O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse em uma entrevista que foi oferecido salvo-conduto para que líderes e combatentes do Hamas saiam da Faixa de Gaza em troca da libertação de todos os reféns.
“Israel, em diversas ocasiões, ofereceu passagem segura aos líderes e combatentes do Hamas para deixarem Gaza”, ponderou Blinken à jornalista do New York Times e colaboradora da CNN Lulu García-Navarro, na entrevista publicada no sábado (4).
A CNN informou anteriormente que um salvo-conduto para os líderes do Hamas havia sido considerado e levado a discussões nos bastidores há algum tempo.
Além disso, Blinken afirmou anteriormente durante uma coletiva de imprensa em Bruxelas em novembro que o Hamas havia rejeitado essa proposta de Israel, mas essa é a primeira vez que uma autoridade declara publicamente que isso foi oferecido em “várias ocasiões”.
O secretário pontuou ainda que, nos dias que se seguiram aos ataques de 7 de outubro de 2023, disse ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que o presidente Joe Biden não visitaria o país a menos que permitissem que “assistência humanitária começasse a fluir” para a Faixa Gaza.
“Quando encontrei resistência à proposta de levar assistência humanitária [para Gaza], disse ao primeiro-ministro [Benjamin Netanyahu]: vou ligar ao presidente [Joe Biden] e dizer-lhe para não vir se não permitir que esta assistência comece a fluir”, destacou.
“E liguei para o presidente para ter certeza de que ele concordava com isso, e ele concordava totalmente com isso”, adicionou.
“Conseguimos o acordo para começar a prestar assistência através de Rafah, que expandimos para Kerem Shalom e muitos outros lugares. Tentamos o tempo todo atender às necessidades de tantas pessoas que foram apanhadas neste horrível fogo cruzado”, afirmou Blinken.
Durante a entrevista, Blinken ressaltou a García-Navarro que tem uma “brochura” feita por um americano que inclui fotos de integrantes da sua família em Gaza, incluindo aqueles que foram mortos e aqueles que ainda estão vivos.
O secretário comentou disse ao The New York Times que isso o “motiva” a “encontrar um caminho melhor a seguir”.
“Ainda tenho comigo um pequeno livrinho que um compatriota americano fez com fotos da sua família em Gaza: do lado esquerdo, os que foram mortos, incluindo as crianças, e do lado direito, os que ainda estão vivos. E isso também me motiva todos os dias a tentar encontrar um caminho melhor a seguir”, explicou.
Antony Blinken, que trabalha com Biden há quase 20 anos e é descrito por muitos como tendo o relacionamento pessoal mais próximo com o presidente de qualquer integrante do Gabinete, está nos momentos finais de seu mandato como secretário de Estado dos EUA — o cargo mais alto da diplomacia do país.
Blinken não lamenta fim da guerra do Afeganistão
O New York Times também perguntou a ele sobre a retirada do Afeganistão, que resultou na morte de 13 militares americanos e deixou para trás milhares de afegãos que trabalharam com os Estados Unidos.
Ele comentou a García-Navarro que “não lamenta ter acabado ‘a guerra mais longa da América’ [Estados Unidos]”.
“Não peço desculpas por encerrar a guerra mais longa da América. Acredito que esta seja uma conquista notável do presidente. O fato de não termos outra geração de americanos a lutar e a morrer no Afeganistão é por si só uma conquista significativa”, ponderou.
“[Isso] também fortaleceu a nossa posição em todo o mundo. E eu vejo isso todos os dias. Nossos adversários gostariam mais de nos manter presos no Afeganistão por mais uma década”, argumentou.
Os republicanos acusaram a administração Biden de retirar apressadamente os Estados Unidos do país e os democratas, incluindo a Casa Branca, culparam o governo Trump por chegar a um acordo que deu início à retirada dos EUA.
Entenda o conflito na Faixa de Gaza
Israel realiza intensos ataques aéreos na Faixa de Gaza desde o ano passado, após o Hamas ter invadido o país e matado 1.200 pessoas, segundo contagens israelenses. Além disso, o grupo radical mantém dezenas de reféns.
O Hamas não reconhece Israel como um Estado e reivindica o território israelense para a Palestina.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu diversas vezes destruir as capacidades militares do Hamas e recuperar as pessoas detidas em Gaza.
Além da ofensiva aérea, o Exército de Israel faz incursões terrestres no território palestino. Isso fez com que grande parte da população de Gaza fosse deslocada.
A ONU e diversas instituições humanitárias alertaram para uma situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza, com falta de alimentos, medicamentos e disseminação de doenças.
A população israelense faz protestos constantes contra Netanyahu, acusando o premiê de falhar em fazer um acordo de cessar-fogo para os reféns sejam libertados.