Apenas 10% das terras indígenas de Mato Grosso contam com estrutura para prevenir e combater incêndios florestais. Dos 86 territórios existentes no estado, apenas nove possuem recursos específicos para essa finalidade. O dado foi apresentado nesta quinta-feira (27) pelo comandante do Corpo de Bombeiros, Flávio Gledson, durante coletiva em Cuiabá.
Segundo ele, os ciclos de fiscalização para 2025 já estão em andamento, mas os números preocupam: 27,5% dos focos de incêndio registrados neste ano ocorreram em áreas indígenas — o que reforça a urgência de ampliar o suporte a essas comunidades.
Diante desse cenário, em 2024 o Ministério dos Povos Indígenas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) lançaram uma campanha nacional para orientar as populações tradicionais no manejo seguro do fogo, prática que está na cultura dos povos.
O objetivo é aliar os conhecimentos ancestrais a medidas preventivas, evitando que as queimas – parte essencial dos sistemas produtivos indígenas – se transformem em incêndios descontrolados, especialmente em períodos de altas temperaturas.

No ano passado, quase 18 milhões de hectares da Amazônia e cerca de 2 milhões de hectares do Pantanal foram atingidos pelo fogo. Para o Instituto Centro de Vida (ICV), a prevenção é essencial para evitar grandes tragédias ambientais.
Brigadas indígenas: prevenção e tradição
Uma das principais estratégias para reduzir os riscos é o Programa Brigadas Federais em Terras Indígenas, fruto de uma parceria entre a Funai e o Prevfogo, do Ibama.
Desde 2013, a iniciativa forma e contrata brigadistas, em sua maioria indígenas, para atuar na prevenção e no combate a incêndios em seus próprios territórios. Atualmente, mais de 50% dos brigadistas do Prevfogo são indígenas, o que facilita o diálogo com as lideranças e o respeito às tradições locais.

Em 2024, a previsão era contratar 57 brigadas, mas, com um crédito extraordinário, o número subiu para 62. Além delas, existem brigadas comunitárias voluntárias, como as formadas exclusivamente por mulheres indígenas nas terras Apinajé, Xerente, Governador e Krikati – um exemplo de como a preservação do território também passa pela participação direta das comunidades.
Enquanto a fiscalização avança, a ampliação de recursos e o fortalecimento dessas iniciativas se mostram essenciais para reduzir os impactos do fogo nos territórios indígenas e no meio ambiente como um todo.
Diretrizes para 2025
O plano estabelece prioridades regionais com base em um estudo detalhado dos municípios com maior incidência de queimadas nos últimos dez anos. Com isso, serão identificadas as unidades de conservação estaduais mais vulneráveis, permitindo o direcionamento de ações preventivas e de combate.

Entre as estratégias para 2025, destacam-se:
- Levantamento de municípios prioritários: análise dos territórios mais impactados pelas queimadas para definição de áreas estratégicas de atuação;
- Parcerias institucionais: ampliação da cooperação entre órgãos públicos, sociedade civil e iniciativa privada;
- Estudo das Unidades de Conservação prioritárias: identificação das áreas mais sensíveis para ações antecipadas;
- Implementação de Infraestruturas de Resposta Tática (ITRs): estruturação de bases operacionais para combate ágil e eficiente aos incêndios florestais.