quem responde pela morte do aluno em curso de bombeiros?


Terça-feira, 27 de fevereiro de 2024: o sonho de ser bombeiro militar morre com o aluno! Assim podemos resumir o caso Lucas Veloso, soldado de 27 anos que morreu afogado durante um treinamento do Corpo de Bombeiros, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, há exatamente um ano.

Até aqui, familiares enfrentaram revolta e busca por Justiça: o inquérito apontou que a vítima teria tomado um “caldo” – forçado a mergulhar e se afogou – enquanto isso, a defesa de um dos denunciados por envolvimento pediu um exame de necropsia para alegar uma suposta arritmia cardíaca sofrida pelo soldado, o que poderia configurar um mal súbito.

Lucas Veloso Peres, soldado em treinamento, morreu há 1 ano em Cuiabá. (Foto: Arquivo Pessoal)

Morre o sonho de ser bombeiro

Natural de Caiapônia, em Goiás, Lucas Veloso Peres saiu de casa aos 14 anos para cursar o ensino médio e faculdade de Engenharia Mecânica em outra cidade, onde morava com o irmão.

Em 2019, ele foi para Brasília se preparar para concursos públicos e, no início do ano seguinte, em meio à pandemia, teve que voltar para casa dos pais.

Ao Primeira Página, o pai de Lucas, Cleuvimar Veloso, contou que o filho tinha uma renda fixa como dono de imóveis na cidade natal, mas mesmo assim queria seguir o sonho de ser bombeiro.

Ele decidiu fazer o concurso, foi aprovado e viajou para Mato Grosso, onde a história dele se encerraria de forma cruel, cerca de 9 meses mais tarde.

“Lucas era instrutor de rapel, corria e andava de bicicleta com frequência, era um menino que estava preparado fisicamente para esse objetivo dele”, contou o pai.

Lucas praticava exercícios constantemente, segundo o pai. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lucas praticava exercícios constantemente, segundo o pai. (Foto: Arquivo Pessoal)

Tomou um “caldo”

Um dia após o caso, o Corpo de Bombeiros abriu um inquérito para apurar as causas da morte da vítima.

Em prints de um aplicativo de mensagens vazados, colegas de Lucas sugerem que ele teria sofrido um “caldo”, um tipo de pressão para ser afogado por terceiros. Ainda nas mensagens, os alunos do treinamento disseram que iriam falar perante a Justiça.

PRINT CASO LUCAS VELOSO
Prints de conversas entre colegas de curso de bombeiros. (Foto: Reprodução)

Na época, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SESP-MT) disse, por meio de nota, que já havia aberto uma investigação sobre a causa da morte de Lucas. No entanto, o Corpo de Bombeiros não se pronunciou sobre as mensagens.

Falta de ar no treinamento

No dia da morte, o delegado Nilson Farias atendeu equipes de reportagem ainda no hospital H-Bento, onde Lucas havia dado entrada com parada cardíaca. Segundo o delegado, o aluno relatou ter sentido falta de ar enquanto tentava mergulhar na Lagoa Trevisan.

Lagoa Trevisan
Treinamento de salvamento era realizado na Lagoa Trevisan, em Cuiabá. (Foto: Léo Zamignani)

Em depoimento à Polícia Civil, bombeiros que estavam presentes no curso, informaram que Lucas tentou se agarrar em um equipamento de apoio, mas acabou perdendo as forças e afundou na água.

Foi então que um capitão que estava presente retirou Lucas da água, inconsciente, e o levou em um barco até as margens da lagoa – onde uma manobra de reanimação cardiopulmonar foi feita no aluno.

Ainda em parada cardíaca, Lucas foi encaminhado ao hospital em Cuiabá e, na unidade, equipes médicas ainda tentaram uma nova manobra de reanimação, mas a morte foi confirmada.

Por meio de nota, o Corpo de Bombeiros afirmou que o soldado teria sofrido um mal súbito durante o curso.

Morte por asfixia confirmada

Ainda no ano passado, o inquérito concluiu que Lucas morreu por asfixia por afogamento.

Segundo as investigações, durante as atividades do curso, o capitão Daniel Alves de Moura e Silva – mais tarde denunciado pelo Ministério Público – organizou os alunos em grupos para atravessarem a lagoa a nado.

Durante o percurso, Lucas teve dificuldades em continuar, por exaustão, e usou o flutuador para descansar. Então, o capitão determinou que a vítima soltasse o flutuador e continuasse o nado.

“Desconsiderando o estado de exaustão do referido aluno, determinou que a vítima soltasse o flutuador e continuasse o nado crawl, ocasião em que o ofendido tentou, por diversas vezes, dar prosseguimento à atividade aquática, sendo que, diante das dificuldades, voltava a buscar o flutuador”, diz trecho do inquérito.

Depois, o capitão teria pedido para que o soldado Kayk Gomes dos Santos – também denunciado – retirasse o flutuador de Lucas e, nesse momento, teria aplicado diversos “caldos” na vítima.

O documento diz, ainda, que Lucas pedia constantemente para sair da água e gritava por socorro. O capitão então desceu do pranchão em que estava e ordenou que os outros alunos seguissem na frente e deixassem a vítima para trás, sob a sua supervisão. Quando virou, percebeu que Lucas tinha submergido.

Ao retornar à superfície, Lucas estava inconsciente, teve uma parada cardiorrespiratória e morreu no local.

Suspeitos denunciados

Três meses após a morte do soldado, o Ministério Público de Mato Grosso denunciou, por suspeita de envolvimento no caso, o capitão Daniel Alves de Moura e Silva, que comandava a atividade prática de instrução de salvamento aquático, e o soldado Kayk Gomes dos Santos, que atuava como monitor.

Além da denúncia, o Ministério pediu indenização de mais de R$ 1 milhão em danos causados aos familiares da vítima.

Na época, a defesa do capitão Daniel Alves, afirmou que ele estava sendo acusado de “crime que não cometera, não havendo qualquer prova de que tenha agido com dolo, ainda que eventual, contra o aluno soldado Lucas Veloso“.

A defesa ainda solicitou à Justiça a contratação de um perito médico cardiologista arritmologista para realizar uma perícia sobre a existência de arritmia cardíaca em Lucas Veloso, além de um perito médico psiquiatra para avaliar a utilização de medicamentos pela vítima.

Duas audiências de custódia sobre o caso já foram realizadas pela Justiça, nos dias 11 de novembro de 2024 e 19 de fevereiro de 2025.

Todos os exames periciais, bem como a presença dos médicos responsáveis pelas assinaturas, devem ser apresentados durante a próxima audiência, prevista para o dia 22 de maio deste ano.

“O Lucas não teve oportunidade de se defender para sua sobrevivência. Minha vida virou de cabeça para baixo… Ainda bem tenho uma família estruturada e religiosa, é o que nos sustenta de pé”, afirma o pai emocionado.

Lucas ao lado dos pais. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lucas ao lado dos pais. (Foto: Arquivo Pessoal)

O que diz a defesa do Capitão

Ao Primeira Página, a advogada Priscila Alves, que defende o capitão Daniel Alves, alegou por meio de nota, que a defesa tomou conhecimento de que Lucas Veloso teria arritmia, doença pulmonar congênita e “usava medicações controladas de caráter psiquiátrico, com contraindicação para atividades de risco”.

“Venho prestar o presente esclarecimento, informando que na verdade a defesa desde que tomou conhecimento de que o aluno tem arritmia, doença pulmonar congênita e que usava medicações controladas de caráter psiquiátrico, com contra indicação a atividades de risco; solicitou ao juiz que fosse deferido o pedido de perícia por médicos peritos especializados na área cardiológica e psiquiátrica. Pedido este prontamente deferido pela justiça.
Além disso, a defesa do capitão, juntou laudo complementar com base na necropsia já existente, avaliado pelo médico perito Dr. Fernando Esberard, o qual declarou em juízo que de acordo com o exame de todas as provas contidas no processo, o aluno faleceu de mal súbito por ter arritmia e outras complicações de saúde detectadas, inclusive, na necrópsia, como uma má formação pulmonar.
É importante esclarecer também, que o próprio Aluno declarou ao CBMMT que deveria tomar medicações psicotrópicas, sendo apresentado pelos advogados de seus pais, agora no processo, uma receita médica datada de janeiro de 2024, onde foi prescrito por psiquiatra que o aluno deveria tomar, por 4 meses, tais medicações, conforme consta no processo.
Essas medicações associadas tem efeitos colaterais que implicam em várias circunstâncias que pelo edital do concurso ele sequer deveria estar no curso de formação, assim como a arritmia deveria tê-lo afastado do concurso desde o início do processo de seleção.
Diante de todas essas constatações médico-legais, as quais fazem prova, por documentos presentes no processo, o juiz militar pediu que os peritos da necropsia da Politec fossem ouvidos para esclarecer esses dados
.
Aproveito a oportunidade para alertar a mídia para o fato CABAL de que todas as testemunhas da acusação, logo, do Ministério Público, já desmentiram que viram o capitão empreender caldos no aluno, e que no dia 27/02, na data do óbito não viram caldos, que o capitão não mandou dar caldos e que viram o aluno ao lado do capitão nadando com ele, SEM afundar”, disse a nota.

O que diz o Corpo de Bombeiros

Na época da morte do aluno, a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros de Mato Grosso (ACS-MT) lamentou a morte do militar e se solidarizou com a família e amigos do jovem, por meio de nota.

“Recebemos com muita tristeza a informação da perda do militar, que tinha o sonho de construir carreira e salvar vidas das pessoas que fazem parte de nossa sociedade. A equipe de instrutores e alunos também estão muito abalados com o que houve e estamos também dando o suporte necessário neste momento”, lamentou o presidente da Associação, sargento Laudicério Machado.

Conforme a associação, desde a comunicação do fato, ofereceu amparo à equipe de instrutores e acompanha de perto a apuração dos fatos.

“Sabemos de todo preparo técnico dos instrutores e do aparato de segurança para que os treinamentos ocorram com todo zelo possível para formação de bons profissionais. O Aluno Soldado BM Lucas Veloso recebeu todo socorro necessário, mas, infelizmente, houve esta fatalidade.
Os instrutores/monitores associados ao comunicar a este representante associativo, relataram que o aluno já tinha feito treinamentos anteriores na lagoa. Iniciou a aula bem, como de costume, mas ao tomar posse do equipamento “flutuador”, foi perguntado se estava em condições de finalizar a atividade e ao entender que poderia, foi continuado.
No momento em que ele afundou, imediatamente foi resgatado a iniciadas as manobras necessárias para retirá-lo da água e reanimação. Entre a remoção da lagoa até a chegada ao hospital, ele recebeu o atendimento adequado, contudo, não houve sucesso em reanimá-lo.
Aparentemente, ele sofreu um mal súbito, mas vamos acompanhar a apuração e esperar o resultado da perícia para saber a real causa da morte. Sabemos que foi feito todo o possível. A ACS/MT acompanha as investigações e espera a breve elucidação dos fatos”
, diz trecho da nota enviada à reportagem.

  1. Lucas Veloso: 2ª audiência sobre morte durante curso de bombeiros é hoje

  2. Prints vazam: alunos do bombeiros dizem que morto em curso tomou “caldo”

  3. Aluno relatou falta de ar antes de morrer em treinamento de bombeiros em MT

  4. Aluno morre afogado durante treinamento do Corpo de Bombeiros em Cuiabá



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