O desmatamento na bacia do Rio Branco, especialmente a ausência de vegetação ciliar, tem amplificado os impactos das chuvas intensas na região, como aponta a pesquisa de doutorado em Ciências Ambientais, do professor e pesquisador Josiel Dorriguette de Oliveira, pela Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso).
Segundo o estudo, com a mata praticamente devastada, a água das chuvas corre com mais velocidade, causando erosão e aumentando os riscos de enchentes. A vegetação ciliar, que deveria proteger o solo e regular o fluxo hídrico, está quase totalmente ausente, o que agrava a vulnerabilidade da bacia e intensifica os problemas ambientais, sobretudo em períodos de precipitação acima da média.
Josiel é pesquisador da bacia hidrográfica do Rio Branco. Ele a bacia de hidrográfico do Rio Branco é uma bacia de cabeceira de drenagem de alto curso, com relevo bastante acentuado e muita declividade.
“Então, quando chove de forma intensa, essa água voa pelos canais de drenagem de forma muito rápida. E tem alguns agravantes. Um deles é que a bacia se localiza em uma região de serras. Outro é que muitos canais de escoamento não têm mata ciliar. Assim, quando a água passa com uma velocidade elevada, quando chega na ponte do Rio Branco, por exemplo, esse volume alto e intenso de água para por ponto de estrangulamento, que dificulta a passagem e o rio transborda”, explica o pesquisador.
Essas características somadas à quantidade inesperada de chuva contribuíram para a situação vista no município de Rio Branco, na terça-feira (14).
“A última enchente que houve, em 2018, o índice registrado foi 106 milímetros na região da nascente. Na madrugada de terça-feira, choveu cerca de 170 milímetros. Uma quantidade de chuva nunca registrada na Bacia. Essas três condicionantes, o volume de chuva que nunca aconteceu, a declividade do relevo e a falta de vegetação, principalmente de mata ciliar, influenciaram no transbordamento do rio”.
O professor explica ainda que o evento pode, sim, estar associado aos fatores climáticos, como o aquecimento global, uma vez que esses eventos extremos eles vêm acontecendo de forma cada vez mais frequente em vários lugares do planeta.
Entretanto, no caso específico do Rio Branco, essas características contribuíram significativamente e, o ponto de estrangulamento na ponte fez com que o rio transbordasse a água invadisse as casas.
“Foram 170 milímetros em menos de 24 horas e era esperado 220 milímetros para o mês, ou seja, 77% do volume esperado para o mês choveu em menos de um dia”.
Outras enchentes
De acordo com o pesquisador, a primeira enchente foi registrada em 1988. Depois teve uma grande em 2006 e outra em 2018. “Mas, essa foi a maior de todas e foi a maior por causa das chuvas intensas”.
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