No meio da imensidão do Pantanal, a natureza mostrou mais uma de suas surpresas encantadoras: dois tapitis – a única espécie de coelho nativa do Brasil – foram flagrados em um comportamento tão curioso quanto fascinante: girando em círculos, como se estivessem dançando. (Confira o vídeo no final da matéria)
O comportamento, embora curioso, não é uma “brincadeira” como poderia parecer à primeira vista. Segundo a bióloga e educadora Camila Hashimoto, do Sesc Pantanal, em Mato Grosso, o mais provável é que os tapitis estivessem envolvidos em um ritual de acasalamento.
“Embora alguns mamíferos silvestres apresentem o comportamento de fazer brincadeiras, esse tipo de comportamento ainda não foi observado nos tapitis. Esse movimento de andar em círculos pode ser para mapear territórios, explorar cheiro de urina e fezes, alta adrenalina como excitação ou alerta. O mais possível nesse caso seria um ritual de acasalamento, o qual já foi registrado nesse gênero Sylvilagus“, explica Camila.
Com carinha de pelúcia, o tapiti é um mestre da discrição. Vive em silêncio, tem hábitos noturnos e prefere se manter longe dos olhos humanos, e dos muitos predadores que o cercam, como onças, jaguatiricas, corujas, gaviões, serpentes entre outros.
Ele é menor que o coelho europeu que conhecemos, tem coloração marrom – pardo e orelhas pequenas também.

Tudo isso é uma adaptação ao clima tropical, pois orelhas pequenas tem menos exposição ao calor, o tamanho diminuto garante agilidade para fuga e a coloração se confunde com as folhas secas do chão, exatamente onde ele faz o ninho. Para o tapiti, nada de cavar toca.
Apesar de sua distribuição ampla, da América Central até o norte da Argentina, indivíduos dessa espécie já foi registrados em todos os biomas brasileiros.
O tapiti está classificado como “quase ameaçado” pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) desde 2016.
De acordo com a bióloga, estudos sobre a espécie são raros, já que o animal é difícil de ser avistado.
O vídeo, portanto, é uma preciosidade da natureza. Mais do que fofura em movimento, ele oferece uma chance valiosa de conhecer melhor o comportamento desse pequeno sobrevivente das florestas tropicais.
E se a “dança” foi mesmo um flerte noturno, em breve talvez o Pantanal receba novos filhotes, já que os tapitis têm uma gestação rápida de 30 dias e em média até quatro crias por ninhada.
“Os tapitis tem uma reprodução típica de presas pequenas, quanto mais filhotes, mais chances de perpetuar a espécie” afirma Camila.
Enquanto não sabemos ao certo o motivo, uma coisa é certa: os coelhos do Pantanal surpreendem com sua agilidade e seus hábitos misteriosos.
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