O dia começava quando policiais entraram em uma das casas do Residencial Alphaville IV, em Campo Grande. A equipe trazia consigo dois mandados, um de prisão e outro de busca e apreensão, contra o morador do local: Emerson Corrêa Monteiro.
Contra ele, pesava, e ainda pesa, a acusação de ser o financiador de um esquema de tráfico de drogas revelado pelas investigações da Operação Snow.
Emerson foi alvo da segunda fase da operação, realizada no dia 15 de janeiro. Ele e outras oito pessoas tiveram a prisão decretada pela justiça, mas no dia da ação, apenas cinco foram capturadas.
Na casa do Residencial Alphaville, Emerson ainda guardava duas armas, uma delas de uso restrito, uma pistola 9 mm – além de comprimidos de ecstasy e MDMA – por isso, ainda acabou preso em flagrante por outro crime, o de posse ilegal de arma.
Mas na coluna de hoje, vamos falar dos motivos que, segundo o Ministério Público de Mato Grosso do Sul, levaram Emerson para a cadeia por envolvimento com uma quadrilha especializada no tráfico de drogas de Ponta Porã para outros estados brasileiros.
Com base em mensagens encontradas nos celulares dos principais alvos da operação, os líderes do esquema de tráfico, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) chegou à conclusão de que Emerson era um dos financiadores do esquema.
Era ele, segundo a investigação, que apoiava financeiramente a rede logística de transporte do grupo criminoso.
No decorrer das investigações, o Gaeco encontrou transferência de Emerson para a empresa Água Boa Transporte Logístico, que, segundo a apuração, era usada pelos criminosos para “branqueamento dos valores adquiridos com o tráfico”. Ele passou para a transportadora quase R$ 200 mil reais, R$ 198 mil para ser mais exata.
Para o Ministério Público, o empresário entrou no esquema como financiador em 2023, “principalmente após diversas apreensões envolvendo a organização criminosa, o que causou prejuízo à logística dos investigados”.
No celular de um dos líderes do grupo, Rodney Gonçalves Medina, o contato de Emerson é salvo como “Emerso Agiot”. E para o Gaeco, era assim que ele atuava para a quadrilha, como um agiota. Já que parte dos “empréstimos” foi devolvida a Emerson mensalmente, em parcelas menores.
Ao longo do tempo, outras transferências também foram encontradas.
O Gaeco conseguiu rastrear que, depois de uma ligação entre Rodney e Emerson, a esposa do traficante recebeu um Pix de R$ 100 mil. O comprovante foi enviado por ela ao esposo logo em seguida.
Preso, Emerson firmou que é empresário, dono de uma empresa financeira. Ao contar sobre seus lucros, deu informações diferentes por duas vezes: na delegacia, afirmou que tirava R$ 50 mil por mês. Na justiça, nas entrevistas antes da audiência de custódia, disse que tinha rendimento de R$ 100 mil mensais.
A empresa de fato existe, mas para os promotores, o título de empresário não afasta o conhecimento de Emerson do porquê e para quem ele mandava dinheiro.
Emerson tem 38 anos, o ensino fundamental incompleto e uma acusação por homicídio na ficha criminal. Isso porque, em 2016, teria matado, junto com o cunhado, Wellingson Luiz de Jesus Reynaldo Felipe.
Para o Gaeco, o crime de quase dez anos atrás mostra que o hoje empresário estava envolvido com o tráfico muito antes de financiar os alvos da operação Snow; isso porque, para a Polícia Civil, Wellingson foi assassinado por vingança a um atentado e por ele não aceitar fazer parte do esquema de tráfico liderado por Emerson e o cunhado.
As informações foram confirmadas pela família da vítima e reforçadas agora pelos promotores do Gaeco.
Emerson também foi acusado de uma tentativa de homicídio em 2008, mas na fase judicial foi impronunciado e nunca foi a júri pelo crime.
O empresário sempre negou os crimes, o homicídio e o tráfico, mas, preso em flagrante com duas armas no dia 15 de janeiro, alegou carregar as duas há mais de dez anos; que as comprou porque sofreu um atentado 12 anos atrás.
Ainda hoje, ele nega todas as acusações. A coluna procurou a defesa de Emerson, feita pelo advogado Márcio Widal. Em nota, ele alegou que o cliente atua como empresário de forma consolidada e não tem envolvimento com o tráfico de drogas.
Ainda assim, denunciado.
Apesar das tentativas da defesa, nesta semana que passou, o Ministério Público denunciou 21 envolvidos no esquema de tráfico revelado pela Operação Snow. A investigação é extensa e mostra detalhes da participação de todos os nomes listados.
Os denunciados são:
- Joesley da Rosa
- Ademar Almeida Ribas (Pitoco)
- Antônio César Jesuíno
- Claudeir da Silva Decknes (Bidu)
- Diego Fernandes Silva
- Emerson Correa Monteiro
- Felipe Henrique Adolfo
- Gustavo Cristaldo Arantes
- Jessika Farias da Silva
- Lais da Silva dos Santos
- Lucas Rineiro da Silva (Luquinhas)
- Luiz Paulo da Silva Santos (LP ou Soneca)
- Marcio Gimenez Acosta
- Michael Guimarães de Bairros
- Mikeli Miranda de Souza
- Oscar José dos Santos Filho
- Rodney Gonçalves Medina
- Rodrigo de Carvalho Ribas
- Vlandon Xavier Avelino
- Vitor Gabriel Falcão Pinto
- Wilson Alves Bonfim