Um ataque aéreo israelense em Gaza matou um fotojornalista da Al Jazeera no domingo (15) – exatamente um ano depois de um ataque ter matado um de seus colegas.
Ahmad Al-Louh, 39, e outras quatro pessoas foram mortas pelo ataque que teve como alvo um escritório do serviço de Defesa Civil na área do Campo de Nuseirat, no centro de Gaza, de acordo com o Hospital Al Awda, que tratou as vítimas.
A Al Jazeera condenou o ataque, dizendo que Al-Louh foi “brutalmente morto” enquanto cobria a tentativa de resgate de uma família que havia ficado gravemente ferida em um ataque anterior.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram que atacaram os escritórios da Defesa Civil em um “ataque preciso”, alegando que o local estava sendo usado como um “centro de comando e controle” por terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica que estavam planejando um “ataque terrorista iminente contra as tropas da IDF”.
Ele disse que Al-Louh estava entre os mortos no ataque e alegou que ele era um “terrorista” que havia servido anteriormente na Jihad Islâmica. A IDF não forneceu nenhuma prova para suas alegações.
No final de julho, um ataque das IDF matou o correspondente da Al Jazeera, Ismail al-Ghoul, que foi acusado de ser um membro do Hamas – uma alegação que a rede criticou como “infundada”.
A CNN entrou em contato com a Al Jazeera sobre as alegações das IDF sobre Al-Louh.
Segundo o hospital, as outras pessoas mortas no ataque foram três servidores da Defesa Civil e um civil.
Um porta-voz da Defesa Civil de Gaza negou veementemente a alegação das forças israelenses sobre a presença terrorista no local.
“Essas equipes trabalham 24 horas por dia para resgatar pessoas. Todos sabem que a organização da Defesa Civil é um corpo humanitário que fornece serviços tanto durante a paz quanto na guerra para civis e não tem envolvimento político. A equipe foi diretamente visada”, disse Zaki Imad Eddine.
Al Jazeera: Israel “segue um padrão”
A Al Jazeera, que no passado acusou Israel de sistematicamente atacar seus jornalistas — uma acusação que Israel nega — descreveu o assassinato de Al-Louh como um crime e disse que ele seguiu um padrão de ataques em que seus funcionários foram mortos ou feridos por ataques israelenses.
A emissora observou que a morte de Al-Louh coincidiu com o primeiro aniversário do assassinato de um de seus cinegrafistas, Samer Abu Daqqa, que morreu em 15 de dezembro de 2023, após sofrer ferimentos em um ataque israelense no sul de Gaza.
De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), Abu Daqqa foi o primeiro jornalista da Al Jazeera a ser morto na guerra entre Israel e Hamas desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023. Desde então, vários outros jornalistas da rede foram mortos ou feridos em Gaza, em circunstâncias controversas.
No domingo (15), a Al Jazeera estendeu suas condolências à esposa e à família de Al-Louh, acrescentando que poucos dias antes um ataque israelense havia destruído sua casa no bairro de Da’wa, no campo de Nuseirat.
A rede também disse estar comprometida em buscar “todas as medidas legais para processar os autores desses crimes contra jornalistas” e instou as instituições jurídicas internacionais a tomarem “medidas urgentes” para responsabilizar as autoridades israelenses e “para pôr fim aos ataques e assassinatos de jornalistas”.
No passado, o exército israelense disse que “toma todas as medidas operacionalmente viáveis para proteger tanto civis quanto jornalistas” e que “nunca atacou e nunca atacará jornalistas deliberadamente”.
O Comitê para a Proteção de Jornalistas diz que a guerra em Gaza matou mais jornalistas em um ano do que qualquer outro conflito que o grupo documentou. Pelo menos 137 jornalistas foram mortos em Gaza, Cisjordânia, Israel e Líbano desde o início da guerra, de acordo com o CPJ, tornando-o o período mais mortal para jornalistas desde que começou a coletar dados em 1992. Dos mortos, 129 eram palestinos. De acordo com o escritório de mídia do governo de Gaza, pelo menos 196 jornalistas foram mortos.
Mohammad Al Sawalhi, correspondente da CNN em Gaza, disse que Al-Louh era bem conhecido entre os jornalistas no território palestino e frequentemente trabalhava na Defesa Civil como jornalista, cobrindo missões de resgate.
“Ele era uma pessoa muito divertida, sempre tentava ajudar a todos e levar alegria ao rosto de todos”, disse Al Sawalhi.
“Ele tinha um ótimo relacionamento com todos os jornalistas, ajudando a todos porque conhecia muito bem o centro de Gaza.”
Dezenas de mortos em Gaza
Al-Louh foi apenas uma das dezenas de pessoas mortas pelos ataques israelenses em Gaza no domingo (15).
Pelo menos 15 pessoas morreram na manhã de domingo quando um ataque aéreo israelense atingiu uma escola que abrigava deslocados em Beit Hanoun, no norte de Gaza, de acordo com a Defesa Civil.
Testemunhas relataram de 10 a 15 corpos carbonizados após incêndios causados por “bombardeios israelenses intensivos” na escola Khalil Awida, que abrigava cerca de 1.500 pessoas deslocadas, disse a Defesa Civil.
Militares israelenses disseram que realizaram um “ataque direcionado a um ponto de encontro terrorista na área de Beit Hanoun”.
Em Deir al Balah, um ataque a tendas matou quatro pessoas e um ataque a uma casa de família a leste da cidade de Gaza matou seis, de acordo com a Defesa Civil.
Enquanto isso, no sul, o Hospital Nasser em Khan Younis disse que 12 pessoas foram mortas em um ataque israelense a um complexo escolar da ONU.
O exército israelense disse que realizou o ataque, alegando que havia um “centro de comando e controle do Hamas embutido” no complexo.
Vídeos do rescaldo vistos pela CNN mostram cenas caóticas enquanto as pessoas vasculham a destruição, com um fogo ainda queimando. Um homem está sentado no chão, gritando e lamentando sobre o que parecem ser corpos cobertos, alguns bem pequenos.