Mais de um milhão de pessoas em Mianmar ficarão sem assistência alimentar vital fornecida pelo Programa Mundial de Alimentos (WFP na sigla em inglês) a partir de abril devido a déficits críticos de financiamento. Esse é o mais recente corte no apoio humanitário da agência da ONU.
“Esses cortes ocorrem no momento em que o aumento de conflitos, deslocamentos e restrições de acesso já estão aumentando drasticamente as necessidades de ajuda alimentar”, comentou o WFP nesta sexta-feira (14), alertando que os cortes afetariam grupos que dependiam inteiramente dele para alimentação.
O programa, que se descreve como a maior organização humanitária do mundo, disse nos últimos meses que a falta de financiamento significaria cortes nas operações no Afeganistão, em partes da África e em campos de refugiados em Bangladesh, deixando milhões de pessoas com fome.
Mianmar está em turbulência desde o início de 2021, quando os militares tomaram o poder de um governo civil eleito, desencadeando um movimento de protesto que se expandiu para uma rebelião armada nacional.
Quase 20 milhões de pessoas em Mianmar precisam atualmente de assistência humanitária, e estima-se que 15,2 milhões — cerca de um terço da população do país — estejam enfrentando insegurança alimentar aguda, segundo especialistas em direitos humanos da ONU.
Um porta-voz da junta não respondeu a uma ligação da Reuters.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, estava nesta sexta-feira (14) no maior assentamento de refugiados do mundo em Cox’s Bazar, em Bangladesh, onde mais de um milhão de rohingyas enfrentam uma redução pela metade de rações alimentares apoiadas pelo PMA para apenas US$ 6 por mês a partir de abril.
“Posso prometer que faremos de tudo para evitar isso”, Guterres falou aos repórteres durante visita aos campos, onde os rohingyas já vivem na pobreza.
“Conversarei com todos os países do mundo que podem nos apoiar para garantir que os fundos sejam disponibilizados.”
O WFP não elaborou sobre o déficit de financiamento e se foi devido à decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de cortar a ajuda externa dos EUA globalmente.
A agência anunciou que precisava de US$ 60 milhões para manter suas operações de assistência alimentar em Mianmar este ano.
Também foi dito que os cortes afetariam comunidades em Mianmar, incluindo cerca de 100 mil pessoas deslocadas internamente, compreendendo as comunidades minoritárias muçulmanas Rohingya e outras.
“O WFP também está profundamente preocupado com a próxima temporada de escassez – de julho a setembro – quando a escassez de alimentos atinge mais duramente”, diz o comunicado.
O conflito em Mianmar, que tomou conta de grandes áreas do país, contaminou terras agrícolas com minas terrestres e munições não detonadas e destruiu equipamentos agrícolas, tornando a produção local de alimentos mais desafiadora, segundo especialistas em direitos humanos da ONU.
“Mesmo onde há terras aráveis, há escassez de trabalhadores devido ao deslocamento em massa e pessoas fugindo do recrutamento militar”, disseram em um comunicado na quinta-feira (13).