O professor de História Contemporânea da USP Angelo Segrillo, em entrevista ao WW desta sexta-feira (18), lançou luz sobre um fenômeno histórico que tem moldado as relações entre a Rússia e o Ocidente: a “russofobia”. Segundo o especialista, esse sentimento tem raízes profundas que remontam ao século XIX.
Segrillo explicou que, desde aquela época, existe uma corrente de opinião na Europa que enxerga a Rússia como “mais atrasada, mais selvagem, semiasiática”.
Esta visão, de acordo com o professor, se alinha com o conceito de “orientalismo” proposto por Edward Said, que critica a percepção ocidental de superioridade cultural e econômica em relação ao Oriente.
O uso político da “russofobia” por Putin
O acadêmico ressaltou que o presidente russo, Vladimir Putin, tem habilmente utilizado essa percepção histórica a seu favor.
“Putin pega uma base que existe histórica lá, está lá naquela reserva, e ele amplia isso como se isso fosse a tônica principal das relações com o Ocidente”, afirmou Segrillo, acrescentando que considera tal amplificação um exagero.
Esta estratégia de Putin, segundo o professor, serve para fortalecer um movimento nacionalista dentro da Rússia e justificar certas políticas governamentais.
Ao evocar um sentimento de vitimização histórica, o líder russo busca consolidar apoio interno e criar uma narrativa de unidade nacional contra supostas ameaças externas.