A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) investiga se a facção Terceiro Comando Puro (TCP) utilizava lixões clandestinos para expandir as ações criminosas no Caju, na Zona Portuária do Rio.
Segundo a Polícia Civil, a área de descarte ilegal de resíduos, descoberta após denúncia do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), tem capacidade de triplicar o Parque Alegria, um dos territórios dominados pela facção, controlada pelo narcotraficante Luiz Alberto Santos de Moura, o Bob do Caju.
“A gente estima que ela tem capacidade de triplicar o tamanho dela, que existe hoje em dia. As facções criminosas têm se aproveitado com loteamentos clandestinos, venda de terrenos ou eles mesmos fazem as identificações e cobram os aluguéis. Ou seja, a ocupação territorial significa rentabilidade para o crime organizado”, explicou o delegado André Prates, da DPMA.
A região é considerada estratégica, com acessos à Avenida Brasil e à Linha Vermelha, além de estar na Zona Portuária do Rio, área relevante para os interesses econômicos do estado.
Pedágio do crime
Ao todo, 10 empresas são investigadas por pagar taxas ao tráfico de drogas para descartar entulho em um lixão clandestino no Caju, em vez de enviar o material para um centro de tratamento em Seropédica, na Baixada Fluminense. A atividade ilegal já causou prejuízo ambiental estimado em R$ 5 milhões, além de contaminar o lençol freático e comprometer uma área de mangue.
“Essas empresas, para conseguirem entrar nesses lixões clandestinos, tinham que passar por barricadas do tráfico fortemente armadas. Temos imagens que mostram esses caminhões realizando pagamento. Demonstrando que o tráfico de drogas vem capitalizando, vem aferindo lucro com esse tipo de crime ambiental”, disse Prates.
Uma das empresas investigadas, a Ciclus Ambiental, possui contrato com a Prefeitura do Rio. Segundo a polícia, funcionários da companhia teriam desviado maquinários e equipamentos para auxiliar o esvaziamento dos lixões clandestinos, explorados economicamente pelo tráfico.
Em nota, a Ciclus informou que não foi notificada oficialmente sobre a investigação e que segue rigorosamente a lei. Já a Comlurb declarou que a empresa tem contrato com o município para transportar parte do lixo da cidade entre a estação de transbordo do Caju e o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR-Rio), em Seropédica, na Baixada Fluminense. Segundo a companhia, caso seja comprovado judicialmente o uso irregular de equipamentos da Ciclus, a empresa será punida conforme previsto em contrato.
Durante a Operação Expurgo, realizada nesta quarta-feira (9), a Polícia Civil cumpriu 14 mandados de busca e apreensão. Três pessoas foram presas em flagrante por tráfico de drogas, associação ao tráfico e porte ilegal de arma. Foram apreendidos um fuzil, munições, rádios comunicadores e aves silvestres mantidas ilegalmente em cativeiro, o que caracteriza crime ambiental.