Contrato de R$12 milhões e barras de ouro ligam empresário e filho de desembargador a esquema

imagem ilustrativa de ouro


Um contrato de R$ 12 milhões e negociações envolvendo barras de ouro reiteram um esquema de venda de sentenças judiciais, em Mato Grosso, investigado pela Polícia Federal, na Operação Sisamnes, deflagrada nesta terça-feira (26).

Barras de ouro eram usadas para negociação entre empresário e filho de desembargador. (Foto: Ilustrativa)

As investigações apontam que o empresário José Pupin, conhecido como o “Rei do Algodão” em Mato Grosso, e o advogado Mauro Thadeu Prado de Moraes, filho do desembargador Sebastião de Moraes Filho, teriam sido favorecidos por decisões manipuladas, em troca de propinas milionárias e favores pessoais.

Mensagens interceptadas mostram o advogado Roberto Zampieri, assassinado em 2023, negociando valores e enviando imagens de barras de ouro ao desembargador Sebastião como parte das contrapartidas pelo esquema.

Além disso, o contrato milionário firmado entre Pupin e Zampieri seria utilizado para financiar propinas destinadas a magistrado, e garantir decisões favoráveis no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

As investigações apontam que o esquema envolvia advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados. Valores eram solicitados em troca de decisões judiciais favoráveis e, além disso, também foram descobertas negociações sobre o vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes de operações policiais.

Diálogos revelam a complexidade do esquema

As mensagens interceptadas no celular de Zampieri são o alicerce das acusações. Em um diálogo com um interlocutor identificado como Valdoir Slapak, Zampieri menciona diretamente a necessidade de “acomodar” o filho do desembargador Sebastião para resolver o processo de Pupin.

Zampieri: “Sebastião pediu vista. Contrataram o filho dele, mas vou desmanchar. O do Pupin acabei de resolver agora, vai julgar na sessão do dia 28/9, e também resolvi com o Des Sebastião. Tive que acomodar o filho dele.”
Valdoir: “Só notícias boas.”
Zampieri: “Tive que acomodar o filho dele. Entendeu essa parte?”
Outro trecho revela como Zampieri articulava os pagamentos necessários para garantir os favores judiciais:
Zampieri: “O saldo era 400, mas aí teve o filho do Velho que eu e você acertamos pagar 200 pra ele, pois ele deixou de atender o filho que estava pedindo em favor do Allan.”

Negociações com barras de ouro

Em novembro de 2023, Roberto Zampieri enviou uma imagem de barras de ouro ao desembargador Sebastião, sugerindo que o item fazia parte de um “acerto”. Em outra conversa, ele menciona que conseguiu um contrato lucrativo para o filho do desembargador, Mauro Thadeu Prado de Moraes, como uma forma de agradar o magistrado e garantir suas decisões.

Zampieri: “Consegui um contrato muito bom para o Mauro.”

A Polícia Federal acredita que as barras de ouro e o contrato de R$ 12 milhões foram utilizados para encobrir os pagamentos de propinas e sustentar a operação do esquema de venda de sentenças.

Medidas adotadas pela operação

Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), foram cumpridos um mandado de prisão preventiva e 23 de busca e apreensão em Mato Grosso, Pernambuco e no Distrito Federal.

Entre as medidas cautelares estão o afastamento de magistrados e servidores públicos de suas funções, instalação de monitoramento eletrônico, além do sequestro, arresto e indisponibilidade de bens e valores dos investigados.

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Desembargadores passaram a usar tornozeleiras eletrônicas. (Foto: Reprodução)

A Operação Sisamnes, batizada em alusão ao juiz persa punido por corrupção, destaca como interesses privados comprometeram o sistema judicial em Mato Grosso. As apurações continuam, e a Polícia Federal acredita que novos desdobramentos poderão trazer à tona mais beneficiários do esquema.

José Pupin e os demais investigados ainda não se manifestaram, enquanto a defesa dos magistrados nega as acusações e afirma que suas decisões seguiram critérios técnicos.

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