Filho de um dos fundadores de Corguinho, localizado ao norte de Mato Grosso do Sul, José Alves Vilela, que completou 100 anos em 24 de novembro de 2024. A celebração durou dois dias e foi motivo para comemorar a memória viva da construção do município.
Conforme esclareceu à reportagem do Primeira Página, Corguinho não é terra natal, pois o Zé, como é conhecido, nasceu na verdade em Campo Grande. Mas, aos 9 anos passou por Rochedo junto ao pai, até encontrar o recanto e destino final.
“Eu sou nascido na Capital, mas nunca gostei de Campo Grande. Nem Rochedo, nunca gostei e toda a vida foi Corguinho. Meu pai foi um dos fundadores de Corguinho, Lemírio Candido Vilela. Ele foi comprando fazenda e até hoje estou aqui no Corguinho”, contou.
-
Abandonada à morte, cachorra encontra novo lar e “anjos” adotam animal em Corguinho
-
De graça, Taboco é refúgio para quem busca paz da natureza e rio cristalino
O início de tudo
As imediações de Corguinho começaram a ser povoadas em 1931. A existência de pedras preciosas nos rios Carrapato e Formiga atraiu garimpeiros do norte e nordeste do Brasil.
No entanto, aqueles que se instalaram à beira do rio Fala Verdade não encontraram o que procuravam e, por isso, desceram para o Rio Aquidauana. Por lá, encontraram o Ribeirão Corguinho e voltaram as buscas por jazidas, diamantes e outras pedras preciosas.
O povoamento resultou em uma divisão territorial feita em 1955, que deu vida a sede do município de Corguinho justamente em referência ao Ribeirão Corguinho, que passa por dentro da cidade e deságua no Rio Aquidauana.
Toda a movimentação foi acompanhada por Zé, que relembra que o garimpo era forte na região, mas foi acabando com o tempo.
“Meu pai comprou uma chácara aqui e nós viemos para Corguinho pra estudar, eu e meus irmãos. Quando eu cheguei aqui no Corguinho era garimpo e tinha muito garimpeiro. Foi acabando o diamante e os garimpeiros começaram a sair. Aí os moradores começaram a fazer casa e morar e foi crescendo o Corguinho, aumentando”, relembrou.
Convocação para 2ª Guerra Mundial
Convocado em 1946 para a 2ª Guerra Mundial, seu Zé explicou que acabou se safando do conflito em decorrência de um mal-estar. Em 1947 ele havia se casado e nem mesmo chegou a ir para a casa, precisou partir direto rumo ao Exército Brasileiro.
No trajeto, acabou pegando uma febre forte e, por este fator, em avaliação, os oficiais acabaram por dispensá-lo.
Celebração do centenário
No dia 24 de novembro deste ano, Zé celebrou 100 anos de vida, com uma festa nada tímida. O evento reuniu dezenas de pessoas em dois dias de muito agito. Em discurso emocionante, o centenário aproveitou a oportunidade para deixar um recado e também mostrou o gingado durante o arrasta pé. Veja o vídeo abaixo:
Com a voz rouca após a festança, Zé fez questão, de mesmo um pouco debilitado, falar ao Primeira Página sobre o ensinamento que quer deixar aos mais novos: “para ensinamento do povo mais novo, para deixar com felicidade para todo mundo saber. É fácil viver, é só ter amor em tudo quanto a gente tem e tudo que tem que ser com amor”.
A neta, Grazielle Vilela Paraguassu, 39 anos, que é empresária, confessa que é suspeita para falar. Afinal, vê o avô como um “ser fantástico” e se considera uma privilegiada de tê-lo na vida. “Ele me ensina todos os dias algo diferente. A minha melhor memória com ele são dos finais de semana quando chego lá e dou 1000 abraços e ele sempre me diz: ‘agora eu estou bem melhor’”.
Segundo Grazielle, avô Zé aos 100 anos fala normalmente, tem a memória perfeita e se mostra totalmente disposto a continuar a viver. “Às vezes, como ele diz, as pernas doem e a barriga fica meio ruim, mas é pela idade”.