Edgar Ricardo de Oliveira, réu confesso da chacina de Sinop, a 504 km de Cuiabá, foi condenado a 136 anos de prisão pelo ataque que deixou sete pessoas mortas em fevereiro de 2023. O júri popular começou na manhã desta terça-feira (15) às 8h40 e o resultado saiu às 21h22.
A prisão em regime fechado fixada foi de 136 anos, 3 meses e 20 dias de reclusão, 30 dias/multa no valor de R$ 200 mil a ser pago às famílias da vítimas.
Edgar é condenado por homicídios qualificados com as seguintes qualificadoras:
- motivo torpe
- meio cruel que resultou perigo comum
- recurso que dificultou defesa das vítimas por seis vezes (contra seis vítimas)
- e agravante por homicídio contra menores de 14 anos com pena de reclusão de 12 a 30 anos
- Edgar foi condenado ainda por roubo majorado, que é quando o crime é praticado sob circunstâncias que aumentam a pena, como o uso de arma de fogo (reclusão de quatro a dez anos, além de multa)
- crime de furto é de reclusão de 2 a 8 anos e multa quando o crime é cometido por duas ou mais pessoas
O julgamento foi presidido pela juíza Rosângela Zacarkim dos Santos, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Sinop, e transmitido ao vivo pelo Primeira Página. Ao todo, 25 jurados titulares foram convocados. O réu, que está preso na PCE (Penitenciária Central de Mato Grosso), em Cuiabá, participou do julgamento por videoconferência.
“Estamos correndo contra o tempo devido à queda de energia na cidade e faço então a leitura da sentença. (…) Os senhores jurados votaram, sempre por maioria, nos exatos termos da pronúncia, considerando, então, condeno o acusado Edgar, solteiro, brasileiro, nascido em 20 de abril de 1992, natural de Cuiabá, atualmente segregado na PCE como incurso nas penas por: motivo torpe, meio cruel, recurso que dificultou a defesas das vítimas e emprego de arma de fogo“, disse a magistrada.
A defesa do réu foi feita pela Defensoria Pública Estadual. O julgamento foi transmitido em tempo real pelo Primeira Página, e você pode acessar os detalhes dos depoimentos de todas as testemunhas AQUI.
Edgar havia sido denunciado pelo MPMT (Ministério Público de Mato Grosso) por homicídios qualificados, incluindo de uma criança de 12 anos, furto e roubo majorado (mediante grave ameaça).
Ezequias Souza Ribeiro, que estava junto com Edgar durante o crime, morreu em confronto com a polícia.
Relembre o caso
Dois jogadores de sinuca, Ezequias Souza Ribeiro e Edgar Ricardo de Oliveira, perderam cerca de R$ 4 mil em apostas em jogos de sinuca. Insatisfeitos, eles foram protagonistas de uma atrocidade que ficou conhecida nacionalmente como a Chacina de Sinop.
Tudo foi registrado por câmeras de segurança do estabelecimento (veja acima – imagens fortes). Ezequias, com uma pistola, pede para que algumas das vítimas fiquem de costas, viradas para a parede. Enquanto isso, Edgar pega uma espingarda calibre 12 mm na caminhonete e chega atirando nas vítimas.
Durante o julgamento, o representando do MP disse que “a prova grita, que o vídeo diz tudo pois revelou a crueldade do réu”. Conforme a acusação, o crime foi cometido por vingança após um jogo de bilhar. “Ele fez de forma consciente e deliberada” e é por isso que o MP entende que a qualificadora de crime contra a pessoas menor de 14 anos seja reconhecida”.
Algumas das vítimas foram atingidas pelas costas. Outras, entre elas a adolescente, tentaram correr e foram atingidas já fora do bar. Todo o crime é executado em menos de 12 segundos.
As vítimas foram identificadas como Maciel Bruno de Andrade Costa, de 35 anos, Orisberto Pereira Sousa, de 38 anos, Elizeu Santos da Silva, de 47 anos, Josué Ramos Tenório, de 48 anos, Adriano Balbinote, de 46 anos, Getúlio Rodrigues Frasão Júnior, de 36 anos e Larissa Frasão de Almeida, de apenas 12 anos, filha de Getúlio.
Entre as testemunhas estavam: Raquel Gomes de Almeida – que perdeu a filha e o marido no ataque. Ela e mãe da vítima Larissa Frasão de Almeida, 12 anos, e esposa de Getúlio Rodrigues Frasão Júnior, 36 anos.
Kelma Silva Santos de Costa, esposa de Maciel Bruno, uma das vítimas, falou presencialmente ao júri. Ele era dono do bar onde o crime ocorreu.
Depoimento do réu: “Ninguém morre de graça”
Durante o julgamento, Edgar afirmou que tinha problemas de relacionamento com algumas das vítimas, principalmente o dono do bar (Maciel Bruno).
“Sim, ninguém morre de graça. Cada um respondeu por si no momento do fato”.
Promotor – até a Laís? (meninas de 12 anos atingida pelas costas)
Réu – “Não, a Laís foi um tiro acidental”.
O réu, Edgar, disse que apesar da amizade que mantinha com Bruno, ele acreditava que Bruno estava tramando contra ele. Que armava um assalto para o dia que ele teria dinheiro. Ele afirmou que tudo que aconteceu foi uma junção de vários fatos relacionados ao Bruno, com quem teve várias desavenças antes do crime. Ele frequentava o bar desde 2017.
Promotor – o senhor não se recorda do momento dos tiros?
Réu – Eu lembro, mas não me recordo em que momento eu perdi o controle
“Agi no impulso da raiva, quando dei por mim já tinha feito tudo e minha raiva já tinha sido acesa antes”, disse Edgar.
“Quando dei por mim, estava na Gleba Mercedes. Não lembro do que aconteceu”, disse o réu.
Na hora do crime
“Começamos a jogar. Mas, eles começaram a fazer indiretas. Então, eu chamei o Ezequias para ir embora. Mas, ele sugeriu para eu cheirar cocaína. Não quis, mas ele me convenceu. Fui no banheiro e cheirei a cocaína. E voltou com a minha cabeça virada já, só ouvia as vozes. Mas, eu não tinha nada contra aquelas pessoas, algumas eu nem conhecia direito. “Nunca fui um bandido”, disse Edgar.