Uma grande operação policial realizada nesta sexta-feira (14) expôs os bastidores de um sofisticado esquema criminoso que manipulava licitações públicas em diversas cidades de Mato Grosso. Batizada de “Cenário Montado”, a ação foi deflagrada pela Polícia Civil, por meio da 1ª Delegacia de Polícia de Barra do Garças, em parceria com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
O foco da operação é desarticular uma rede de empresas do ramo de eventos e shows que, de forma coordenada, fraudava processos licitatórios por meio de companhias de fachada e uso de “laranjas”. A estratégia do grupo consistia em forjar concorrência em certames públicos, garantindo que contratos fossem direcionados para empresas ligadas ao próprio esquema criminoso.
Como funcionava o esquema
Segundo as investigações, o grupo criava empresas sem estrutura física, sem quadro de funcionários ou movimentação financeira compatível. Essas organizações eram formalmente registradas, mas serviam exclusivamente para dar aparência de legalidade aos processos de contratação pública.
Durante as licitações, os envolvidos simulavam uma disputa entre diferentes empresas — todas elas controladas pelo mesmo núcleo criminoso. Essa farsa permitia que o grupo vencesse os certames com facilidade, assegurando contratos com prefeituras e órgãos públicos em diversos municípios.
Os alvos da operação são empresários e funcionários diretamente ligados às empresas suspeitas. Eles são investigados por crimes de fraude à licitação, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e associação criminosa.

Operação mobilizou mais de 50 ordens judiciais
Ao todo, a Operação Cenário Montado cumpre 58 ordens judiciais, incluindo:
- 13 mandados de busca e apreensão;
- 9 mandados de sequestro de bens e valores;
- 27 ordens de quebra de sigilo bancário, fiscal e de dados;
- 9 determinações de suspensão das atividades das pessoas jurídicas envolvidas.
Entre os bens apreendidos estão 18 veículos pesados, 13 automóveis de passeio, 4 embarcações, 2 motocicletas e 3 imóveis. Além disso, foram bloqueados valores que ultrapassam R$ 2,5 milhões.
Operação integra programa Tolerância Zero
A ação faz parte da Operação Inter Partes, dentro do programa Tolerância Zero, desenvolvido pelo Governo do Estado, com foco no combate às organizações criminosas e no fortalecimento da repressão qualificada.
Sob coordenação dos delegados Pablo Borges Rigo e Adriano Marcos Alencar, a operação representa mais um passo na ofensiva contra fraudes estruturadas que lesam os cofres públicos.

Próximos passos
Com a deflagração da operação, a Polícia Civil e o Gaeco concentram agora os esforços na análise do material apreendido e no rastreamento dos valores desviados. Novas fases da operação não estão descartadas, e os investigadores já trabalham para identificar outros contratos públicos que possam ter sido fraudados pelo grupo.
Significado do nome da operação
O nome “Cenário Montado” ilustra perfeitamente a dinâmica do esquema: tudo era meticulosamente arquitetado para simular uma falsa legalidade. Assim como um palco é montado para encenar uma peça, o grupo organizava licitações com aparência de concorrência real, quando tudo não passava de uma encenação para enganar a administração pública.
As investigações seguem em sigilo, mas as autoridades destacam que os desdobramentos da operação devem atingir outros municípios e revelar novos personagens envolvidos no esquema.