O interesse norte-americano deu força ao movimento pela independência da Groenlândia e posicionou melhor o tema para futuras conversas sobre uma separação da Dinamarca, avaliou o principal partido local pró-independência.
A ilha do Ártico deve ir às urnas no dia 11 de março, em eleição que tem a independência como seu principal tema, após as recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que a Dinamarca deveria ceder o controle do território aos EUA devido à sua importância estratégica para a segurança nacional norte-americana.
“Os comentários de Trump e a nova linha do governo dos EUA certamente deram mais impulso ao movimento pela independência por aqui”, disse à Reuters Juno Berthelsen, candidato na eleição de 11 de março pelo Partido Naleraq.
A legenda, voz política mais proeminente a favor da independência da Groenlândia, faz campanha para que seja invocado artigo de uma lei de 2009 que concedeu mais autonomia à ilha, inclusive o direito a negociar sua independência total.
Se a lei for aplicada, a Groenlândia iniciará negociações com a Dinamarca, que concede subvenções anuais vitais para a economia da Groenlândia. Qualquer acordo exigirá a aprovação do Parlamento dinamarquês e um referendo na Groenlândia.
“O interesse que estamos vendo é uma coisa boa para a Groenlândia, no sentido de negociar com o Estado dinamarquês”, disse Berthelsen.
A maioria dos dinamarqueses considera a Groenlândia uma parte importante do país, mas também acredita que a ilha deve ser livre para decidir seu futuro, mostrou uma pesquisa com 1.000 adultos na Dinamarca conduzida entre 31 de janeiro e 4 de fevereiro pela Ipsos.
Cerca de 62% dos entrevistados disseram que a Groenlândia era um importante território da Dinamarca, mas 77% apoiam a autodeterminação da ilha. Um total de 79% são contra a venda da ilha aos EUA pelo governo dinamarquês.
Na quinta-feira, o partido Siumut, que governa a Groenlândia e que antes via a independência como uma meta de longo prazo, disse que buscará realizar uma votação sobre o tema após a eleição geral do próximo mês.
Os comentários de Trump desencadearam uma crise política em Copenhague. O governo admitiu que negligenciou a defesa da Groenlândia por muito tempo. Na semana passada, parlamentares dinamarqueses concordaram em usar cerca de U$ 2 bilhões para reforçar a presença militar na ilha.
Com o território se tornando um Estado independente, o Naleraq buscaria um acordo de defesa com os EUA e uma chamada “associação livre” com a Dinamarca ou outro país, possivelmente os próprios Estados Unidos, disse Berthelsen.
A Groenlândia foi uma colônia dinamarquesa até 1953, quando se tornou oficialmente parte do país. A ilha ganhou mais autonomia em 1979, com o estabelecimento de seu Parlamento, e recebeu autonomia mais ampla em 2009.
“Já é hora de seguirmos em frente e vermos que a independência é o caminho a seguir para o povo groenlandês, porque estamos esperando por isso há muito tempo”, concluiu Berthelsen.