O relatório da Corregedoria-Geral da Polícia Civil sobre o atendimento de Vanessa Ricarte na DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) detalha a cronologia dos eventos que antecederam o feminicídio da jornalista, assassinada pelo músico Caio do Nascimento. Com a apuração finalizada, a Corregedoria solicitou o arquivamento do processo de investigação.
A TV Morena teve acesso com exclusividade à pontos levantados durante a apuração da Corregedoria. Leia abaixo o que foi apurado:
Atendimento à Vanessa Ricarte
- A investigação interna concluiu que as delegadas que atenderam Vanessa cumpriram todos os protocolos de atendimento da Deam e do Ministério das Mulheres.
- A corregedoria da Polícia Civil ainda identificou possível falha de comunicação entre o setor psicossocial da Casa da Mulher Brasileira e a Deam; as unidades ficam no mesmo complexo.
Segundo a apuração, Vanessa teria relatado à psicóloga que estaria sendo mantida em cárcere privado, mas essa informação não foi repassada no levantamento de riscos entregue pelo setor psicossocial à delegacia.
- O relatório da corregedoria indica que o tempo de atendimento à Vanessa pela Polícia Civil foi de 17 minutos. A jornalista procurou a Delegacia da Mulher à 00h44 do dia 12 de fevereiro, ela foi atendida dez minutos depois. Vanessa teria sido convencida pelo escrivão de polícia a pedir uma medida protetiva contra o ex-noivo.
- Conforme a Corregedoria, entre o pedido da medida protetiva por Vanessa e a chegada do documento para cumprimento pela GCM (Guarda Civil Metropolitana), demoraram 10 horas.
Às 7h8, a polícia afirma que a delegada pediu a medida protetiva. A Justiça concedeu a medida às 14h20. Três horas depois, a medida chegou às mãos de um oficial de justiça. As 15h22 Vanessa retornou a Deam e foi informada que a medida tinha sido aceita.
Uma hora e dois minutos depois, a 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a mulher, que fica dentro da Casa da Mulher Brasileira, enviou um ofício para a patrulha Maria da Penha que poderia ter acompanhado Vanessa até em casa, mas a jornalista já tinha saído do local.
Após a conclusão do relatório, a Corregedoria solicitou o arquivamento do processo de investigação. O delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Lupérsio Degerone, afirma que, além da falha de comunicação, não foram verificados outros erros por parte dos servidores da corporação.
“O resultado apontou que, objetivamente, todos os protocolos e fluxogramas no atendimento no caso de violência doméstica foram observados em sua totalidade”.
Lupérsio Degerone.
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Sequência
O atendimento transcorrido dentro da normalidade, entretanto, não evitou o pior. Após deixar a delegacia e retornar para casa, no dia 12 de fevereiro, Vanessa foi assassinada com 3 facadas pelo ex-companheiro, o músico Caio Nascimento.
A jornalista chegou a ser levada para a Santa Casa de Campo Grande, onde morreu horas depois.
Após a morte, veio à tona áudio em que a vítima se queixa do atendimento na delegacia especializada. O relato de Vanessa gerou repercussão nacional e acendeu o alerta sobre a necessidade e aprimoramento na rede de proteção à mulher em Mato Grosso do Sul.
Justiça aceita feminicídio, mas descarta outros crimes

Nesta quarta-feira (19), a Justiça aceitou a denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e Caio César vai à juri popular pelo feminicídio da jornalista.
O MPMS ainda denunciou o músico por outros três crimes: cárcere privado, violência psicológica e tentativa de homicídio contra o amigo de Vanessa, que presenciou o ataque.
O juiz Carlos Alberto de Almeida Garcete, no entanto, não acatou, argumentando que faltou embasamento na denúncia em relação aos outros pedidos.
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- 🚨Emergências: se a agressão estiver acontecendo, ligue no número 190 imediatamente;
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