Caio prendeu Vanessa em ciclo de extrema violência psicológica, revela relatório


O feminicídio de Vanessa Ricarte chamou a atenção de muitas pessoas. O Brasil viu a forma brutal com que a jornalista, descrita por amigos como uma mulher alegre e de sorriso fácil, foi assassinada pelo ex-noivo Caio do Nascimento, em fevereiro deste ano. O Primeira Página teve acesso ao Relatório Final do Inquérito Policial do caso, que investiga a morte, a tentativa de assassinato de um amigo da vítima e o ciclo de extrema violência ao qual Vanessa foi submetida antes de morrer.

O Inquérito Policial foi assinado pela delegada responsável pelo caso, Analu Ferraz. As investigações da DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento às Mulheres) dão conta da intensa violência sofrida por Vanessa Ricarte, antes dela ser assassinada por Caio. A defesa do agressor se pronunciou e afirmou que acompanha o processo. Leia na íntegra, o retorno no fim deste conteúdo.

Para a investigação, o feminicídio da jornalista foi premeditado e uma resposta do agressor à tentativa de Vanessa sair do ciclo das violências psicológica, patrimonial e física as quais era submetida.

O documento, de 25 páginas, foi entregue à Justiça para o indiciamento de Caio do Nascimento pelos crimes cometidos contra Vanessa: feminicídio, cárcere privado e violência psicológica. O inquérito, após reprodução simulada, também conseguiu comprovar a tentativa de homicídio contra um amigo da jornalista, que estava no local do crime.

Os crimes imputados à Caio do Nascimento já foram denunciados pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) à Justiça. O Primeira Página não conseguiu confirmar se a denúncia foi ou não aceita pela judiciário. O próximo passo do processo é a audiência de instrução, para o júri popular do feminicida. Somados os crimes, o agressor pode ser sentenciado a mais de 40 anos de prisão.

Vanessa Ricarte e o ciclo de extrema violência psicológica

Vanessa Ricarte
Vanessa Ricarte. (Foto: Instagram)

Caio se apresentou como um príncipe quando conheceu Vanessa. As investigações da DEAM conseguem comprovar o ciclo de violência a qual a jornalista se viu presa durante o relacionamento abusivo, que “é bipolar, cheio de altos e baixos”, como descreve o inquérito.

O agressor tirou a vida de Vanessa após a jornalista ir duas vezes à DEAM. Na 1ª, na madrugada do dia do feminicídio, a vítima relatou ter sido exposta nas redes sociais, e pediu uma medida protetiva contra Caio. Encorajada a relatar as agressões físicas e psicológicas sofridas, Vanessa voltou à delegacia durante a tarde. Após sair do local, a vítima, junto de um amigo, voltou para casa e foi assassinada pelo músico.

Para a Polícia Civil, neste meio tempo, entre uma ida e outra à delegacia, Caio teria premeditado o feminicídio de Vanessa. Mas antes do assassinato, a jornalista já estava imersa em um ciclo de violência, ao qual o inquérito consegue comprovar.

Segundo as investigações da DEAM, Vanessa foi vítima de uma crueldade sem tamanho. A jornalista se silenciou diante do ciclo de violência imposto por Caio do Nascimento. A vítima foi mantida em cárcere e privado por cinco dias.

“Quando uma mulher sofre agressão, a maioria de nós se revolta contra essa violência, pois a agressão física choca e causa comoção geral com grande repercussão, mas agredir uma mulher não é só usar violência física”.

Relatório Final do Inquérito Policial.

Vanessa perdeu a autoestima e determinação como mulher empoderada, frente às violências sofridas. Segundo os depoimentos dos amigos da vítima, mais de 10 incluídos como testemunhas ao inquérito, a jornalista “anulou-se para aceitar a submissão do ciclo de violência que Caio impôs a ela”.

“Vanessa foi surpreendida pela covardia, frieza e ódio de um homem que viu uma mulher (mesmo que com medo) romper o ciclo de violência Caio não aceitou o fim”.

Relatório Final do Inquérito Policial.

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Violência psicológica

ciclo violencia
Ilustração mostra como é o ciclo de violência contra mulher. (Imagem: Governo de Santa Catarina/Reprodução).

O Inquérito Policial apresentado pela Deam é categórico ao descrever como a violência psicológica é praticada contra as vítimas. O relatório destaca que este tipo de crime chega de forma silenciosa, com cara de cuidado e em doses homeopáticas.

Porém, “quando a vítima percebe, está destruída por dentro e essa destruição ninguém vê porque a vítima se fecha e não consegue entender ou compreender o seu papel de vítima”, pontua a explicação sobre o crime no documento.

Além da violência psicológica, Vanessa foi submetida a violência patrimonial e física. Caio transformou a jornalista em uma espécie de “presa”, segundo relatório da Deam. A vítima tinha sua rotina controlada e vistoriada pelo autor.

“Quando Caio deu conta de que havia conquistado sua ‘presa’ começou, de maneira quase imperceptível, a controlá-la como forma de amor. Nos autos têm apreensão de uma rotina completa do dia da Vanessa e com todos os horários como forma de prestação de contas”.

Relatório Final do Inquérito Policial.

Este ciclo incansável foi praticado contra Vanessa em forma de looping. Conforme detalha o documento, o relacionamento abusivo a qual a jornalista foi exposta conseguiu com que a vítima vivesse altos e baixos.

“O relacionamento abusivo é bipolar, cheio de altos e baixos. Ao mesmo tempo em que a mulher vive as situações mais românticas, ela vive um verdadeiro inferno […] Ninguém entra em um relacionamento abusivo por vontade própria, pois na maioria das vezes começa aparentando ser o ‘amor da vida’ e muitos questionamentos surgem no sentido de ‘fulana é tão inteligente e bonita aceita estar em um relacionamento assim?’. Justamente, porque começa com cara de grande amor. Porém, CAIO NUNCA AMOU VANESSA! Ele fazia com ela uma enxurrada de manipulações”.

Relatório Final do Inquérito Policial.

O que diz a defesa de Caio?

Leia na íntegra o que diz a defesa de Caio do Nascimento:

“A defesa de Caio César Nascimento Pereira informa que acompanha com atenção o andamento das investigações e reforça sua confiança no devido processo legal, no princípio da presunção de inocência e na garantia do contraditório.

Em relação às conclusões apresentadas no inquérito policial, cabe esclarecer que o relatório reflete uma interpretação inicial dos fatos pela autoridade policial, sendo que a defesa ainda terá a oportunidade de se manifestar e apresentar os elementos necessários para o esclarecimento da verdade real no curso do processo judicial.

Por fim, reiteramos o compromisso da defesa com a transparência e com a justiça, respeitando o sigilo processual e confiando que todas as circunstâncias serão devidamente analisadas pelo Poder Judiciário”.

Morte de Vanessa

caio coluna
Caio Nascimento foi preso em flagrante teve a preventiva decretada na sexta-feira (14) (Foto: Redes Sociais)

Caio Nascimento, de 35 anos, matou Vanessa Ricarte com três facadas na região do tórax. A vítima foi à Deam solicitar medida protetiva contra o agressor, após conseguir escapar de uma situação de cárcere e privado. O agressor foi preso em flagrante pelo feminicídio logo após o crime.

Após ser encaminhada ao hospital, Vanessa não resistiu aos ferimentos e morreu pouco antes da meia noite, no dia 12 de fevereiro.

Denuncie

⚠️ Violência doméstica, seja psicológica, física ou verbal, é crime! Saiba como denunciar:

  • 🚨Emergências: se a agressão estiver acontecendo, ligue no número 190 imediatamente;
  • 🚨Denúncias: ligue para o número 180. O serviço de atendimento é sigiloso e oferece orientações para denúncias sobre violência contra mulheres. O telefonema pode ser feito em qualquer horário, todos os dias. Também é disponível um WhatsApp – (61) 9610-0180;
  • 🚨Perigo: procure a delegacia mais próxima e acione a polícia, por meio do 190.

Em Mato Grosso do Sul, as denúncias de violência de gênero podem ser feitas de maneira on-line. Clique aqui e faça a denúncia.

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