Dezenove pessoas foram indiciadas pela Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) após o fim das investigações da Operação ‘La Catedral’, contra um suposto esquema de corrupção na venda de benefícios dentro da cadeia pública de Primavera do Leste, a 239 km de Cuiabá.
Dentre os alvos, esteve o ex-diretor da unidade prisional da cidade, que teria recebido cerca de R$ 20 mil em propina de detentos, para autorizar trabalhos externos e alojamentos privilegiados no local.
O Primeira Página procurou a Sesp-MT (Secretaria de Estado de Segurança Pública), mas a pasta afirmou que as medidas cabíveis já foram tomadas em relação ao ex-diretor e que, no momento, não se pronunciará oficialmente sobre caso.
Ostentando na cadeia
Em 2023, um inquérito foi instaurado para investigar supostas irregularidades na cadeia pública, como lavagem de dinheiro obtido com o tráfico de drogas, associação criminosa, corrupção e associação para o tráfico.
Em maio deste ano, mandados de busca e apreensão, além de bloqueio de bens, foram cumpridos em uma das fases da operação. Na época, o diretor da cadeia foi afastado do cargo.
O líder do esquema criminoso seria Janderson dos Santos Lopes, de 30 anos, que cumpre pena em regime fechado na unidade prisional.
Mesmo preso, ele teria total liberdade para continuar com suas atividades criminosas lideradas de dentro da cadeia pública, segundo a investigação.
Janderson já havia sido alvo de outras duas operações policiais – Três Estados e Red Money – que investigaram os crimes de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. O suspeito e a esposa dele tiveram os bens confiscados durante as operações.
Mas, um ano após ser transferido para a unidade prisional de Primavera do Leste, ele teria adquirido um patrimônio considerável, chegando a abrir empresas, comprar frotas de caminhões, imóveis e até gado em Primavera, Cuiabá e Poxoréu.
Nas redes sociais, Janderson ostentava uma vida de alto padrão, compartilhando imagens dos veículos da transportadora que abriu, construções imobiliárias e do gado bovino que teria, mesmo estando preso, segundo a Polícia Civil.
As investigações ainda apuraram que o reeducando tinha autorização judicial para trabalhar fora da cadeia e frequentar uma faculdade na cidade. Assim, ele saía da unidade durante o dia e retornava somente no período da noite.
Porém, com o andamento das investigações, a polícia concluiu que ele não comparecia ao trabalho nem às aulas do curso.
No esquema, o então diretor da unidade prisional teria recebido cerca de R$ 20 mil, por meio de outras terceiros, para autorizar as saídas de Janderson, segundo a PJC.
Além do suspeito, outros detentos também teriam feito pagamentos ao diretor para conseguirem trabalhos fora da cadeira.
Com o fim das investigações, o suspeito e a esposa foram indiciados por lavagem de capitais, tráfico e associação para o tráfico de drogas.
Outros dois suspeitos de atuarem como sócios da empresa de transporte que seria de Jeanderson, devem responder pelos mesmos crimes.
Propinas
A ligação entre os suspeitos da operação foram confirmadas a partir dos dados do relatório de inteligência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que mostram transações financeiras realizadas entre eles.
Em fevereiro de 2022 até novembro do ano passado, foram realizadas movimentações bancárias de valores entre R$ 485 mil a R$ 24 milhões, segundo a polícia.
Além de enviarem dinheiro entre si, os suspeitos ainda teriam feito depósitos bancários nas contas de outros presos e familiares desses presos.
Segundo a Polícia Civil, a compra de imóveis e veículos, por exemplo, foram uma tentativa dos investigados em criar a aparência de que o dinheiro vinha de fontes legais.
Com o fim das investigações, o inquérito foi encaminhado, nesta semana, ao Poder Judiciário e MPE (Ministério Público Estadual).
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Operação ‘La Catedral’
Ao todo foram cumpridas 132 ordens judiciais, entre prisões preventivas, buscas e apreensões, bloqueios de contas bancárias, além de sequestro de bens móveis e imóveis dos investigados durante a operação.
As informações da investigação foram reunidas por cerca de 1 ano, segundo a Polícia Civil, a partir de relatórios financeiros que identificaram as atividades ilegais envolvendo reeducandos e o ex-diretor da cadeia pública de Primavera.
O nome da operação faz referência à prisão La Catedral, onde ficou o narcotraficante Pablo Escobar, na Colômbia.
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