Imagine um país onde o vinho nasce com sotaques distintos. Onde espumantes vibrantes florescem em regiões de clima frio, enquanto vinhos tropicais amadurecem ao sol do semiárido. Esse país é o Brasil — e ele produz vinhos de três formas únicas no mundo: a vitivinicultura tradicional, a tropical e a de inverno.
Enquanto outros países vitivinícolas seguem padrões climáticos mais rígidos, o Brasil é plural: adapta o cultivo da uva à geografia, ao clima e às possibilidades locais, sempre com apoio da ciência, da técnica e da inovação.
1. Vitivinicultura tradicional: a força do Sul e da herança italiana
Foi no Sul e no Sudeste do Brasil que tudo começou. A vitivinicultura tradicional tem raízes na imigração italiana, com destaque para a Serra Gaúcha (RS), Vale do Rio do Peixe (SC) e Serra Capixaba (ES). Nessas regiões, o clima frio de altitude favorece a produção de vinhos finos e espumantes premiados.
O resultado? Rótulos com notas frutadas, cítricas, florais, e espumantes de acidez vibrante. Os vinhos produzidos ali trazem a herança do Velho Mundo, mas com identidade brasileira.

2. Vitivinicultura tropical: sol o ano todo, colheita em dobro
No semiárido nordestino, especialmente no Vale do São Francisco, a realidade é outra — e surpreendente. Ali, graças às temperaturas elevadas e à irrigação, é possível colher até duas safras de uvas por ano.
Essa produção constante deu origem, nos anos 1980, à chamada vitivinicultura tropical. Os vinhos que saem dali têm personalidade própria, com estilos adaptados à colheita sob sol intenso. Essa liberdade de poda e colheita em qualquer mês do ano abre portas para vinhos frescos, tropicais e com grande aceitação no mercado internacional.

3. Vitivinicultura de inverno: uvas colhidas fora da estação
Você sabia que também é possível colher uvas no inverno no Brasil? Essa é a base da vitivinicultura de inverno, um modelo inovador que surgiu em Minas Gerais nos anos 2000 e já se espalhou para estados como SP, GO, DF, BA (Chapada Diamantina), MT, MS e RJ.
A técnica consiste em fazer a “dupla poda”: poda-se no verão e colhe-se no inverno. O resultado são vinhos com cor intensa, aromas marcantes e tipicidade única, vindos de regiões com mais de 600 metros de altitude. Essa prática vem ganhando reconhecimento internacional pela sua originalidade e qualidade.
O que está por trás dessa diversidade?
Nada disso seria possível sem a combinação de conhecimento técnico, pesquisa científica e dedicação dos produtores. Com o apoio da Embrapa e de instituições parceiras, as videiras passaram a ser adaptadas a diferentes biomas e manejadas com precisão para extrair o melhor de cada terroir brasileiro.
A publicação da Embrapa “Vinhos no Brasil: contrastes na geografia e no manejo das videiras” detalha como essas três formas de produzir vinho funcionam e o que torna o Brasil único na vitivinicultura global. Acesse aqui o material completo.

Um brinde ao vinho com sotaque brasileiro
Brindar ao vinho brasileiro é celebrar mais do que sabor: é reconhecer um país que transforma clima, terra e ciência em cultura e inovação.
Na próxima vez que você abrir um vinho nacional, pergunte-se: de qual Brasil ele veio? Da Serra Gaúcha tradicional? Do calor nordestino? Ou do frio do inverno mineiro? Cada garrafa pode contar uma história diferente — e todas são nossas.