Estudantes do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), com o apoio de pesquisadores, desenvolveram um aplicativo que promete revolucionar o campo. A ferramenta vai integrar as ações do Programa Solo Vivo, do Ministério da Agricultura e Pecuária, com o objetivo de realizar o diagnóstico da fertilidade do solo em assentamentos de Mato Grosso.
Com base nos dados obtidos, os pequenos produtores rurais poderão saber exatamente o que o solo precisa para produzir mais e melhor, fortalecendo a agricultura familiar e incentivando práticas sustentáveis.
No assentamento Campo Limpo, em Poconé, a pequena produtora Linda Márcia Ferreira sente na pele a dificuldade de cultivar a terra. “A gente planta uma bananinha, uma mandioquinha… mas não vai. Tem que tratar a terra, usar um produto bom”, conta.
Já na propriedade do agricultor Edson Thiago Lopes, o solo é fértil, mas sofre com a seca e o uso intenso ao longo dos anos. “Na seca, vira uma laje. A terra tá cansada, mas ainda produz. Só que precisa de reforço”, explica.
Ambos agora fazem parte das 700 famílias assentadas em MT que participam do projeto. O solo de cada propriedade será analisado sem custo para os produtores, graças à parceria com o governo federal.
“Grande parte dos assentamentos foram criados sobre terras já exploradas. O agricultor foi assentado em áreas que já precisavam de correção de solo, e ele muitas vezes não tem condições financeiras para isso”, explica Divino Martins de Andrade, presidente da Fetagri-MT.
Do campo ao laboratório, com tecnologia e inclusão
Quem coleta o solo são alunos do IFMT, dos cursos técnicos e superiores. Eles percorrem as propriedades, aplicam métodos ensinados em sala de aula, e enviam as amostras para análise.
“Tem aluno do técnico agrícola, da agronomia, da engenharia florestal… até jovens de 15, 16 anos já participam do processo”, explica o professor e coordenador do projeto, Marcos Valin Júnior.
No laboratório, os dados vão para o aplicativo desenvolvido por estudantes de informática, que se tornou o coração digital do projeto.
“O app cadastra o produtor, recebe os dados do solo, gera o diagnóstico e dá a recomendação por hectare. Ele diz se o solo está bom, ruim, alto ou baixo em nutrientes, e o que precisa ser feito”, detalha o professor Luciano Lanssanova.
Para os alunos, é a chance de ver a teoria virar solução.
“É muito gratificante saber que algo que criamos vai ajudar tanta gente. Às vezes, você não precisa criar uma revolução, só precisa fazer algo bem feito e útil”, afirma o estudante Elinton Rodrigues.
Ação que transforma terra… e vidas
Após a análise, o Ministério da Agricultura vai investir em maquinário agrícola para aplicação das correções. Uma etapa que, segundo o ministro Carlos Fávaro, seria impossível para muitos produtores realizarem por conta própria.
“Eles não têm capacidade de endividamento, nem equipamentos. Agora vão ter acesso a tudo isso, com alta tecnologia”, pontua.
O projeto também é uma estratégia de recuperação ambiental, que favorece a produção de alimentos e traz esperança para quem depende da terra. “É só melhoria. Uma coisa que a gente não teria condição de fazer, agora vai acontecer”, comemora o produtor Edson.
Dona Linda já tem planos: quer plantar capim de qualidade, para alimentar o rebanho da família. “Com capim bom, a vaca come e dá leite pra gente. Dá tudo”, sorri.