Pelo segundo ano consecutivo, não há alegria de Natal em Belém, com os turistas evitando a cidade palestina e muitos residentes buscando uma saída enquanto Israel segue destruindo a Faixa de Gaza e sua população.
A Praça da Manjedoura de Belém, em frente à Igreja da Natividade, está praticamente deserta e as lojas de souvenirs estão fechadas.
Mais uma vez, não há planos de montar a tradicional árvore de Natal enfeitada com luzes no antigo assentamento que é venerado pelos cristãos como o local de nascimento de Jesus e que agora fica na Cisjordânia ocupada por Israel.
“Durante esses tempos difíceis pelos quais nossas cidades palestinas estão passando, especialmente na Faixa de Gaza, é difícil mostrar qualquer sinal de alegria e felicidade”, disse Issa Thaljieh, um padre ortodoxo que ministra na Igreja da Natividade.
Para aumentar a tristeza, muitas famílias cristãs locais também estão procurando fugir, desmoralizadas tanto pela queda do turismo que devastou sua economia quanto pela constante ameaça de violência que paira sobre o território a nordeste de Gaza.
“A emigração para fora de Belém está aumentando diária e mensalmente, e isso tem um impacto negativo sobre a cidade”, disse Thaljieh.
Para piorar a situação, uma operação de Israel em Jenin, terceira maior cidade da Cisjordânia, deixou quatro mortos neste domingo (1º), de acordo com o Ministério da Saúde palestino.
As comunidades cristãs estão em declínio em todo o Oriente Médio há gerações, e a Cisjordânia não é exceção.
No último ano do domínio britânico sobre a região, em 1947, cerca de 85% da população de Belém era cristã. Em um censo de 2017, a população geral de Belém era de 215.514 pessoas, com apenas 23.000 cristãos entre elas, ou pouco mais de 10% do total.
Os locais dizem que a taxa de saída tem ganhado força nos últimos meses no berço do cristianismo, com a força vital econômica da cidade não mais fluindo e a ocupação israelense impedindo a liberdade de movimento no território.
Alaa Afteem, morador de Belém, que administra um restaurante de falafel, disse que um de seus primos havia se mudado recentemente para a Austrália.
“Devido às más condições de vida e às más condições financeiras, as pessoas começaram a procurar melhores oportunidades para seus filhos, para uma melhor educação, para um futuro melhor”, disse ele à Reuters.
“Não há segurança”
Desde a guerra de 1967 entre Israel e os países árabes vizinhos, Israel ocupou a Cisjordânia, que os palestinos querem que seja o núcleo de um futuro Estado independente.
Israel construiu assentamentos judaicos, considerados ilegais pela maioria dos países, em todo o território palestino. Várias autoridades israelenses vivem em assentamentos e favorecem a contínua tomada de território palestino.
A violência aumentou em toda a região montanhosa desde o início da guerra de Israel contra a Faixa de Gaza, em outubro do ano passado.
Centenas de palestinos – incluindo combatentes armados, jovens que atiram pedras e espectadores civis – morreram em confrontos com soldados israelenses.
Difícil na melhor das hipóteses, viajar entre as cidades da Cisjordânia tem se tornado cada vez mais complicado.
“Não há segurança se você estiver se deslocando entre distritos da Cisjordânia, como entre Belém, Ramallah, Jericó e Hebron”, disse Afteem.
Munther Isaac, pastor da Igreja Luterana de Belém, diz que as famílias muçulmanas locais também estão emigrando, pressionadas por problemas financeiros e preocupações mais amplas com o futuro.
“Há o temor de que essa guerra possa se estender às áreas da Cisjordânia, especialmente depois do armamento dos colonos e do anúncio da possível anexação da Cisjordânia”, disse ele.
A Cisjordânia foi transformada pelo rápido crescimento dos assentamentos judaicos nos últimos dois anos, com colonos violentos sobre território palestino ocupado pressionando pela imposição de soberania israelense na área.
O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, de extrema direita, disse no X em outubro que, desde o início da guerra de Israel em Gaza, mais de 120 mil armas de fogo foram distribuídas aos colonos israelenses para protegerem as terras tomadas dos palestinos.
Na igreja de Isaac, o presépio tem uma imagem do menino Jesus deitado em uma pilha de escombros. “Sentimos que essa guerra nunca terá fim”, disse ele.