarem e cicatrizes sumirem.

É lógico que na internet os “milagres” ganharam repercussão. Não demorou a alcançarem as telas sul-mato-grossenses.

Em Dourados, eles “tocaram” o coração de uma mulher. Ela carregava uma cicatriz na perna e a promessa de cura a fez entrar em contato com David, ainda pelas redes sociais.

Ele respondeu à fiel, que aqui vou chamar de vítima; contou que morava em São Paulo e que, para atender em Mato Grosso do Sul, precisava que ela arcasse com as despesas de passagem, hospedagem, alimentação e ainda um valor, em espécie, de R$ 1680,00.

Ela aceitou e fez a transferência do dinheiro.

“A vítima, desesperada com seu problema e acreditando na veracidade da promessa de cura, efetuou o pagamento exigido, tendo o imputado se deslocado até Campo Grande para dar continuidade ao suposto tratamento”.

Na capital do estado, David encontrou a vítima e, por mais de uma vez, efetuou suas “sessões de cura”. Usava o nome de Deus, mas não teve sucesso, claro.

Quando a vítima questionou o porquê disso, David sumiu; não respondeu mais às mensagens, não atendeu ligações. Foi só nesse momento que a vítima percebeu ter caído em um golpe.

A mulher procurou a delegacia e o caso foi parar na justiça. Na época, em depoimento, David negou o crime. Afirmou que a vítima não teria “finalizado as sessões de cura propostas por ele”, mas para o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, nunca houve sequer a intenção de que isso ocorresse.

Nas palavras do promotor João Linhares, todo o discurso de David, todos os vídeos e postagens, não passavam de “exposições fraudulentas e irreais de processos de cura”.

Para ele, tudo que o homem fez foi “dissimular um tratamento milagroso, criando, inclusive, uma página no Facebook e um canal no YouTube, com desiderato de fazer parecer que estava curando pessoas por meio de poderes sobrenaturais”.

Foi por isso que, no dia 22 de janeiro deste ano, nove anos depois do golpe, o promotor denunciou o suposto pastor David Tonelli Mainarte por estelionato religioso, crime enquadrado no artigo 171 do Código Penal.

O caso rapidamente ganhou repercussão nacional; não é por menos, brincar com a fé de quem espera por uma cura é mais comum do que deveria, mas poucos casos chegam à justiça.

Os vídeos e publicações feitos por David não estão mais disponíveis, mas o Ministério Público ainda guarda as cópias. Tudo está no processo, mas o caso segue em análise em segredo de justiça.

A denúncia feita pelo promotor João Linhares, carregada de provas e depoimentos, foi aceita pelo juiz Marcelo de Silva Cassavara, da 1ª Vara Criminal de Dourados, que também estipulou um prazo de 10 dias para a defesa do acusado se manifestar, prazo que ainda está em curso.

A coluna Capivara Criminal teve acesso apenas a uma pequena parte da ação, o suficiente para entender que nem a devolução dos R$ 1,6 mil, nem a condenação de David por estelionato vão aplacar a dor de quem acreditou nas palavras de cura e, no fim, perdeu a fé.

A reportagem tentou localizar David, mas não obteve sucesso. O espaço segue aberto.**



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