Matar zumbis faz parte do entretenimento dos fãs de terror.
Ainda bem que, por enquanto, só em filmes, séries, livros e jogos eletrônicos. Do jeito que o mundo anda, com alguns malucos no poder de grandes potências, vai saber se não teremos de usar a experiência adquirida na ficção para sobrevivermos na realidade…
Enfim…
Esse ser morto-vivo foi mudando ao longo do tempo. Nas décadas de 20 e 30, ele era retratado como um escravo de um senhor com más intenções. Uma espécie de sonâmbulo que cometia assassinatos encomendados por quem o controlasse.
Foi assim com Cesare, uma atração de circo comandada por um lunático em “O Gabinete do Dr. Caligari. Ali”, o monstro era a representação do povo alemão após a Primeira Guerra Mundial. Uma analogia aos soldados que são enviados por líderes para matar inimigos nos combates.
Quando os Estados Unidos invadiram o Haiti, em 1915, o cinema foi usado para reforçar a necessidade da invasão ao lançar filmes retratando o vodu como algo mal capaz de controlar pessoas e transformá-las em zumbis.
Ou seja, a religião do mal precisava ser combatida. Em ambos os casos, os zumbis eram coadjuvantes. Os vilões, mesmo, eram seus mestres. Até que o cineasta norte-americano George A. Romero deu o protagonismo a esses seres.
Considerado o fundador do zumbi no gênero cinematográfico, Romero abandonou o zumbi como conotação religiosa e acabou com a subserviência a um mestre.
O zumbi passou a ser independente. E fez isso para retratar a sociedade estadunidense dos anos 60.
Para Romero, os zumbis de A Noite dos Mortos Vivos (1968), com sua fome por carne humana, representavam a América devorando a si mesmo, com a Guerra do Vietnã, o assassinato de líderes importantes como Kennedy e Luther King, o surgimento de vigilantes armados fazendo justiça com as próprias armas.
Foi também uma crítica ao consumismo.
“O zumbi moderno é uma máquina de consumo desenfreado. Um ser voraz que vagueia perpetuamente em busca da próxima refeição”, como afirma o professor doutor Alisson Gutemberg, em suas aulas sobre cinema de terror.
E ao consumir – a carne humana – o zumbi produz novos consumidores.
Essa capacidade de transformar os mortos-vivos em coletivo fez com que o medo crescesse na mesma proporção.
Afinal, um zumbi a gente pode até dar conta. Mas com 50, 100 correndo atrás de você, só Usain Bolt no auge pra escapar.
Aí chegamos no alvo da coluna desta semana. A Sony anunciou o lançamento, para abril, da versão remasterizada de Day’s Gone, um dos melhores jogos de zumbis da história.
O game de mundo aberto foi lançado originalmente em 2018 para PS4. E na época de seu lançamento, inexplicavelmente, flopou. Os erros técnicos com alguns bugs irritaram os críticos e as avaliações negativas interferiram no sucesso do jogo.
Mas vieram as promoções e o boca-a-boca dos jogadores, revelando uma grande horda de admiradores. O jogo é sensacionalmente viciante. E faz com que qualquer bug seja relevado. Eu joguei e me deparei com uns 800.000 inimigos durante o jogo. Encontrei, no máximo, 7 deles presos entre paredes. Um defeito visual pequeno perante a magnitude das paisagens.
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Em Day’s Gone você é Deacon St. John, um motoqueiro que sobrevive num Oregon tomado por zumbis.
Os frenéticos, como são chamados, se dividem em categorias. Desde os mais ingênuos que se deixam ser esfaqueados em ataques furtivos até ex-marombeiros que se transformaram em zumbis difíceis de se matar.
Também há ursos, lobos, pumas, bandidos humanos e as temidas hordas. Você, sozinho, precisa enfrentar dezenas delas formadas por centenas de frenéticos.
Para conseguir, é preciso aliar a sequência da história ao cumprimento de missões encomendadas por líderes de acampamentos de sobreviventes.
A cada tarefa realizada, você ganha créditos e confiança para que itens sejam liberados nas lojas.
Acredite, você não vai querer encarar uma horda sem ter metralhadoras das forças militares ou bombas e armadilhas explosivas.
Aliás, para conseguir fabricar esses artefatos, você precisa pegar os manuais que ficam em bunkers dentro de acampamentos de saqueadores humanos e armados até os dentes.
Esses bunkers permitem que você “durma”. Na verdade, acelere o tempo e troque o dia pela noite ou vice-versa. Essa estratégia de “passar os dias” justifica o nome do jogo é importante para ter sucesso nas missões. À noite, os frenéticos são ativos. Durante o dia, os bandidos é que estão mais em alerta.
Para finalizar, ainda tem um grupo de fanáticos religiosos, os Reapers, que pregam a tese de que ou você se junta a eles ou vai virar comida pra frenético.
A sensação de derrotar a primeira horda é incrível. A adrenalina de estar sendo perseguido de perto por inúmeros zumbis é contagiante. Não é só o controle que treme!
E a busca de Deacon pela esposa, ferida durante o primeiro dia da pandemia que criou os zumbis, é comovente.
Por tudo isso, a expectativa por um Day’s Gone 2 é altíssima entre os fãs. Anúncios falsos enchiam o grupo de esperança.
Até que a Sony conseguiu jogar um balde de água fria com o anúncio não da sequência, mas de um remaster do original..
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Comunidades na internet ficaram revoltadas e há uma infinidade de influenciadores dizendo que não havia necessidade de remaster para um jogo de 2019 e que as mudanças apresentadas não representam uma melhoria significativa no jogo.
Quem tem a versão original vai poder comprar o upgrade por um preço bem acessível. Eu acabei de terminar o jogo. Só o comprei neste ano numa promoção.
E não vi necessidade nenhuma de uma remasterizarão. Mas duvido que seja um mau negócio aproveitar esse jogão com novos gráficos e dinâmicas prometidas no trailer de lançamento.
Então, se tiver dinheiro e paciência sobrando, aguarde pela nova versão em 25 de abril. Caso contrário, fique de olho nas ofertas tanto online quanto de mídias físicas do original.
Eu torço para que essa nova investida da Sony através do Bend Studios, seja só um aquecimento, uma tentativa de aumentar ainda mais os fãs de Day’s Gone.
Para que, em breve, a produção da sequência receba o sinal positivo e os investimentos necessários para superar o primeiro. Só não pode demorar muito.
Já estou faminto como um zumbi de Romero em busca de mais adrenalina.